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Agosto 16, 2013

Elio Gaspari: O capitão Nascimento e Amarildo

Folha de S.Paulo

No Dia dos Pais, o cidadão Wagner Moura lembrou-se dos seis filhos do pedreiro da favela da Rocinha

Wagner Moura foi homenageado durante o Festival de Gramado e dedicou o prêmio que recebeu aos seis filhos do pedreiro Amarildo, sumido desde o dia 14 de julho. Ele foi o inesquecível capitão Nascimento do filme “Tropa de Elite”, um retrato da brutalidade policial, recebido em muitas plateias com aplausos em cena aberta, numa glorificação da tortura. Esse comportamento refletia um momento da demofobia nacional. O governador Sérgio Cabral já defendera a legalização do aborto como um preventivo pacificador das comunidades pobres do Rio de Janeiro: “Pega na Rocinha [onde vivia Amarildo]. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal”. O raciocínio estava estatisticamente errado, foi apenas um grito d’alma. Ocorreu-lhe também murar 19 comunidades com uma barreira de 11 quilômetros. Combatido o projeto, surgiu um derivativo: que tal cercas vivas?

Seria enorme injustiça atribuir a Cabral uma liderança demófoba. Ele apenas refletia um sentimento expresso por muita gente. Afinal, aplaudia-se o capitão Nascimento ao enfiar a cabeça de um cidadão num saco de plástico. Com uma diferença: Wagner Moura representava. Pois foi exatamente o ator quem disse o seguinte em Gramado:

“Lá na Rocinha tem uma família que tem seis filhos que não vão almoçar com o seu pai. Eu sei porque não vou almoçar com meu pai. Ele ficou doente e morreu. Mas eles não sabem. Eu gostaria que as autoridades do Rio de Janeiro, para que esses seis filhos tenham um Dia dos Pais mais feliz, pudessem dar uma resposta, que eles pelo menos soubessem o que aconteceu com o pai deles”.

O que aconteceu a Amarildo? As câmeras da UPP da Rocinha tiveram uma pane e não registraram sua saída do prédio onde estivera detido. Tudo bem, Rubens Paiva fugiu da escolta do DOI e, depois de outubro de 1973, cerca de 40 guerrilheiros foram resgatados no Araguaia por um disco voador albanês.

O secretário José Mariano Beltrame poderia exibir as planilhas que registraram outras panes em câmeras de UPPs. Os GPSs da guarnição não estavam ligados. Novamente: com que frequência a polícia do Rio circula com GPSs deligados? Amarildo teria sido morto por traficantes e seu corpo, levado para um lixão. Qual empresa coletou o lixo da Rocinha?

Amarildo e sua mulher seriam ligados ao tráfico. Demonizar a vítima é coisa antiga: hierarcas da ditadura disseram que Vladimir Herzog tinha ligações com o serviço secreto inglês e o DOI revelou que ele poderia ser emocionalmente instável porque fizera psicanálise. Ademais, confessara sua ligação com o partido comunista.

Wagner Moura vocalizou o grito de um novo tempo. No século 20 matavam-se pobres e comunistas. No 21, quando tantos comunistas ou congêneres estão nos palácios, pode-se parar de matar pobres. Ainda não se sabe quem sumiu com Amarildo, mas as explicações capengas dadas pela polícia embutem a suposição de que a sociedade engole qualquer coisa.

O massacre da Candelária, praticado depois da redemocratização do país, saiu barato para seus autores. Mas Guimarães Rosa ensinou: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Os oito mortos de 1993 encantaram-se na memória brasileira e o papa Francisco lembrou: “Candelária nunca mais”.

Nunca mais?

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