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Agosto 17, 2013

No RJ, nem a polícia aguenta mais a polícia

POLÍCIA CONTRA POLÍCIA NO RIO DE JANEIRO

 Vice

Acordei tarde e de ressaca, fazia frio pacas e o barulho do vento que entrava pelas frestas da janela parecia trazer “Fora, Cabral!” e outras palavras de ordem similares. Não, não era um pesadelo ou sonho alimentado pela onda de protestos. De fato, meu bairro querido de Botafogo Valley estava tomado de uns cinco mil professores grevistas que se dirigiam ao Palácio da Cidade, onde tentariam uma audiência com o prefeito. Não foram atendidos, mas conseguiram dar um nó bonito no trânsito, fechando uma das principais avenidas da zona sul.

Cheguei a ir para a rua dar um confere. Mesmo com uma chuva pentelha, tinha uma galera forte ocupando a rua, a maioria professorinhas do primário. Não marquei muito porque tinha outro protesto para ir no centro.

Na quarta-feira, dia 14 de agosto, completou-se um ano da prisão do líder rastafári Ras Geraldinho, fundador da I Igreja Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil, com sede em Americana, interior de São Paulo. Após várias invasões da Policia Militar e Guarda Municipal, que profanaram seu templo e destruíram seus pés de maconha, um juiz conseguiu condená-lo a cumprir uma pena fechada de 14 anos, sendo que a pena máxima para tráfico (crime do qual foi injustamente acusado) é de 15. Atos pedindo a liberdade do Ras Geraldinho e o fim da guerra às drogas foram convocados no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis.

No Rio de Janeiro, a concentração do ato aconteceu em frente ao campus do IFCS-UFRJ no largo do São Francisco no centro. Lá, foi montada uma “feira de drogas” com cigarros, cachaça, café e remédios tarja preta, dentre outras drogas lícitas. Alguns músicos do “Planta na Mente”, um bloco carnavalesco que faz versões maconheiras de marchinhas de carnaval, colaram e às 16h20 um pequeno grupo saiu em passeata pelo centro.

O Beque Bloc também apareceu, ajudando a fechar ruas e perfumando o centro com um aroma adocicado.

Sempre disse que para organizar uma Marcha da Maconha são necessários apenas dois maconheiros e uma caixa de BIS. Neste mês, aprendi que para fechar uma rua não são precisos mais do que quatro Beque Blocs animados. A primeira parada foi nas escadarias da Alerj, símbolo emblemático da atual insurreição carioca, pois foi lá que o Black Bloc fez sua apresentação ao público, colocando para correr e encurralando a PM. Em seguida, o pessoal partiu para o Tribunal de Justiça, onde, após discursos de advogados e ativistas da Marcha da Maconha, o ato foi oficialmente encerrado. A metade Beque Bloc do ato decidiu seguir até a Câmara Municipal para dar apoio herbífumo à ocupação. Sempre se esforçando para atrapalhar o trânsito o máximo possível.

A Câmara dos Vereadores do Rio está ocupada desde sexta-feira, quando o vereador Chiquinho Brazão foi eleito presidente da CPI dos ônibus que investiga as concessões no monopólio das empresas de ônibus. Brazão foi um dos vereadores que tentou vetar a CPI.

Na hora em que chegamos, começou a rolar uma movimentação da galera para bloquear as saídas laterais da Câmara, uma vez que o Brazão estaria saindo da câmara naquele momento.

Rapidinho, a PM e a Choque chegaram nas saídas e começaram a armar um megaesquema para tirar o vereador de lá. Esse manifestante falou algo do tipo “se essa CPI acabar em Pizza, eu me mato”.

Depois de muita enrolação e uma barricada de escudos policiais montada, Brazão finalmente saiu num carro que foi sumariamente ovado. De lá, me reuni ao Beque Bloc e decidimos ir de metrô ao Largo do Machado, e, de lá, partir para o Palácio Guanabara onde estava rolando um ato “Fora Cabral” e de apoio ao protesto de São Paulo.

Como o Beque Bloc se enrolou muito para sair, quando chegamos a galera já estava de volta ao Largo do Machado. Parece que o Palácio estava todo cercado, então os BBs conseguiram abrir uma brecha e chegar até à frente do Palácio, onde foram reprimidos com bombas, gás e o caminhão-tanque da PM.

Trinta pessoas foram detidas, então, após uma breve plenária, a galera partiu para 9ª DP com o intuito de colocar pressão até que o último companheiro fosse liberado.

Quando chegamos lá, uma galera começou a projetar na parede da delega. A OAB já estava lá e os detidos iam sendo liberados em levas de cinco pessoas, sempre saudadas aos urros.

A Choque também estava lá. Aos poucos, foram chegando cada vez mais veículos, além do caminhão-tanque e do Caveirão.

Foi quando, de repente, uma bomba-relógio explodiu dentro de um carro da Civil estacionado por lá que já havia sido pichado. Parece que ele estava aberto e BBs colocaram nele uma bomba, tipo aquelas que a gente fazia para estourar a privada do colégio.

Então, tudo aconteceu muito rápido. Parece que outros policiais chegaram trazendo um cara que já tinha mandado de prisão por furto e estava no meio dos manifestantes. Os BBs não deixaram barato e ameaçaram invadir a delegacia.

Aí a Choque começou a atirar na direção da delegacia, chegando a quebrar um vidro.

Uma galera fugiu para dentro da delegacia. Enquanto isso, quem foi para as ruas adjacentes foi caçado pela Choque, que jogava bombas de gás indiscriminadamente.

Moradores do bairro xingavam a Polícia, que não deixou barato e xingou de volta, apontando suas armas para os moradores. Numa dessas, um deles fez uma das funções favoritas do policial carioca: apontar a arma em direção a uma favela.

Eles também aproveitavam para dar geral em todo mundo que aparecesse, incluindo a imprensa.

Nessa hora, a Policia Civil, que já estava de saco cheio da truculência e presepadas da Choque, chamou a CORE, que é tipo a BOPE da Civil, só que menos hypada.

Acontece que a CORE não tem armamento não letal (o que não os deixou muito a vontade ali), então, logo eles saíram. No meio tempo em que eles estavam lá, os brutamontes da Choque ficaram pianinho…

Quando vi um cara vestido de Jesus saindo da delegacia, achei que tudo tinha ficado numa relax, numa tranquila, numa boa.

Só que não. A Choque voltou a atacar um pessoal na porta da delegacia. Uma galera se refugiou lá dentro, o que foi uma péssima ideia, porque a fumaça voou toda para lá. Uma inspetora de um metro e meio saiu, pedindo calma para a galera porque ela ia lá negociar a retirada da Choque.

Ela bem que tentou evitar a treta. Mas a Choque passou por cima dela e saiu atirando, inclusive, na direção dela.

A Civil não deixou barato e deu voz de prisão a cinco policiais da Choque, que tiveram de se identificar na delegacia. Logo depois, eles foram embora (não sem antes atirar mais bombas) e a CORE voltou, desta vez, aplaudida pelos manifestantes remanescentes.

Era quase meia-noite quando o último detido foi liberado – a maioria não foi indiciada. Advogados da OAB recomendaram que o pessoal voltasse para o Largo do Machado em grupo, e que de lá fosse embora de metrô, para evitar repressão da Choque, que fazia rondas pelo bairro. Na mesma noite, o Coordenador das Delegacias da Capital, delegado Ricardo Dominguez, intimou o comandante da Choque naquela operação para depor. Ainda que esse delegado não seja dos mais confiáveis (afinal, ele foi condenado a 15 anos por tortura, mas continua na corporação), não tem como não considerar essa uma vitória no fundamental processo de desmilitarização da polícia.

E o Beque Bloc pode voltar para casa cantando “Uh-uh-uh! A Choque vai pra Bangu!!!”.

Aliás…

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