Nota da Rede 2 de Outubro
MEMÓRIA DE 21 ANOS DO MASSACRE DO CARANDIRU
DIA PELO FIM DOS MASSACRES!
Há exatos 21 anos, após uma pequena desavença entre presidiários do pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru se transformar em uma rebelião desprovida de viés reivindicativo ou de fuga, cerca de três centenas de policiais militares invadiram a Cada de Detenção do Carandiru e exterminaram, a sangue frio, ao menos 111 homens desarmados e rendidos.
Mais de duas décadas depois, a antiga Casa de Detenção foi implodida e, no lugar onde jovens pobres, quase sempre negros, foram maltratados, torturados e executados durante décadas, foi erigido o sugestivo Parque da Juventude.  A edificação de um parque para a juventude no lugar de uma unidade de aprisionamento da juventude não significou, no entanto, qualquer alteração estrutural na polÃtica criminal do Estado.
Após todos esses anos, parte dos policiais foi condenada, ainda de forma não definitiva, mas os mandantes do massacre, Fleury e Pedro Campos, seguem intocáveis, como se ordenar uma carnificina fosse dever de ofÃcio…
Para agravar o quadro, o sistema penal que tarda a responsabilizar os policiais envolvidos e livra os mandantes não apenas do Massacre do Carandiru, mas também de todos os demais massacres da nossa história, é o mesmo que serve de moinho de massacrar pobres, enviando, cotidianamente, centenas de jovens pretos e pobres para tentarem sobreviver às condições degradantes do cárcere e aos assédios constantes de agentes públicos, durante e após o cumprimento da pena.
Desde o Massacre do Carandiru, nos dois lados dos muros, os massacres contra a juventude negra só fizeram crescer.
Muro adentro, a população carcerária cresceu mais de 300% desde o Massacre do Carandiru contra aproximadamente 30% de crescimento da população em geral. Hoje são quase 600 mil pessoas presas em celas superlotadas, sem acesso à s assistências médica, social e jurÃdica e sem qualquer oportunidade de estudo ou trabalho.
O recorte racial e de classe segue evidente: mais de 60% da população prisional é formada por pessoas negras e jovens; 90% sequer completaram o ensino médio; cerca de 80% estão pres@s por acusação de crimes contra o patrimônio ou por pequeno tráfico de drogas.
Soma-se ainda o massacre contra as mulheres: nas filas de visita, a revista vexatória perdura, vergonhosamente, como prática estatal para penalizar e humilhar familiares que viajam longas distâncias para visitar o ente querido preso; no sistema prisional feminino, a população cresce em proporções ainda maiores do que entre os homens, com clara criminalização patriarcal da maternidade e da ocupação do espaço público por mulheres.
Fora dos presÃdios, os massacres se multiplicam pelas quebradas e periferias.
Só para ficar entre os mais notórios, registramos a memória dos massacres ocorridos desde o massacre do Carandiru: Candelária e Vigário Geral (1993); Alto da Bondade (1994); Corumbiara e Nova BrasÃlia (1995); Eldorado dos Carajás (1996); Morro do Turano, São Gonçalo e da Favela Naval (1997); Alhandra e Maracanã (1998); Cavalaria e Vila Prudente (1999); Jacareà (2000); Caraguatatuba (2001); Castelinho, Jd. Presidente Dutra e Urso Branco (2002); Amarelinho, Via Show e Borel (2003); UnaÃ, Caju, Praça da Sé e Felisburgo (2004); Baixada Fluminense (2005); Crimes de Maio (2006); Complexo do Alemão (2007); Morro da Providência (2008); Canabrava (2009); Vitória da Conquista e os Crimes de Abril na Baixada Santista (2010); Praia Grande (2011); Massacre do Pinheirinho, de Saramandaia, da Aldeia Teles Pires, os Crimes de junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro (2012), Chacina do Jardim Rosana, Repressão à Revolta da Catraca, Vila Funerária, Chacina da Maré, Itacaré, Viaduto José Alencar em BH, Itapevi (2013)…
Conforme Mapa da Violência (2012), no Brasil, entre 2002 e 2010, o número de homicÃdios de brancos caiu 25,5% ao passo que o de negros aumentou 29,8%. A cada 10 jovens assassinados no Brasil, 7 são negros!
Aos massacres reais somam-se os massacres estruturais: as mesmas periferias, quebradas e favelas alvejadas por balas, porretes e algemas são submetidas a um cotidiano de total descaso, em que falta tudo que é necessário para viver com um pingo de dignidade. Não tem moradia, não tem saneamento, a escola é precária, não tem posto de saúde, o transporte público é ruim e caro, faltam creches, não há opções públicas de lazer, e por aà vai. Quem ousa se organizar contra essas mazelas tem como resposta a violência policial e a criminalização.
Nesse dia, diante desse quadro de terror contra as camadas populares que se reproduz por toda nossa história, relembramos os no mÃnimo 111 que tombaram em 2 de outubro de 1992 e as tantas outras pessoas violentadas pelas classes dominantes por meio do Poder Público, e celebramos a resistência daquelas e daqueles que sobrevivem aos massacres cotidianos e ainda encontram forças para resistir, viver e lutar.
Em tempos de ascensão das lutas populares, afirmamos a presença daquelas e daqueles que não podem mais denunciar a violência do Estado porque tiveram suas vidas ceifadas, e o fazemos ao lado daquelas e daqueles que, igualmente, não podem denunciar os massacres cotidianos, mas que estão vivos e resistem: a população carcerária, esquecida e acuada diante de um sistema violento e letal.
A luta contra o Estado Penal-Militar é parte inseparável das lutas populares: é da união da luta daquelas e daqueles que sofrem na pele a violência imposta pelo Estado e pela burguesia com todas as demais lutas da classe trabalhadora que se firmarão as condições materiais necessárias para construirmos uma sociedade sem massacres, sem grades e sem explorações.
Por uma vida sem massacres, somos tod@s negr@s, pres@s, mulheres, indÃgenas, periféric@s, sem-teto, sem-terra, trabalhador@s!
Contra o Estado Penal-Militar, somos tod@s marginalizad@s!
Adalberto Oliveira dos Santos; Adão Luiz Ferreira de Aquino; Adelson Pereira de Araujo; Alex Rogério de Araujo; Alexandre Nunes Machado da Silva; Almir Jean Soares; Antonio Alves dos Santos; Antonio da Silva Souza; Antonio Luiz Pereira; Antonio Quirino da Silva; Carlos Almirante Borges da Silva; Carlos Antonio Silvano Santos; Carlos Cesar de Souza; Claudemir Marques; Claudio do Nascimento da Silva; Claudio José de Carvalho; Cosmo Alberto dos Santos; Daniel Roque Pires; Dimas Geraldo dos Santos; Douglas Edson de Brito; Edivaldo Joaquim de Almeida; Elias Oliveira Costa; Elias Palmiciano; Emerson Marcelo de Pontes; Erivaldo da Silva Ribeiro; Estefano Mard da Silva Prudente; Fabio Rogério dos Santos; Francisco Antonio dos Santos; Francisco Ferreira dos Santos; Francisco Rodrigues; Genivaldo Araujo dos Santos; Geraldo Martins Pereira; Geraldo Messias da Silva; Grimario Valério de Albuquerque; Jarbas da Silveira Rosa; Jesuino Campos; João Carlos Rodrigues Vasques; João Gonçalves da Silva; Jodilson Ferreira dos Santos; Jorge Sakai; Josanias Ferreira de Lima; José Alberto Gomes Pessoa; José Bento da Silva; José Carlos Clementino da Silva; José Carlos da Silva; José Carlos dos Santos; José Carlos Inojosa; José CÃcero Angelo dos Santos; José CÃcero da Silva; José Domingues Duarte; José Elias Miranda da Silva; José Jaime Costa e Silva; José Jorge Vicente; José Marcolino Monteiro; José Martins Vieira Rodrigues; José Ocelio Alves Rodrigues; José Pereira da Silva; José Ronaldo Vilela da Silva; Josue Pedroso de Andrade; Jovemar Paulo Alves Ribeiro; Juares dos Santos; Luiz Cesar Leite; Luiz Claudio do Carmo; Luiz Enrique Martin; Luiz Granja da Silva Neto; Mamed da Silva; Marcelo Couto; Marcelo Ramos; Marco Antonio Avelino Ramos; Marco Antonio Soares; Marcos Rodrigues Melo; Marcos Sérgio Lino de Souza; Mario Felipe dos Santos; Mario Gonçalves da Silva; Mauricio Calio; Mauro Batista Silva; Nivaldo Aparecido Marques de Souza; Nivaldo Barreto Pinto; Nivaldo de Jesus Santos; Ocenir Paulo de Lima; Olivio Antonio Luiz Filho; Orlando Alves Rodrigues; Osvaldino Moreira Flores; Paulo Antonio Ramos; Paulo Cesar Moreira; Paulo Martins Silva; Paulo Reis Antunes; Paulo Roberto da Luz; Paulo Roberto Rodrigues de Oliveira; Paulo Rogério Luiz de Oliveira; Reginaldo Ferreira Martins; Reginaldo Judici da Silva; Roberio Azevedo da Silva; Roberto Alves Vieira; Roberto Aparecido Nogueira; Roberto Azevedo Silva; Roberto Rodrigues Teodoro; Rogério Piassa; Rogério Presaniuk; Ronaldo Aparecido Gasparinio; Samuel Teixeira de Queiroz; Sandoval Batista da Silva; Sandro Rogério Bispo; Sérgio Angelo Bonane; Tenilson Souza; Valdemir Bernardo da Silva; Valdemir Pereira da Silva; Valmir Marques dos Santos; Valter Gonçalves Gaetano; Vanildo Luiz; Vivaldo Virculino dos Santos…
PRESENTES!
PS. No próximo sábado (5), a partir das 13h30, no Parque da Juventude, estaremos juntos com vários outros movimentos em ato contra o Estado Penal-Militar e em memória aos 21 anos do Massacre do Carandiru. Convidamos a todas e todos que lutam por uma vida desmilitarizada, descriminalizada, livre de proprietários e de patrões, a chegarem junto nessa caminhada!