RIO — Um grupo de escritores brasileiros pretende prestar solidariedade aos professsores em greve no Rio de Janeiro durante a abertura da Feira do Livro de Frankfurt, nesta terça-feira. Autores brasileiros presentes no evento entregarão um abaixo-assinado a autoridades e imprensa. Organizado por João Paulo Cuenca, o documento já tem 21 nomes.
— Num momento grave como o que atravessamos, quando a combinação nefasta de opressão policial e sistema educacional em frangalhos é a escolha deliberada do poder público, estar aqui e esquecer o que acontece aà seria imperdoável — argumenta Cuenca. — a mobilização tem que vir de todos os lados: das ruas, dos escritores, de todo mundo que tem voz.
Cuenca anunciou o abaixo-assinado em seu Facebook. Segundo ele, o texto foi fechado junto com Paulo Lins e Luiz Ruffato “numa viagem de trem entre Colônia e Frankfurtâ€. Também no Facebook, Lins demonstrou seu apoio à iniciativa, afirmando que seria algo “contra a violência policial que é velha na favela e agora, diante das manifestações, pegou as outras classes sociaisâ€.
Com as manifestações que tomaram conta do paÃs desde junho e seguem ocorrendo com frequência no Rio de Janeiro, espera-se um tom polÃtico mais forte nessa Feira de Frankfurt, na qual o Brasil é o convidado de honra.
O escritor afirma que a lista de nomes ainda é parcial e que, “os escritores não encontrados até o meio-dia de amanhã, poderão juntar-se ao manifesto até o encerramento da Feiraâ€. Leia abaixo o texto na Ãntegra:
“Nós, abaixo assinados, escritores brasileiros presentes na Feira do Livro de Frankfurt 2013
1- Apoiamos a greve dos professores no Rio de Janeiro, como parte da luta pela melhoria da qualidade do ensino público no Brasil.
2- Repudiamos a violência policial e pedimos um amplo debate sobre a atuação da polÃcia no paÃs.
3- Não existe cidadania sem educação; não existe democracia sem liberdade de manifestação.
André Sant’Anna
Andrea del Fuego
Beatriz Bracher
Carola Saavedra
Chacal
Daniel Galera
Ferréz
Flavio Carneiro
Flávio Izhaki
Heitor Ferraz
Italo Moriconi
João Paulo Cuenca
João Ubaldo Ribeiro
Joca Reiners Terron
Luiz Ruffato
Marçal Aquino
Marcelino Freire
Mary del Priore
Michel Laub
Nuno Ramos
Paulo Henriques Britto
Paulo Lins
Sérgio Sant’Anna
Tércia Montenegro
Veronica Stigger
A dois dias da abertura da Feira do Livro de Frankfurt, que começa nesta quarta (9), escritores da delegação brasileira dão sinais do tom polÃtico que pretendem imprimir aos debates no maior evento editorial do mundo.
O Brasil é o paÃs homenageado desta edição e terá mais de 70 autores no evento, entre convidados pelo Ministério da Cultura e por suas editoras.
Nesta segunda (7), o escritor João Paulo Cuenca divulgou no Facebook um manifesto a ser entregue para autoridades e imprensa na cerimônia de abertura, assinado, até o momento, por 24 nomes, incluindo Ferréz, Paulo Lins, Sérgio Sant’Anna e Luiz Ruffato –que fará a conferência de abertura.
O texto informa que os signatários apoiam a greve de professores no Rio, “como parte da luta pela melhoria da qualidade do ensino público no Brasil”, e repudiam a violência policial, pedindo “um amplo debate sobre a atuação da polÃcia no paÃs”.
O manifesto, que espera agregar mais nomes até o final da feira, é uma referência à violência que vem marcando os protestos desde junho no Rio –no dia 1º de outubro, a maior manifestação nos últimos meses, iniciada como um ato de professores, terminou com quase 20 pessoas detidas e outras tantas feridas.
“Venho me manifestando há meses e, no último dia 4, num evento em Colônia [parte da programação da homenagem ao Brasil na Alemanha], propus aos meus colegas o abaixo-assinado. Redigimos Luiz Ruffato, Paulo Lins e eu. Não dá para ficar cego ao que está acontecendo no Brasil”, diz Cuenca.
BIOGRAFIAS
Outro assunto que deve ganhar espaço no evento é o debate em torno da obrigatoriedade de autorização prévia de retratados para a publicação de biografias no Brasil.
O assunto voltou à tona depois que, no último sábado (5), a Folha revelou o posicionamento de músicos como Caetano Veloso e Gilberto Gil contra a mudança na legislação atual, que permite a biografados impedir previamente a publicação de uma obra.
No Twitter, o escritor Laurentino Gomes, autor do best-seller “1889” (Globo Livros), disse que tratará do assunto em debate na Feira de Frankfurt, à qual vai a convite de sua editora.
“Nesta quarta, faço apresentação no estande da CBL da Book Fair sobre o sucesso das biografias históricas no Brasil. […] Defenderei mudança na lei brasileira que dificulta a publicação de biografias isentas. Não à s biografias chapa-branca!”, escreveu.
O assunto também deve dominar debate com Ruy Castro, um dos maiores crÃticos aos empecilhos da legislação brasileira para a publicação de biografias, e Fernando Morais, que acontece na sexta.