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Dezembro 19, 2013

Cresce abuso na prescrição de drogas para deficit de atenção

Folha de S.Paulo

“Um desastre nacional de proporções gigantescas”. Foi como o psicólogo Keith Conners, professor emérito da Universidade de Duke, definiu o crescente aumento do diagnóstico do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) em crianças nos EUA.

Conners não é nenhum ativista anti-indústria farmacêutica. Pelo contrário. Ele passou os últimos 50 anos lutando para legitimar o déficit de atenção e a hiperatividade como um problema neurológico real.

Por isso sua declaração, feita em um encontro com psiquiatras em Washington, repercutiu bastante nos EUA e foi mote para uma ampla reportagem no “The New York Times” no último domingo.

Dados recentes do Centro para Controle e Prevenção de Doenças mostram que 15% das crianças americanas em idade escolar já têm diagnóstico de TDHA. Historicamente, estima-se que o déficit de atenção clássico atinja 5% das crianças.

O número de escolares medicados com drogas como Ritalina, Adderall e Concerta passou de 600 mil (em 1990) para 3,5 milhões (2012). A desordem ocupa agora o segundo diagnóstico mais frequente feito em crianças, só perde para a asma.

“Os números fazem parecer uma epidemia. Bem, não é. É um absurdo”, disse Conners, no encontro. “A prescrição de medicamentos está em níveis sem precedentes e injustificáveis.”

Segundo ele, poucas pessoas contestam o TDAH clássico, uma desordem legítima que impede o sucesso na escola, no trabalho e vida pessoal. A medicação, nesses casos, aliviaria a impulsividade grave e incapacidade de concentração.

Mas mesmo defensores do uso da medicação, como Conners, dizem que muitas crianças com “sintomas escassos” de TDHA têm recebido o diagnóstico e a medicação.

O crescimento das prescrições de estimulantes nesses últimos 20 anos coincidiu com uma grande campanha de marketing (muito bem-sucedida, aliás) das farmacêuticas para divulgar a síndrome e promover as pílulas entre médicos, educadores e pais.

As ações de marketing na TV e em revistas populares têm incluído comportamentos infantis relativamente normais, como desatenção, descuido e impaciência, entre os sintomas da desordem.

Um anúncio de 2009 do medicamento Intuniv (Shire), por exemplo, mostrava uma criança tirando uma fantasia peluda de monstro. “Há um grande garoto lá dentro”, dizia o texto.

Muitas vezes, porém, os benefícios relatados da medicação são exagerados, e os riscos, subestimados. Várias empresas já foram autuadas pelo FDA por publicidade enganosa.

 

SUPER-HERÓIS

As farmacêuticas agora tentam falar diretamente aos jovens, segundo a reportagem. A Shire, líder no mercado de estimulantes, recentemente subsidiou 50 mil exemplares de uma revista em quadrinhos que tenta desmistificar o TDHA usando super-heróis que passam mensagens como “os medicamentos podem torná-lo mais fácil de prestar atenção e controlar o seu comportamento”.

Médicos pagos pelas empresas farmacêuticas também têm publicado pesquisas e apresentações que incentivam diagnósticos mais frequentes e colocam em descrédito as preocupações crescentes sobre o excesso de diagnóstico.

Muitos especialistas retratam os medicamentos como benignos _”mais seguros do que a aspirina”, dizem alguns_mesmo sabendo que eles podem causar efeitos colaterais significativos e que estejam regulados na mesma classe de opioides como a morfina por causa de seu potencial para abuso e dependência.

Ao mesmo tempo, grupos de defesa de pacientes, majoritariamente financiados pela indústria, tentam fazer com que o governo federal afrouxe a regulação de estimulantes, tornando o acesso a eles mais fácil.

Os lucros da indústria farmacêutica com esses medicamentos foram quase US$ 9 bilhões em 2012, mais de cinco vezes em relação a uma década atrás, segundo relatório da IMS Health.

OUTRO LADO

Em entrevista ao “NYT”, Tom Casola, vice-presidente da Shire e que supervisiona a divisão de TDAH, disse que a empresa tem como objetivo proporcionar um tratamento eficaz para as pessoas com a doença, e que os médicos são os responsáveis pela avaliação e prescrição adequadas.

Sobre os anúncios agressivos e vetados pela FDA, ele informou que todos os materiais que entram em conflito com as orientações da agência foram substituídos.

Um porta-voz da Janssen Pharmaceuticals, que fabrica do Concerta, disse em e-mail endereçado ao jornal: “Ao longo dos anos, nós trabalhamos com os médicos, pais e grupos de defesa para ajudar a educar os profissionais de saúde e cuidadores sobre o diagnóstico e tratamento do TDAH, incluindo o uso seguro e eficaz do medicação.”

cláudia collucciCláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?” e coautora de “Experimentos e Experimentações”. Escreve às terças, no site.

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