O movimento pela legalização da maconha, para nós, se faz necessário uma vez que o Estado não pode legislar sobre nossos corpos e delimitar o que podemos ou não fazer. Porém, entendemos que o proibicionismo além de ferir nossas individualidades também legitima a morte e encarceramento da população negra e pobre. Para as mulheres se configura no principal motivo de sua prisão.
Somos nós mulheres que ficamos nas piores posições dentro do tráfico e que somos pegas levando a droga para nossos companheiros dentro das prisões, mais uma vez sob uma lógica machista que não só nos subestima como nos submete. Ainda, por não termos liberdade sobre nosso próprio corpo e nossa sexualidade, mulheres maconheiras são muito mais criminalizadas pois associa-se o uso de drogas a nossa “promiscuidadeâ€. De qualquer maneira, em nenhum espaço somos tidas como livres e donas de nós mesmas.
Apesar da chamada “guerra à s drogas†ser tão maléfica para todas as mulheres, o movimento antiproibicionista é majoritariamente masculino e isto não é natural. Nós mulheres fomos construÃdas socialmente para não ocupar os espaços públicos, de poder, de decisão e dentro deste mesmo movimento se torna ainda mais difÃcil devido a falta de debate sobre feminismo, que é algo visto como normal para muitos militantes. O machismo existe em todos os espaços da sociedade, e dentro do movimento não é diferente! Nós mulheres sofremos com a proibição e não conseguimos nos colocar nos espaços de militância contra ela! Nós mulheres não queremos participar só das marchas, queremos pensa-la, queremos ocupar esse debate e temos muito a acrescentar.
Não queremos ter os nossos corpos associados à qualquer tipo de drogas! A emancipação da mulher e a sua liberdade conquistada em relação a seu corpo e sua sexualidade devem ser veneradas, porém devemos tomar cuidados para em certos momentos não acabarmos reproduzindo o machismo. A maioria das imagens que associa a mulher à s drogas são imagens que reproduzem o padrão de beleza heteronormativo e que coloca mais uma vez a mulher no papel de servir ao homem. É menos careta, mas é tão opressor quanto os comerciais de cerveja, pois nos dois casos a mulher é colocada junto a droga para servir um público bem especÃfico, o de homens heterossexuais. Não, nós mulheres somos muito mais que objetos e queremos ocupar espaços muito maiores do que o de propaganda em cima de nossos corpos. Lembrando que essa mesma objetificação do corpo feminino é a que legitima estupros e outras agressões baseada na ideia do corpo submisso da mulher e que tem a necessidade de fornecer ao homem o que ele quiser.
É uma contradição que um movimento que luta pela liberdade reverbere discursos que reproduzem o machismo, responsável por uma mulher ser agredida a cada 5 minutos no Brasil, uma mulher ser estuprada a cada 5 horas na baixada fluminense e os estupros crescerem 250% em quatro anos na cidade de Niterói. Machismo é violência e pode se configurar em morte. Nós, antiproibicionistas, não podemos reafirmar um discurso que mata mulheres, devemos lutar pela liberdade de todas e todos nós!
Mulheres, maconheiras ou não, vamos construir a Marcha da Maconha nas nossas cidades e o movimento antiproibicionista juntas! Vamos ocupar esse espaço porque sofremos com a proibição e porque lutamos pela libertação de todas as mulheres em todos os espaços.
A Marcha da Maconha e todo o movimento pela legalização tem a necessidade de debater todas as opressões, mulheres, LGBT, negrxs, pois lutamos junto a todxs elxs: exigimos que o Estado não interfira na nossa autonomia, que possamos amar a quem quiser e decidir se queremos ser mães ou não, e que o assassinato da população negra e pobre tenha fim já!
Mulheres do Cultura Verde e do Movimento pela Legalização da Maconha
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Por fim fica a sugestão deste vÃdeo sobre ‘Representações de Gênero na Publicidade’:
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