Em tempos em que o povo – mas também o Estado – lembram muito bem que é possÃvel conquistar vitórias nas ruas; em que a PM tem enviado o mesmo número de soldados que de manifestantes para escoltar protestos; em que um inquérito em São Paulo já interrogou mais de 300 pessoas por participarem de atos polÃticos; achamos conveniente dizer umas palavrinhas.
Nosso protesto é pacÃfico
Antes de mais nada, é sempre bom lembrar: a Marcha da Maconha SP é uma manifestação absolutamente pacÃfica. Diferente de outras formas legÃtimas de protesto, a marcha visa – por meio de um ato tranquilo, colorido, lúdico – não interromper o cotidiano da cidade, mas fomentar uma mudança de mentalidade em relação ao paradigma proibicionista das drogas. Afinal, a proibição se sustenta não apenas nas leis, mas nas instituições e na própria sociedade, que reproduz preconceitos, estereótipos e violência.
Com o entendimento de que a guerra à s drogas afeta a todos, usuários ou não, e que combatê-la (no âmbito do debate) é tarefa de todos, convidamos ao ato não só a juventude, mas também as mães, as vovós, e toda a famÃlia para somar no nosso ato, que comporta muitos mundos.
Nóis por nóis
Como um movimento social, acreditamos que as transformações devem vir de baixo pra cima, não o contrário. E também que são urgentes: a cada dia que passa mais pessoas são mortas ou encarceradas por essa guerra falida. E se a mudança deve vir de baixo e deve ser já, é nossa responsabilidade botar em prática, dentro dos nossos limites, aquele mundo que queremos construir.
Na perspectiva da construção da nossa autonomia, nós, os manifestantes, podemos e devemos fazer a segurança do nosso próprio ato. Esse ano faremos um cordão de pessoas, que acompanha as duas laterais da marcha, do inÃcio ao fim. Não queremos a tutela militar tÃpica que a polÃcia cumpre em protestos de rua.
Terrorista é o Estado
Apesar do discurso de que a polÃcia está presente “para fazer nossa segurançaâ€, não é preciso que a gente se alongue muito pra dizer que via de regra a responsável pela violência nas manifestações é a própria polÃcia. Vale lembrar, durante as jornadas de junho, quando mais de cem mil foram à s ruas e a presença policial era Ãnfima, do grito que ressoava “que coincidência: não tem polÃcia, não tem violência!â€
Ultimamente, quando não reprimem com bombas, cassetetes, sprays e balas de borracha, usam de táticas arbitrárias como o “encapsulamentoâ€. Antes que qualquer pessoa supostamente cometa algum delito, a PM impede o direito de livre manifestação, realiza “detenções para averiguaçãoâ€, ilegais práticas que violam a Constituição Federal de 1988.
A Marcha da Maconha tem longa trajetória de luta pelo direito de falar. De 2008 a 2011 fomos censurados, e marchamos pelo direito à livre expressão. Em 2011 a PM promoveu um verdadeiro massacre nas ruas de São Paulo, com chuvas de bombas, balas de borracha, spray de pimenta, cassetetes e dentenões.  Naquele mesmo ano a Marcha da Maconha voltou ainda mais forte e garantiu a sua livre existência com uma belÃssima vitória no STF (Superior Tribunal Federal), que afastou qualquer possibilidade das absurdas proibições à marcha realizadas pelos tribunais inferiores.
Em tempos de votação do PL que tipifica o crime de terrorismo e que limita o direito à livre manifestação democrática, não é só a Marcha da Maconha que está ameaçada. Com apenas uma canetada, todos os movimentos sociais podem acabar enquadrados como terroristas em clara tentativa de calar as vozes das ruas através da criminalização das lutas populares.
Nunca é demais lembrar o papel da polÃcia na produção da violência ontem e hoje, na tortura e extermÃnio de opositores polÃticos durante a ditadura civil-militar, na guerra à s drogas vivida cotidianamente nas periferias das grandes cidades, nas manifestações legÃtimas do povo em tempos de democracia. Terrorista é o Estado!
Cultivar a liberdade para não colher a guerra
A presença ostensiva da PM nos atos, as estrelas estampadas em seu distintivo como prêmio de cada massacre por ela cometida, suas armas “menos letaisâ€, sua tropa de choque e “de braçoâ€, são reflexos da lógica militarizada que se retroalimenta, entre outras coisas, da proibição das drogas. Nós não queremos a reprodução disso em nossa manifestação.
Já basta de guerra.Â
Nós queremos paz, queremos liberdade!
Liberdade de fazer o que bem entendermos com nosso próprio corpo, de nos manifestarmos sem a tutela ou a investigação policial, de andar na rua sem ser preso ou morto, de fazer um franco e qualificado debate com a sociedade, de lutar por dias mais livres.
LEGALIZE JÃ.
Marcha da Maconha São Paulo
Abril de 2014