por Pedro Nogueira, do COLETIVO DAR
Ontem, 26/6, não houve, na Av. Paulista, um ato pedindo a libertação dos presos Fábio Hideki e Rafael Lunsvarghi.
Logo na saída do metrô, policiais militares revistavam passantes. Saindo da boca da estação Trianon Masp, por volta das 18h30, as tropas da cavalaria esperavam. Chamava atenção a sofisticação do equipamento de proteção: cavalos com viseiras transparentes, ou de óculos, e policiais de cima a baixo com armaduras protetivas negras. Dois alemães, trajados com seus uniformes nacionais, se abraçavam ao pescoço do cavalo para uma foto constragedora e alheia ao que acontecia logo à frente. É, afinal, Copa. Das Copas.
Mais adiante, a concentração de policiais não parava de aumentar e cercava os manifestantes no vão do MASP. Uma menina argumentava com o policial que “nós somos todos iguais” e ele apenas balançava a cabeça em negativa. Foi um desses raros momentos em que a PM estava certa, mesmo que involuntariamente. Todas as pessoas que eu encontrava traziam uma tensão amarga no olhar. O ato não podia sair sem que alguém se responsabilizasse. Após o Padre Júlio Lancelotti, testemunha da injusta prisão de Hideki, dar seu nome para o comandante Pignatari como “líder” do movimento, o ato ganhou aval para sair: do vão do MASP para logo em frente. Andar nem pensar.
A manifestação estanque e sem ordem estava esvaziada, temerosa, cercada. Vi muita gente indo embora quando as tropas se rearranjaram e a “manifestação” “foi” “para a rua”. Tantas outras pessoas, ficaram em casa, com medo de ser presas lutando pela liberdade de outros. O clima político em São Paulo é esse precipício.
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E aí que o momento passou a dizer tanto sobre nós e nosso tempo: Polícia por toda parte. Pouca gente, assustados e solidários. No que seria a frente do ato, acumulavam-se fileiras e fileiras da tropa de choque, força tática, cavalaria. Na rabeira, um caminhão enorme do choque fechava a pista protegido por duas fileiras de homens com escudo. A raia central estava cercada por soldados de armadura. O único caminho livre para a marcha era o abismo do vão do MASP. E é isso. Estamos à um passo, ou à um tiro de borracha, dele.
O ato se dispersou confuso e azedo. Todo mundo com medo de ser preso no caminho de saída. “Temos que ir embora, tem muita gente da gente no inquérito”, disse uma militante do MPL antes do fim.
Esse é o clima, esse é o tom, essa é a nota, esse o bloco sem harmonia. Esse o atual estado de coisas da política eufórica do medo. Essa foi mais um noite que um ato foi reprimido sem que qualquer bomba fosse atirada. Porque a repressão é ampla, geral e irrestrita, sofisticada e veja lá, pode até ser “sutil”.
No metrô voltando para casa, chega a notícia – que ainda não confirmei oficialmente – de que o juiz negou o Habeas Corpus para os presos e declarou prisão preventiva. Essa noite, e tantas outras, eles ainda dormirão no duro e no frio. Presos assim, estamos todos um tanto.