No fim do 11º ato Não Vai Ter Copa, dois manifestantes foram presos. Um deles é Fábio Hideki, estudante da USP que foi detido pela PM na Marcha da Maconha de 2010 por portar um cartaz com os dizeres “Não fumo, não planto, não vendo e não condeno. Legalize Já”. Quatro anos, miles de manifestações, um tal de “Junho” e uma Copa depois, Fábio mais uma vez tem a liberdade subtraída pelo Estado policial. Se na Marcha da Maconha a acusação foi de “apologia ao crime”, o absurdo da vez é “associação criminosa” e “porte de explosivo”.
Segundo Fernando Grella, Secretário de (in)Segurança do Estado de SP, Fábio e Rafael, professor de inglês também detido, seriam os “primeiros black blocs presos em flagrante”. Só esqueceram de avisar que Hideki, de apelido Jaspion, não é adepto da tática, conforme histórico e relatos de conhecidos, não estava mascarado ou quebrando bancos e tampouco portava artefatos explosivos. Pelo jeito, “flagar” agora significa outra coisa.
Padre Júlio Lancelloti, que esteve presente no ato, afirmou em sua página no Facebook: “Eu vi. Foi forjado”.
Pedro Ribeiro Nogueira, jornalista que foi espancado e preso pela PM quando cobria um ato do MPL em Junho de 2013, lamenta a prisão do azarado Fábio, relembra o episódio na Marcha da Maconha e reflete sobre o aprofundamento do estado de exceção em tempos de megaeventos.
O Fábio Hideki tem um certo azar. Foi preso numa marcha da maconha em 2009 ou 2010, na época da proibição da marcha (a pré-história é logo ali). Portava um cartaz dizendo “Não fumo, não bebo, não uso drogas, não condeno”. Levaram ele por apologia.
Não o conheço pessoalmente, mas é figura notória em protestos e corredores uspianos, onde também é funcionário. Um desses malucos sangue bom cuca fresca, sempre meio plácido, meio doido. Mas sempre pacífico. O que também, não importa. Hoje nada mais importa pra qualquer coisa. É a política do foda-se e se fodeu, a mesma que tenta incriminar 22 militantes do MPL pelo ato da última quinta-feira.
O estado de exceção se aprofunda. E Fábio percorrerá corredores com falsas testemunhas, sem respostas, sem voz, sem nada. Fábio não será Rafael Vieira, mas serão anos de processos. E ainda dias e dias de detenção injusta, arbitrária e armada. E ele vai só. Com a gente.
Ao que tudo indica, a política do “foda-se e se fodeu”, como define Pedro, aleatoriamente pegou dois manifestantes para dar exemplo. E não é preciso nem mais forjar flagrantes, é só inventar uma historinha mesmo. O vídeo abaixo mostra o momento exato da prisão de Fábio, inclusive a revista ilegal feita pela polícia. Acharam alguma coisa ali em frente às câmeras e testemunhas? Claro que não. Mas, mesmo assim, hoje Hideki viu o sol nascer quadrado pela primeira vez. Prenderam o Jaspion. A fantasia acabou.
+ NESTA QUINTA, às 17h, no MASP, TEM ATO PELA LIBERTAÇÃO DE FÁBIO E RAFAEL