No último dia 15 de julho, usuários e usuárias do Complexo Prates se mobilizaram por transparência e tratamento de qualidade. O evento também protestava contra ameaças e demissões de funcionárias – uma delas, Laura Shdaior, leu o seguinte texto durante o ato e nos cedeu para publicação, o que fazemos com a maior honra e satisfação.
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A gente veio aqui pra fazer barulho onde silenciam a voz do trabalhador e do usuário
A gente veio aqui pra dizer que trabalhadores de ONGs e Organizações Sociais são antes de mais nada trabalhadores do SUS, do SUAS e da RAPS.
A gente veio aqui pra lembrar que o SUS defende o CAPS como o “uma nova clínica, produtora de autonomia, responsabilização e protagonismo”;
e que o SUAS “incentiva o controle e monitoramento de seus equipamentos praticado pelos usuários dos serviços”,
A gente veio aqui pra lembrar a definição de protagonismo da RAPS enquanto “atividades que fomentam a participação dos usuários (…) nos processos de gestão dos serviços e da rede, (…) a apropriação e a defesa de direitos, e a criação de formas associativas de organização”;
A gente veio aqui pra dizer que o exercício desses princípios é função dos trabalhadores e direito dos usuários e que a inibição do trabalho que vai nessa direção é prejuízo para ambos
A gente veio aqui pra dizer que privatização de serviços públicos não significa privatização da política, e por falar em política, a gente veio aqui pra lembrar que nosso trabalho é sim político, porque Redução de Danos não fala só de danos que um certo jeito de usas drogas pode causar, mas também dos danos gerados pelo contexto sociocultural e político em que a gente vive.
A gente veio aqui pra dizer que práticas manicomiais não acontecem só em manicômios e que a gente sabe que isso tudo não acontece só aqui, a gente veio aqui pra dizer que tem gente que confunde militância com ingerência;
A gente veio aqui pra reafirmar a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial, a gente veio aqui pra dizer que uma luta não tem um só responsável nem um só herói, porque luta se faz junto, por isso não termina quando encontram um bode expiatório, e depois outro, e depois outro…
A gente veio aqui pra dizer um monte de coisas, mas principalmente, que a gente não vai nunca deixar de dizer.