Parecia uma noite de verão como qualquer outra em Pequim, quando frequentadores de um bar foram surpreendidos por uma batida policial. Com as saÃdas bloqueadas, todos os presentes foram forçados a fornecer urina para constatar se havia usuários de drogas. Nove dos testados deram positivo e foram presos, cinco deles estrangeiros.
A operação policial, ocorrida há poucos dias, é uma nova ação da chamativa campanha antidrogas implementada pelas autoridades chinesas, que parecem ter como alvo preferencial estrangeiros e celebridades.
Tyrone Siu/Reuters | ||
Ator Jaycee Chan, em 2009; filho de Jackie Chan foi preso após operação antidrogas em Pequim |
Na noite de segunda-feira, a polÃcia prendeu o ator Jaycee Chan, 32, por porte de maconha. Filho do astro de filmes de kung fu Jackie Chan, ele é mais um da série de pessoas do meio artÃstico chinês presas nas últimas semanas pelo mesmo delito.
O que surpreendeu quem estava no bar 2 Kolegas, muito popular entre estrangeiros em Pequim, é que as prisões não se limitaram aos que estavam consumindo ou portando drogas no momento da batida.
“Essas pessoas não foram flagradas comprando ou vendendo drogas”, contou o correspondente da TV australiana ABC em Pequim, Stephen McDonell, que estava no local e também foi forçado a fazer o teste de urina. “Elas foram julgadas por ter, em algum momento do passado, consumido maconha”.
Segundo McDonell, os estrangeiros não tiveram direito a advogado nem sequer a fazer um telefonema. Pelo menos um dos estrangeiros foi expulso do paÃs no mesmo dia da prisão, afirma o jornalista.
Batidas semelhantes ocorreram se repetiram nos últimos meses em outros bares, invadidos por policiais munidos de pequenos frascos para colher amostras de urina. Ao mesmo tempo, as autoridades apertaram o cerco ao mundo dos famosos. Antes de Jaycee Chan, o porte de drogas levou a prisões de pelo menos seis celebridades: um cantor, dois diretores de cinema e três atores.
A caça à s celebridades está sendo vista por gente do meio artÃstico como um recado à crescente indústria do entretenimento chinesa, em forma de intimidação. No último ano e meio, desde a chegada ao poder do presidente Xi Jinping, as autoridades intensificaram a censura à produção local.
O recado deu resultado: na semana passada, um grupo de mais de 40 agências de artistas assinaram um acordo com a polÃcia de Pequim prometendo que não aceitarão gerenciar profissionais com histórico de uso de drogas.
A campanha antidrogas mudou a paisagem de Sanlitun, o bairro favorito dos estrangeiros em Pequim, repleto de bares e lojas sofisticadas. Até pouco tempo atrás, imigrantes africanos circulavam livremente oferecendo drogas.
Num paÃs supervigiado, chamava a atenção a desenvoltura dos traficantes, despertando a suspeita de que eles agiam com a conivência de policiais corruptos. Tudo isso acabou há cerca de dois meses, quando os imigrantes foram recolhidos com violência pela polÃcia, numa ação amplamente noticiada pela imprensa estatal.