Os 22 anos do Massacre do Carandiru foram lembrados em uma manifestação, na noite dessa quinta-feira (2), na capital paulista. A concentração para o ato começou em frente à Estação da Luz. Acompanhado por uma banda, o grupo seguiu em passeata pelas ruas da região central, passando pela sede da Fundação Casa e terminando em frente a um dos prédios da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária. A Polícia Militar estimou que cerca de 250 pessoas participaram do ato.
Além de lembrar os 111 presos mortos, o protesto criticou o sistema carcerário e as políticas de segurança pública em vigor no país. “A ideia do ato é resgatar a memória desse massacre, das violências do Estado e denunciar os massacres da atualidade. Não é só nos presídios, mas também nas unidades da Fundação Casa, com os adolescentes que são espancados cotidianamente”, ressaltou a militante da Rede 2 de Outubro Camila Melo.
A coordenadora e fundadora do movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, relacionou a violência do massacre às mortes nas ações policiais. “Os massacres continuam na periferia. Então, a gente vê uma relação. Porque nós estamos aqui gritando, lutando como mães. As vítimas do Carandiru eram como se fossem meus filhos”, comparou. “A gente sabe quem está sendo massacrado e quem está sendo encarcerado: geralmente é o pobre, negro, periférico. Não existe cadeia nem cova rasa para rico”, acrescentou.
Também militante da Rede 2 de Outubro Ricardo Campelo criticou a situação das prisões brasileiras. “Essa movimentação de diversos coletivos, juntamente com a Rede 2 de Outubro, visa não só a rememorar um massacre do passado, mas chamar a atenção para uma política sistemática de encarceramento no presente. A situação do parque carcerário brasileiro agora, em 2014, é muito pior do que em 1992”, disse.
Esses problemas podem ser agravar, na opinião dele, com a implementação de parcerias com o setor privado. “O setor privado está de olho no parque carcerário para transformar isso em um negócio”, alertou. Segundo ele, com isso, pode haver pressão para o endurecimento na aplicação das penas privativas de liberdade. “Quanto mais presos, mais lucro”, destacou.
No dia 2 de outubro de 1992, a Polícia Militar de São Paulo matou 111 presos em operação para controlar uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo. Conhecido como Carandiru, o presídio inaugurado em 1920 funcionava na zona norte da capital. O local chegou a abrigar 8 mil detentos no período de maior lotação. A unidade foi desativada e parcialmente demolida em 2002.
Em julgamento dividido em quatro etapas, 73 policiais foram condenados pelo massacre, recebendo penas entre 48 e 624 anos de reclusão.
Um grupo de manifestantes realizava um ato nesta quinta-feira (2), na Praça da Luz, Centro de São Paulo, em memória dos 111 mortos no massacre do Carandiru. Segundo a Polícia Militar, cerca de 300 pessoas participavam da manifestação, que começou às 17h. Os organizadores esperavam 2 mil participantes.
A coordenadora e organizadora do movimento Mães de Maio, Débora Silva, afirma que a manifestação é para que o que ocorreu há exatos 22 anos na extinta Casa de Detenção, na Zona Norte da capital, não seja esquecido.
“Nós temos o nosso lema que é: “Os nossos mortos têm voz”. É o grito das mães para não cair no esquecimento, estamos solidárias às mães do Carandiru. A mãe do encarcerado é igual à mãe do policial. A dor da perda é a mesma.”
Débora teve um filho morto nos chamados “Crimes de Maio”, sequência de assassinatos ocorridos em maio de 2006 na Baixada Santista, Guarulhos e na capital. Ela afirma que espera que outros movimentos se solidarizem à causa. “A gente espera ao menos 2 mil pessoas, esperamos que os movimentos tragam o público deles.”
Além do Mães de Maio, outras 16 organizações confirmaram a participação no ato, entre eles o Movimento Passe Livre e a Rede 2 de Outubro. “É dia também de celebrarmos a resistência daquelas e daqueles que sobrevivem aos massacres cotidianos e ainda encontram forças para lutar”, diz o texto sobre o ato.
O massacre
Ocorrido em outubro de 1992, o massacre teve como estopim uma briga entre detentos. O processo tem, ao todo, 57 volumes, 111 apensos e 50 mil páginas. Por conta do número de réus, a Justiça desmembrou o caso em quatro partes ou júris diferentes, correspondentes aos andares invadidos. O critério foi julgar o grupo de policiais militares que esteve em cada um dos pavimentos onde presos foram mortos.
Somados os quatro júris, 73 policiais foram condenados por 77 mortes. Essa diferença de 34 homicídios (do total de 11 mortos) pode ser explicada pelas exclusões ou absolvições pedidas pelo Ministério Público. A maioria em decorrência da suspeita de que detentos feridos com armas brancas tenham sido mortos por companheiros. Eles receberam penas que variam de 96 a 624 anos de prisão.