• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Outubro 09, 2014

Brasil: O CBD, a Indústria e a Mídia

macsss

Growroom

Uma análise na edição #338 da revista Super Interessante. Saiba qual o real interesse e entenda a atuação da indústria farmacêutica na divulgação de informações sobre a maconha e seus “únicos” derivados: o salvador CBD e o maldito THC

Fabrício de Lima*

São Paulo, 3 de outubro de 2014. Nossa mídia não está tão interessada na maconha. Mesmo com a overdose no uso da palavra, o interesse vai além. É financeiro. O domínio de um mercado promi$$or está em jogo. Quem pensa que a enxurrada de reportagens sobre crianças tratadas com CBD importado foi sugerida de forma espontânea por jornalistas engajados pelo Brasil está por fora. Jornalismo não é coisa divina.

A revista Super Interessante [i.e., editora Abril] meia dúzia de vezes estampou o assunto Maconha em sua capa. No número #338 [out/2014], ela se repetiu no formato. Mas mudou o conteúdo. As primeiras reportagens usaram na capa a folha da planta, aquela estigmatizada como o terror da juventude. Sempre igual. Mas agora em outubro ela se superou.

Com o lançamento do filme “Ilegal”, que narra a história da menina Anny e a luta de sua mãe Katiele para conseguir o direito de importar o CBD, a revista teve de novo de tocar no assunto. Sobretudo porque é ela quem assina o filme com um “Super Interessante apresenta: Ilegal”. Primeira vez que a revista coloca seu nome à frente de uma produção cinematográfica. Seguiu a Folha.

Dessa vez, mudou a abordagem. Antes, o tema era uma novidade na luta pela legalização da maconha, sempre contextualizado na história, com infográficos descolados e informativos. Agora, empurrados pelo papo do CBD, comovidos com a história das crianças, e de olho no mercado da maconha legal que tem gerado milhões nos EUA, o barco ideológico aparenta ter mudado de rumo.

Pasmem! Fizeram uma capa com uma folha de maconha feita com comprimidos e pílulas.

Um grafismo inoportuno que mistura natureza com laboratório. É o pleonasmo da estigmação. Após a mídia ter passado anos contando que a folha da canábis era o ícone do mal, da polêmica, do revolucionário [o que já era contraditório] conseguiram ainda associar esse equívoco histórico à indústria farmacêutica. E todo mundo sabe que onde existe remédio, tem doença, e vice-versa. E tudo isso gera dinheiro, publicidade, anúncio na mídia.

No texto da revista, atualiza-se a história da Anny, conta-se em que pé está a luta da guerreira Katiele, as evoluções no bem-estar e saúde da menina. Depois, vem o verdadeiro intuito da matéria. Um grande parágrafo, talvez 30 linhas, sobre o jornalista e diretor do Ilegal, Tarso Araújo, contando, sobre o filme que fez com dois amigos, o projeto Repense. Normal.

Depois disso, o texto descamba para uma chatice burocrática, já encarando a maconha como um remédio, um produto que precisa ser lançado um dia, mas antes é necessário o debate. Explicam-se os caminhos para importar o CBD no Brasil, fala-se um pouco sobre os pacientes, sobre o uso da maconha pelos antigos, mas no todo defende mesmo um remédio, um produto da indústria.

unnamed (1)

Esqueça a Maconha, a planta, o cultivo, a possibilidade de fazer esse remédio em casa, por custos baixos. Esqueça isso. Não interessa para a indústria. Esse assunto não será abordado. “Foi mal, não vai rolar”, como a revista explica em um gráfico estilo organograma daqueles. Pra não dizer que não apareceu a palavra cultivo, uma médica do Uruguai cita em sua frase bem por cima. No pé do texto.

Mas o que a mídia tem a ver com isso?

Os impérios de comunicação no Brasil estão desmoronando. Por isso, dependem extremamente da publicidade para continuarem vivos. E a indústria [farmacêutica, automobilística, de fofocas, entre outras] gera anúncios, seja em páginas de revistas e jornais, ou na televisão, rádio e internet. Antes, eles abocanhavam as verbas públicas quase que toda. Hoje, a democracia é maior nessa área.

E eles estão desesperados.

A mídia busca vender publicidade e a indústria usa isso para emplacar matérias e reportagens com pautas e abordagens favoráveis aos seus negócios. Mas, como? As matérias não saem das cabeças pensantes dos nobres jornalistas? A resposta é: a maioria das vezes, não! Os assuntos são oferecidos aos chefes de reportagem por empresas de Relações Públicas, os chamados PR (leia-se pí ar).

Abraça quem quer. E eles quase sempre abraçam. A preguiça dos jornalistas brasileiros é imensa.

De olho no mercado brasileiro, empresas norte-americanas de CBD já estão atuando no Brasil. Por meio de pessoas que poderiam ser chamadas de lobistas, por defenderem os interesses dessas empresas em nosso País. O discurso delas, geralmente, é aquele de que “temos de começar liberando a maconha medicinal, é uma isca para os proibicionistas, depois o cultivo fica mais fácil”.

Por exemplo. A HempMeds, que já tem domínio .BR e oferece descaradamente o extrato de CBD, contratou a In Press Porter Novelli, uma das maiores empresas de comunicação do País [confira aqui seus clientes]. Desde abril vem emplacando matérias na mídia brasileira. Basta olhar o clipping das reportagens conquistadas pela empresa no Brasil e no mundo.

São muitos os exemplos expostos como troféus pelas empresas de relações públicas em seus sites e dos clientes. Dêem uma olhada aqui, tem até o filme “Ilegal” com link para o canal do youtube da campanha Repense, feita com “recursos doados por 362 pessoas através (sic) do site Catarse.” Do jeito que aparece no site da empresa americana, é tudo a mesma divulgação, todos envolvidos.

katiele

Ah, mas a Super Interessante escreveu que “o caso Anny e o uso medicinal da maconha ganharam espaço em jornais, revistas e programas de televisão em 2014.” Entenderam? Na verdade, a In Press trabalhou pesado para gerar “mídia espontânea” ao principal produto da empresa: o CBD. O caso da Anny virou pauta, o personagem ideal para uma indústria sedenta pelo mercado brasileiro.

Talvez pouca gente tenha percebido como o maconha foi tratada no Fantástico, por exemplo? Como o terreno foi preparado antes para que o CBD chegasse depois com força total. No início, era maconha recreativa, era o papo careta sobre maconha, o estigma maconheiro, os mesmos clichês. Em pouco tempo, o assunto foi sendo direcionado. Um belo trabalho de planejamento midiático.

Talvez por isso seja tão difícil falar em cultivo. Em plantar sua própria maconha, em não precisar recorrer ao mercado dos EUA para importar um remédio que é só uma planta. Com a desculpa que “temos primeiro de pensar no CBD para salvar vidas”, estão entregando o mercado novamente para a indústria farmacêutica. Anti-proibicionistas carregam o mesmo discurso errado muitas vezes.

Não faz sentido ensinar primeiro a comer o peixe e só depois pescar. Parem, reflitam sobre o papel da mídia. Infelizmente, muita gente honesta e idealista acaba trabalhando para os interesses maiores achando que está fazendo o bem, quando o trabalho parece mais o de confundir. Não atacam o ponto principal:

Plante sua própria maconha!

E sobre o que disse uma desesperada mãe, que se o CBD “desse na folha do abacaxi, a gente usava o abacaxi, mas não dá”, a conclusão só pode ser uma: Sorte do abacaxi que não dá CBD. Seria uma planta odiada pela indústria e perseguida pela mídia e seus interesses. Quem duvida?

 

* Fabrício de Lima é jornalista, fotógrafo, já atuou como assessor de imprensa, e membro do Growroom desde sua fundação em 2002.

 

 

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos