COLETIVO DAR
1967 é considerado o ano da consolidação do movimento hippie – e é conhecido também como o Ano da Psicodelia. Foi nesse ano que aconteceu o famoso Verão do Amor e também o festival “Human Be-In”, que juntou pelo menos 30 mil pessoas no Golden Gate Park, em São Francisco, para celebrar a paz e o amor e protestar contra a guerra. Outros eventos culturais e musicais se espalharam pelos EUA e por outras partes do planeta, num ano que também marcou o lançamento dos discos Sgt, Pepper´s Lonely Hearts Club Band ,dos Beatles, The Piper At The Gates Of Dawn do Pink Floyd, Axis: Bold As Love de Jimi Hendrix, Surrealistic Pillow do Jefferson Airplane e o álbum de estreia da Big Brother & The Holding Company, que tinha como vocalista uma braquela com voz de negona chamada Janis Joplin.
E é de 1967 também o lançamento de THE TRIP [A viagem], uma interessante tentativa de retratar esse período através do enfoque em uma viagem de ácido. Rodado em Los Angeles, o filme tem como um de seus principais atrativos o fato de ter sido escrito por Jack Nicholson, que ainda não tinha a fama que se consolidaria dois anos depois com sua atuação no icônico Easy Riders, o que lhe credenciou para uma indicação ao Oscar. A (ótima) trilha sonora fica a cargo da Eletric Flag, creditada apenas como An American Music Band, e a direção e produção é de Roger Corman.
Após um bizarro aviso inicial, com aquele vozeirão típico dos locutores oficiais antidrogas, que alerta sobre os perigos do LSD, o longa inicia mostrando o publicitário Paul Groves jogando para o alto seus problemas conjugais e indo ao encontro de seu amigo John, que lhe servirá como guia e tutor para sua primeira viagem de LSD (tomado em cápsulas) – numa evidente influência das reflexões de ativistas psicodélicos como Timothy Leary, que sempre atentou muito para o contexto no qual se viajava e também defendia a presença de um guia nesses momentos, função que ele mesmo assumiu na iniciação de uma série de personalidades artísticas, políticas e intelectuais.
A partir daí, a narrativa se concentra na peregrinação de Paul por seu interior e depois por partes da cidade, com várias situações em que os usuarios de substâncias psicodélicas certamente se identificarão. Abaixo, o filme completo no youtube (infelizmente sem legendas), e algumas passagens que selecionamos para instigá-los a irem atrás dessa pérola filmada no olho do furacão de um dos períodos mais contestatórios e importantes da cultura alternativa estadunidense.
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O guia (e fornecedor) John (Bruce Dern) inicia seu amigo Paul (Peter Fonda) no mundo lisérgico e aconselha, inspirando-se nos Beatles: Turn off your mind, relax and float down stream [Desligue sua mente, relaxe e flutue rio abaixo].
No filme, as viagens são retratadas visual e musicalmente das maneiras clássicas – clichês, certamente, mas nem por isso menos verdadeiros.
Aqui Paul se maravilha com uma laranja. “O infinito em todas as coisas”, diria o poeta Willian Blake.
“Isso realmente está acontecendo?“, pergunta Paul a seu guia.
Jon salva Paul de uma bad trip.
Mesmo assim ele decide abandonar seu guia e perambular pela noite urbana: aqui ele maravilhado com uma máquina de lavar.
Depois de uma madrugada de sexo psicodélico, Paul tem um diálogo clássico com uma mulher:
Paul – Eu acho que… te amo!
Ela – E a todo mundo mais?
Paul – Sim… amo a todo mundo!
Ela – É fácil agora. Espere até amanhã.
Paul – ??. Eu penso nisso amanhã.