O Instituto de CriminalÃstica (IC) da PolÃcia Civil de Minas Gerais recolheu 50 notas de R$ 2 que circulavam pelo comércio do centro de BH para fazer um estudo. O resultado aponta que 86% delas traziam a presença de cocaÃna. Esse número assustador pode ser justificado não só pelo fato do ritual de consumir a droga muitas vezes envolver cédulas enroladas como canudo para aspirar o negocinho pelo nariz, mas também pelo consumo de pó no Brasil ter mais que dobrado nos últimos 10 anos.
Pablo Marinho, perito criminal e coordenador da pesquisa, conta que as notas foram recolhidas, embaladas separadamente e levadas para o laboratório. “Utilizamos um solvente orgânico que extrai vários compostos, entre eles a cocaÃna que está impregnada na nota. Com um equipamento moderno, conseguimos detectar, identificar e quantificar o nÃvel de cocaÃna que tem em qualquer suporte, entre eles a cédula de dinheiro.†A técnica utilizada chama-se cromatografia lÃquida, que, basicamente, separa os componentes analisados.
Saca o tamanho de um grão de areia? O que foi detectado entre as fibras do papel é menor que isso. “A maior parte da cocaÃna encontrada estava entre 10 e 50 microgramas. É um teor muito baixo. Muito baixo mesmo. Incapaz de provocar qualquer efeito no indivÃduo. É um resÃduoâ€, afirma o pesquisador.
A contaminação não se dá somente quando o sujeito mete a cédula no nariz pra aspirar a droga, mas também quando uma nota encontra a outra – e isso pode acontecer dentro da carteira, no bolso e até no caixa eletrônico.
Percebendo que as notas de R$ 2 circulam muito e ficam frágeis ou amassadas demais com o tempo, os usuários tendem a preferir notas de valores mais alto, com menor circulação, como as de R$ 50 ou R$ 100. “Isso facilita o uso da cédula como artefato para aspirar a drogaâ€, conta o perito. Novos estudos estão nos planos do IC, mas sem data de inÃcio.
Segundo uma reportagem da Folha de S.Paulo, desde 2009 o afastamento pelo uso dos diferentes tipos de entorpecentes feitos com cocaÃna (como crack e merla) cresceu 84,6% no paÃs. Ou seja: o negocinho branco tem tomado proporções gigantescas e muita gente está em casa recebendo auxÃlio-doença do INSS porque não consegue se livrar do vÃcio.
Questiono se 50 notas não é pouco para uma análise mais concreta e Pablo explica que seria logisticamente inviável analisar uma alta quantidade de papel moeda. Ele diz que o objetivo do IC não é realizar “um estudo epidemiológico, mas sim desenvolver tecnologias que possam ser aplicadas na investigação criminalâ€.
Marco Paiva, diretor do IC de Minas, reitera que a pesquisa serviu para incentivar o uso da tecnologia na investigação criminal. “Estamos nos capacitando para comprovar tecnicamente que, em diversas situações, houve o uso ou manuseio de cocaÃna ou outras drogas. A prova técnica tornará as investigações mais robustasâ€, afirma.