• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Março 30, 2015

Internado em comunidade terapêutica: “Mais um mês e eu teria morrido”

Irineu Herreira viveu um pesadelo numa comunidade terapêutica para tratar do alcoolismo
Sob protestos, Governo pretende criar normas para o funcionamento dessas instituições

El País

Quando a família do vigia Irineu Herreira, de 68 anos, encontrou na internet a comunidade terapêutica Voltar a Viver, no município de Cajamar (Grande São Paulo), ficou impressionada com o serviço que o pai, alcoólatra, teria à disposição para se tratar do vício. Seriam oferecidas cinco refeições por dia, uma academia equipada e piscina. Ele dividiria o quarto com mais um dependente em tratamento e teria terapeutas, psicólogos e enfermeiros à disposição. “Brinquei que era um Spa”, conta a filha Rosmary Herreira Jacinto, que assinou o contrato em que se comprometia a pagar 5.400 reais, divididos em seis parcelas, pelos quatro meses de internação do pai.

Mas bastou a família ir embora para o pesadelo do vigia começar. Ele foi levado para um quarto, onde já dormiam outras 11 pessoas, conta ele. Sem cama para todos, foi colocado para dormir na “praia” –expressão usada por presidiários para se referir ao pedaço de chão onde ficam os colchonetes dos novatos, também usada ali. A comida era uma “lavagem”, define ele. O chuveiro eram dois “canos velhos”, um com água quente e outro com água fria. E, às vezes, gritos eram ouvidos vindos de um “quarto de castigo”. Os mais rebeldes recebiam um coquetel de drogas chamado de “Danoninho”: dormiam um dia e uma noite inteiros. A piscina e a academia eram apenas de fachada.

Muita casas terapêuticas funcionam de forma correta, mas relatos de irregularidades nessas instituições sem fins lucrativos não são incomuns. Na maioria das vezes, trata-se de casas ligadas à Igrejas Católica ou igrejas evangélicas, onde os próprios dependentes de drogas, em estágio mais avançado de recuperação, conduzem os demais pelo caminho da abstinência do vício. O tratamento, muitas vezes, é baseado na leitura da bíblia e o consumo da droga é creditado à influência de espíritos malignos. Não há um número oficial de quantas dessas instituições existem no Brasil, mas um Censo de 2011 da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) aponta que são cerca de 1.800. Em 2011, 68 delas foram fiscalizadas pelo Conselho Federal de Psicologia, que apontou que a regra nas comunidades visitadas era o tratamento sem recursos terapêuticos, com uso de castigos, torturas e a imposição religiosa.

Esse tipo de instituição se tornou o centro das atenções no final de 2011, quando o Governo Dilma Rousseff (PT) lançou o programa “Crack, É Possível Vencer”. Desde então, essas entidades, que não faziam parte da rede de atenção aos dependentes de drogas do Governo federal, passaram a ser financiadas pelo poder público. Em 2013, o Governo Rousseff liberou às entidades 82 milhões de reais. Em 2014, o valor subiu para 99,6 milhões, destinado a 375 entidades, que têm, juntas, 8.300 vagas. Órgãos Estaduais e municipais também as utilizam. O Governo de São Paulo, por exemplo, criou o programa Recomeço, em 2013, uma política baseada na parceria com essas comunidades terapêuticas em que a internação à força de dependentes de droga é permitida.

As entidades existem, as famílias as têm como referência em muitos casos e é nossa obrigação regulamentar o funcionamento dessas entidades

Vitore Maximiano, da Senad.

O mar de dinheiro investido nessas parcerias, entretanto, foi depositado sem que elas tenham regras claras de funcionamento, algo que, agora, o Governo federal pretende regular por meio de uma portaria do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas (CONAD), que deverá ser lançada nos próximos meses, apesar da resistência de entidades que abordam a questão das drogas, que veem na medida um incentivo para que o poder público invista mais ainda nelas.

Como não são consideradas unidades de saúde, mas equipamentos assistenciais, já que não são baseadas em regras médicas, elas são fiscalizadas apenas pelas sobrecarregadas vigilâncias sanitárias municipais.

As raras visitas tornam possíveis casos como o da Voltar a Viver, que existia desde pelo menos 2012 e chegou a ter parcerias com o poder público, conta o defensor Raul Carvalho Nin Ferreira, do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo.

Foi o núcleo que, após denúncias, visitou a comunidade em dezembro do ano passado e ouviu relatos de tortura e maus tratos. Dias antes da visita, um grupo de internos havia se rebelado e fugido do local. Irineu viveu o episódio, que ocorreu pouco antes de a família encontrá-lo desnutrido, com pneumonia e uma forte diarreia e retirá-lo de lá. “Se ficasse mais um mês, não teria sobrevivido”, diz. A Justiça mandou interditar a clínica e, quando a Guarda Municipal chegou para cumprir a ordem judicial, encontrou um interno morto. A reportagem tentou contato com a entidade, mas ninguém atendeu os telefones.

“É o fomento a uma política higienista”, critica especialista

T.B

Diante da epidemia de crack nas grandes metrópoles e das críticas de que o poder público tem falhado em resolvê-la, as comunidades terapêuticas passaram a ser vistas como uma alternativa para retirar os dependentes das ruas. A legislação não permite longas internações, no máximo são 90 dias em equipamentos de saúde, graças a uma regra estabelecida em 2001 como resultado da mobilização do movimento antimanicomial, que visa destruir a concepção de segregação dos doentes mentais impostas pelos manicômios. A norma prevê que “a internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes”.

Para muitos críticos, as comunidades se tornaram hoje os novos manicômios. “O Governo tem procurado investir cada vez mais nessas instituições, que pregam o isolamento e a abstinência. É o fomento a uma política higienista, que visa tirar essa população do meio da sociedade”, diz Alessandra Souza, diretora do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS). O Governo, por sua vez, diz que os espaços não são voltados para um tratamento de saúde e, sim, para o acolhimento de pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade e precisam ser retiradas de seus ambientes, explica o secretário Vitore Maximiano, da Senad.

A portaria que o CONAD deve lançar nos próximos meses que traz essas novas regras de funcionamento tem enfrentado o protesto de instituições que abordam o tema da dependência química, como o Conselho Nacional de Direitos Humanos, o Conselho Nacional de Psicologia e o próprio CFESS.

Entre as críticas das entidades está o fato de que as novas regras autorizam a internação por até 12 meses e permitem o “desenvolvimento da espiritualidade”, o que autorizaria, para elas, a imposição religiosa que acontece em muitas unidades. Também não especifica qual a equipe que deve fazer parte desses locais e nem as sanções sofridas em caso de irregularidades. Para o CFESS, o tratamento dos dependentes químicos deve ser feito nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), para onde o viciado vai algumas vezes na semana para passar por atendimento psicológico e permanece em contato com a sua realidade social, e não excluído da sociedade.

“As famílias brasileiras têm, em muitos casos, a comunidade terapêutica como sua referência. A obrigação do Estado brasileiro é regulamentar o funcionamento dessas entidades. O Brasil não pode não reconhecer esse problema. As entidades existem, as famílias as têm como referência em muitos casos e é nossa obrigação regulamentar o funcionamento dessas entidades”, argumenta o secretário da Senad. “Temos que estruturar cada vez mais os serviços brasileiros com abordagens diversificadas.”

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos