A Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), do governo do Estado, suspendeu a circulação de cartuns com crÃticas à “guerra à s drogas†da traseira de 40 ônibus intermunicipais. Segundo os organizadores, o objetivo da campanha “Da Proibição Nasce o Tráfico†– que já passou pelo Rio de Janeiro e traz cartuns de Angeli, Laerte, André Dahmer, Arnaldo Branco e Leonardo – é mostrar que a violência do mercado ilegal, comandado pelo crime organizado, provoca mais mortes que o consumo de drogas.
Para o governo do Estado, no entanto, os cartuns fazem apologia à s drogas. A socióloga Julita Lemgruber, que criou a campanha, conta que contratou uma empresa de publicidade em ônibus para fixar os cartuns nos veÃculos. As peças começaram a circular na última quarta-feira, mas logo a empresa foi pressionada a retirar a campanha de circulação, conforme relatou Julita.
“Uma pessoa do serviço de transporte abordou esse funcionário (da empresa de publicidade) e praticamente o ameaçou. Disse que em São Paulo essa campanha não iria acontecer, que a campanha significa um desrespeito ao policial e ao cidadão, que em São Paulo não querem apologia à s drogasâ€, contou Julita.
Procurada, a EMTU informou que a responsabilidade pelo caso é do Consórcio Intervias, que administra as dez linhas de ônibus que receberam os cartuns. Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, o Intervias informou que “já determinou a remoção das peças†dos veÃculos. “A EMTU não tinha ciência do conteúdo de cartazes relativos à campanha ‘Da Proibição Nasce o Tráfico’, veiculada em alguns ônibus das linhas metropolitanas, o que configura descumprimento de cláusula contratualâ€, diz a nota.
Julita, que já foi diretora-geral do sistema penitenciário do Rio (1991-1994) e ouvidora da polÃcia, afirmou que a suspensão da campanha configura “censura†e disse que acionará a Justiça para que os cartuns voltem a circular na Grande São Paulo.
“Estupidez”
Para a cartunista Laerte, confundir nova polÃtica de drogas com apologia é “estupidezâ€. “A hipótese que está sendo sugerida é um horror, um vexame total. Tudo interrompido em nome de um entendimento completamente errôneo e viciado do que essa campanha está propondo. Falar em apologia ás drogas é uma estupidez”, disse.
As declarações de Laerte foram dadas durante o lançamento da Plataforma Brasileira de PolÃtica de Drogas, na noite desta quinta-feira, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP). No evento foi lembrado um episódio de 2011 no qual o Metrô de São Paulo vetou anúncios do livro “O Fim da Guerra”, de Denis Russo Burgierman, nos trens e estações. O livro, cuja capa trazia desenhos de folhas de maconha, foi considerado polêmico.