Enquanto o Supremo Tribunal Federaldiscute a votação sobre a descriminalização das drogas — que deve ser julgada somente no próximo semestre — ações surgem para estimular o debate entre a opinião pública. Um exemplo é a campanha “Da proibição nasce o tráficoâ€, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que defende a ideia de que lutar contra as substâncias ilÃcitas é um ato prejudicial que demonstrou sua ineficácia.
A campanha conta com o apoio de cartunistas como André Dahmer, Angeli, Leonardo, Arnaldo Branco e Laerte, que já expuseram seus trabalhos em ônibus das cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Mas, tão polêmica quanto o próprio assunto, a campanha foi banida da capital paulista. Conversamos com Laerte para entender melhor o assunto:
A campanha “Da proibição nasce o tráfico†começou no Rio de Janeiro e seguiu para São Paulo, onde durou menos de 48 horas, porque deveria ter sido previamente autorizada, segundo a Intervias, consórcio que opera as linhas de ônibus metropolitanos. A que você atribui essa diferença de recepção entre as duas cidades?
Não se trata de uma diferença entre cidades, trata-se de uma diferença de administrações. No Rio, houve o entendimento de que se tratava de um debate de concepções sobre polÃticas de drogas. Em São Paulo, prevaleceu a recusa a qualquer entendimento, evidenciando um profundo preconceito e obscurantismo — no fundo, um apoio ao status quo, que beneficia o crime e a violência. A acusação de que havia ali “apologia à s drogas†acaba se estendendo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que viu e elogiou a campanha e os cartuns de “Da Proibição Nasce o Tráficoâ€.
Apesar de termos vários setores que apoiam a descriminalização das drogas no Brasil, você acha que a percepção das pessoas sobre o assunto muda quando artistas como você declaram apoio à causa?
O perfil de alguns artistas pode ser percebido como menos conservador em relação a algumas questões. Se Roberto Carlos se manifestasse, por exemplo, o impacto seria muito maior — não por ser mais conhecido ou popular, mas pela associação com polÃticas conservadoras que sempre o caracterizou. Acho que seria excelente se ele entendesse o nosso ponto de vista e apoiasse o fim da proibição que vem sendo praticada.
Você já está acostumada a fazer crÃticas e a tratar de tabus nos seus cartuns, mas como é a sua forma de trabalho quando se trata de uma campanha de conscientização? Tem alguma diferença no processo?
Campanhas exigem peças diferentes das que fazemos em nosso cotidiano profissional. Nestas, costumamos privilegiar a diversidade e a multiplicidade de leituras. Ao contrário, uma campanha exige que as interpretações sejam mais limitadas, em função da eficiência requerida pelas mensagens. É um pouco diferente, mas nada que já não tenhamos experimentado em algum momento das nossas carreiras.
O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) concluiu, depois de um estudo, que a população, no geral, não é familiarizada com a polÃtica de drogas. Ou seja, falta informação. Mas algumas pessoas que são contra parecem já ter uma opinião bem firme sobre o assunto…
Nem sempre “opinião firme†é gerada por informação, ou por informação confiável. A maior parte das opiniões firmes (ou “corajosasâ€, “francasâ€, “sem papas na lÃnguaâ€) que viceja na mÃdia e na vida pública se baseia em preconceitos e deturpações de fatos. O melhor caminho é a promoção de um debate sobre o tema, o mais esclarecedor possÃvel.
Você acha que só informação resolve?
Estamos no campo do debate de ideias. “Informações†são parte desse debate — ao lado de confrontos, argumentações, propostas.
Na sua opinião, o que atravanca o processo de descriminalização das drogas no Brasil?
Acho que a situação de criminalização que vivemos atende a interesses de muitos setores e movimenta quantidades de dinheiro muito grandes. Quem se beneficia disto, hoje, fará tudo para que as coisas não mudem ou que mudem com um mÃnimo de alterações em seu poder.
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