• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Junho 10, 2015

Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá

Cultivando a liberdade, todos crescemos.

Cultivando a liberdade, todos crescemos.

por Danilo Mekari, Coletivo DAR

Quem ama a verdinha de verdade já deve ter pensado em dormir abraçado com sua Maria Joana germinando no vaso, ou decorado o passo-a-passo do cultivo caseiro, ou até sonhado com o grande dia da colheita. Mas aqui no Brasil, plantar cannabis pode ter um preço salgado: o risco de ir em cana é alto – isso se não sobrar uma arma apontada pra sua fuça.

Logo ali, no Uruguai, a realidade é outra, bem mais favorável aos seguidores da ganja. Plantar em casa é um dos três jeitos permitidos pelo governo de se obter a erva, que também será vendida em farmácias ou produzida em clubes de cannabis, ideia que me soa tão simpática quanto o próprio Pepe Mujica dirigindo um fusca de sandália franciscana.

O CLUC é um desses clubes. O nome já diz muito: Cultivando la Libertad, Uruguay Cresce, formado por 45 parceir@s de vida e de luta na capital uruguaia, Montevideo. A paixão pela maconha era apenas uma das razões para eles construírem a cooperativa em conjunto; grande parte dos integrantes pertence a algum coletivo que batalha pela mudança de mentalidade em diversos temas.

cluc4

Quem me conta isso é Martin, um dos integrantes do Proderechos que me apresentou o CLUC. A outra era uma garota muito bacana que não lembro o nome, talvez por conta do infinito baseado que fumamos ali mesmo, no quintal da casa, ao lado de dezenas de pés de maconha.

O Proderechos é um coletivo que surgiu em 2006 e atua em causas que consideram excluídas da agenda governamental e dos espaços de participação popular. Para além da regulamentação da cannabis, o grupo também discute questões como direitos reprodutivos, diversidade sexual e gênero. Recentemente, endossou a campanha No a la baja, que saiu vitoriosa do referendo sobre a diminuição da maioridade penal no Uruguai – onde casamento homossexual e legalização do aborto também viraram leis.

Permear por essas frentes é construir o que eles chamam de “punho único” contra o Uruguai conservador. Martin usa o futebol pra explicar melhor que eu. “Somos um típico camisa 5, aquele volante clássico que hace todo en la cancha: buscamos o diálogo com a sociedade civil, o Estado e os movimentos sociais.”

Dia de colheita: haja seda pra tanto banza...

Dia de colheita: haaaaaja seda!

É até estranho entrar em um lugar daquele sabendo que não se trata de zona rural. Estamos em plena Montevideo e, assim que adentro o clube, vejo centenas de galhos secando, pendurados em uma rede acima da minha cabeça. Mais à frente, outras plantas recém-colhidas estão descansando perto do teto. O cheiro é estupendo, me sinto nadando em um mar de skank.

Ali fora, no quintal, há o espaço das plantas recém-nascidas, outro com os pés do tamanho de um jogador de basquete, já prontos para serem colhidos, e mais uma área, vazia, onde o processo intermediário acontece. A lei uruguaia permite que até 45 pessoas se unam para formar um clube canábico, sendo que cada uma terá direito a colher 480 gramas da erva por ano – ou 20 gê por mês. Tudo isso sob uma taxa de participação mensal de aproximadamente 65 reais. Tá bom ou quer mais?

Corredor de entrada do CLUC: ôôô lá em casa!

Corredor de entrada do CLUC: ôôô lá em casa!

“Estoy realizando un sueño de pibe!”, comemora German, um mano escalado para ser o cultivador do espaço autônomo. Percebo que seu sorriso é quase permanente. Certamente é verdade o que diz. Enquanto tentamos finalizar aquele beck infinito, German me fala do sistema virtual criado pra galera avaliar a qualidade da erva de determinadas sementes e trocar ideia sobre seus efeitos. São várias maneiras de fazer essa classificação: gosto, cheiro, força e intensidade e duração da brisa.

O CLUC já importou sementes da Holanda, Espanha e do Canadá, e German dá uma longa risada ao contar de como isso mudou a dinâmica de fumo do pessoal: muito mais potentes se comparadas às sementes paraguais, as primeiras safras das plantas estrangeiras derrubaram geral.

Varal de ganja: um sonho que se avizinha.

Varal de ganja: um sonho que se avizinha.

Para Martin, os diversos clubes que surgem no país vizinho estão desenvolvendo as melhores práticas de cooperativismo. Vira e mexe há troca de sementes e de ideias sobre como melhorar o cultivo. Até o início de maio, 17 clubes estavam inscritos para conseguir a habilitação formal perante o Ministério da Educação e Cultura (MEC) uruguaio. Enquanto não chega, as plantações e colheitas vão rolando.

Martin e Romina (lembrei seu nome!) acreditam que a lei cumpre o objetivo de regular o mercado, apesar de não trabalhar o consumidor como um sujeito de direitos. “Os distintos modos de produção são muito pouco flexíveis, afetados pela necessidade de controle e paranoia de segurança.”

No último sábado (16/5) foi comemorado o primeiro ano de vida do CLUC.

No dia 16/5 foi comemorado o primeiro ano de vida do CLUC.

Uma recordação verdíssima, deliciosa e que já deixou saudade.

Uma recordação verdíssima, deliciosa e que já deixou saudade.

O CLUC está localizado a poucas quadras do estádio Centenário, palco onde o Uruguai venceu a Copa de 1930. É pra lá que vou, assistir ao clássico montevideano Peñarol e Wanderers, válido pelo campeonato local. Eis que surge como que do nada Josefa Sativa com uma bandeja que poderia ser o presente de aniversário do Bob Marley: pequenos pedaços de bolo de chocolate feito com manteiga canábica, recheado com dulce de leche canábico e salpicado com côco ralado, que caiu mal por ser o único ingrediente sem o gosto de ganja.

Carajo! Que coisa maravilhosa! Me arrependo até hoje de ter comido só dois pedaços. Podia ter virado a bandeja inteira. Antes de nos despedirmos e depois de me presentear com um punhado da erva do CLUC, Martin emendou: “Ahora sí, a partida vai parecer final de Champions League!”.

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos