• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Julho 03, 2015

‘Mundo não acabou depois da legalização da maconha’, diz ex-secretário de Drogas do Uruguai

O Globo

RIO – Ainda é cedo para afirmar se a legalização de produção, distribuição e venda de maconha no Uruguai funcionou, diz o sociólogo que comandou o processo, ao lado do ex-presidente José Mujica. Mas Julio Calzada defende que, apesar do receio da população, o país segue sem crise de segurança ou moral. Ele está no Rio para o evento “Maconha — Usos, políticas e interfaces com a saúde e os direitos”, promovido pela Fiocruz. Pesquisadores da área, além de representantes dos ministérios da Saúde e Justiça e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária participação, desta quarta a sexta-feira, de ampla discussão sobre o tema. Nela, a Fiocruz, órgão de pesquisa em saúde do governo federal, fará um posicionamento público: “a descriminalização de plantio, porte e uso de drogas e a consolidação das políticas de cuidado aos usuários (…) são fundamentais”.

Já é possível ter uma avaliação do processo da legalização uruguaio?

Para avaliar uma mudança tão forte de paradigma, é preciso ter mais tempo. Em três, quatro anos, poderemos dizer qual foi o real impacto da política. Mas já podemos dizer algo muito importante: o mundo não acabou. A maconha está regulada, existem clubes de cannabis, cultivadores domésticos, e não há nenhuma crise no Uruguai, nem de segurança, nem moral.

E isso já pode ser considerado um resultado positivo?

É um avanço significativo. Essa política não vai acabar com o narcotráfico, mas já existem 3.500 pessoas registradas, entre plantadores e clubistas, que não têm vinculação e nem entregam milhares de dólares ao mercado negro.

No início da implantação da lei, a população uruguaia era contrária à medida e até temerosa. Isso mudou?

São medos compreensíveis. Mas não houve nenhuma disparada do consumo por causa da lei (este mês, o Conselho Nacional de Drogas mostrou que 9,3% da população uruguaia usaram maconha nos últimos 12 meses, em comparação a 8,3% em 2011, o menor aumento em 14 anos).

Que dimensões além do consumo estão sendo monitoradas?

Vamos monitorar a saúde, queremos saber se as pessoas são afetadas pelo consumo da maconha; a convivência social; a segurança; a aplicação justa da lei, ou seja, embora a maconha seja consumida em setores de humildes a altos, hoje 99% dos presos são pobres; e, finalmente, a governança política, pois até agora o paradigma global da guerra às drogas era eliminá-las.

Este paradigma já está mudando?

Está pelo menos em discussão. Este paradigma tem como centro a proibição, e pensava-se que isto diminuiria o consumo, mas não reduziu. Houve um efeito perverso. No mundo, são 250 milhões de usuários (de drogas ilícitas) deixados nas mãos de pessoas criminosas. Não se trata de um descriminalização generalizada, mas de uma regulação que permita ao Estado controlar a qualidade e os preços da maconha.

A mudança de governo federal, mesmo sendo partidário de Mujica, teve impacto sobre a política?

Existe uma continuidade. O Instituto de Regulação e Controle da Cannabis está funcionando, os clubes estão crescendo, os cultivadores estão em atividade. Falta ao governo implementar a última fase, de distribuição e venda pelas farmácias (de até 40 gramas mensais de maconha).

Por que a demora?

O Estado tem um processo de licitação em curso. Das 25 empresas que apresentaram propostas, 11 ainda estão sendo avaliadas. A lentidão é porque é um processo muito exigente. As empresas precisam mostrar de onde vem o capital para que indivíduos do mercado negro não produzam legalmente no país. Não estou no governo para dizer quando, mas em breve isso será concluído.

E o que falta para o Uruguai garantir acesso à maconha medicinal?

Ainda não existe a venda. Mas há projetos apresentados para o Ministério da Saúde, e um deles já foi aprovado para pesquisa e produção.

O que foi mais importante no pioneirismo uruguaio: a dimensão do país, o secularismo, as políticas em curso…?

Esta lei se dá como resultado de um conjunto de fenômenos dos últimos dez anos. O Uruguai é muito secularizado; trabalhou para a redução da pobreza, para tornar a sociedade mais equitativa. E, em 2012, havia o aumento da violência. A partir de uma análise disso, um dos aspectos mais pronunciados eram os mercados clandestinos de drogas.

A priori a lei era voltada para reduzir a violência?

É uma lei que em seus enunciados tem a perspectiva da saúde pública, dos direitos humanos, da redução de danos. Mas que se dá em uma análise da segurança. De qualquer forma, saberemos se a lei é boa não apenas se reduzirmos a criminalidade, e sim no conjunto de aspectos. Estudamos exemplos de outros países para construir uma política global.

 

Estudaram o caso brasileiro? O senhor tem uma opinião sobre o julgamento do recurso extraordinário no Supremo Tribunal Federal, que pode descriminalizar o uso de todas as drogas?

É difícil, não é pertinente opinar sobre a realidade interna dos países. Na Argentina, a Suprema Corte estabeleceu jurisprudência que descriminalizou a posse de pequena quantidade; o Chile tem um processo a nível dos municípios, algo raro para a América Latina; no Equador, o Poder Executivo autorizou o porte para consumo pessoal; na Colômbia, há leis no caminho da maconha medicinal; na Costa Rica, outras iniciativas.

Essa pode ser considerada uma tendência latino-americana?

Há uma efervescência de ideias. Estão buscando alternativas que sejam mais humanas. Vivemos 50 anos com uma política inflexível, hermética, que dizia que todos têm que fazer o mesmo, sendo um país de mais de 200 milhões de habitantes, como o Brasil, ou de três milhões, como o Uruguai. O que reivindicamos é que cada país tenha a possibilidade de realizar a política pública de drogas mais adequada de acordo com a sua realidade.

O modelo uruguaio poderia servir de exemplo para outros países?

Não criamos um modelo, estamos tentando um caminho. Não podíamos seguir fazendo o mesmo e esperar resultado diferente. No mundo, não existe modelo, nem mesmo dentro dos EUA: são 24 estados com leis diferentes sobre o uso medicinal. Temos a Assembleia Geral da ONU, em 2016, onde o que será discutido não é se o caminho é regular ou não a maconha, mas sim qual é a melhor forma de regulá-la.

 

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos