AO NÃO SILENCIAMENTO DE VIDAS E MORTES DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS ADULTOS EM SITUAÇÃO DE RUA NO CENTRO DE SÃO PAULO
Muitas vezes quem tem a infância roubada
acaba furtando o futuro de alguém.
Sergio Vaz
Em menos de um ano nós, trabalhadores da rede dos serviços que atendem crianças e adolescentes em situação de rua no centro de São Paulo, nos deparamos com pelo menos 7 mortes de crianças, adolescentes e jovens adultos. Formamos, assim, um grupo de trabalho para ações que visem o não silenciamento dessas vidas e mortes que se concretizam nas ruas. No dia 13 de março de 2015 ocorreu o primeiro ato do coletivo, protagonizado pelos próprios meninos e meninas e seus familiares. O cortejo simbólico representou um importante espaço onde pudemos viver o luto junto com as crianças, adolescentes e jovens, além de denunciar e evidenciar a frequente violação dos Direitos Humanos e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Exatamente um ano depois, no dia 13 de março de 2016, fomos notificados que um adolescente de 13 anos, atendido pela rede, havia sido brutalmente agredido, falecendo pouco tempo depois. O coletivo decidiu, assim, retomar suas atividades, visto que no último ano o contexto polÃtico só retrocedeu e essas vidas e mortes continuam sendo caladas e invisibilizadas.
Todas as mortes envolveram situações de violência fÃsica e/ou abuso de drogas, em especial solventes, como “lançaperfume†e thinnerâ€. Entendemos, assim, que a situação de vulnerabilidade em que os jovens se encontravam foi determinante para o desencadeamento da morte. Esses meninos e meninas tiveram, em suas vidas, seus direitos básicos negados e violados seja pela famÃlia, pela sociedade e/ou pelo Estado. Não foram casos isolados de abuso de drogas ou de violências fÃsicas, e sim uma junção de fatores que a rua impõe como grande risco para essa garotada. Estarem na rua já é por si só uma violência. Essas mortes que se repetem de forma drástica nos impulsiona a reverter esse quadro de invisibilidade dessas crianças que vivem e morrem nas ruas de São Paulo.
É de invisibilidade que falamos quando o Estado continua legitimando, com seu silêncio e pouco caso, que algumas vidas não sejam consideradas dignas de serem vividas, de mortes que não são choradas.
Diante disso nos mobilizamos novamente e já começamos nossas ações! No dia 3 de junho, com concentração as 13h e saÃda prevista para as 14h, será o “Segundo Ato Ao não silenciamento de vidas e mortes de crianças adolescentes e jovens adultos em situação de rua no centro da cidade de São Pauloâ€, que partirá do Vale do Anhangabaú em direção ao local onde nosso adolescente foi cruelmente linchado e assassinado. Vamos novamente criar um espaço de luto junto com a rede de serviços, os familiares e os meninos e meninas que seguem sobrevivendo nas ruas da cidade.
Convidamos também para uma Audiência Pública a ser realizada no dia 21 de junho, à s 17h, na Rua Boa Vista, 200 (auditório da Defensoria Pública do Estado de SP), onde, junto com os jovens, pretendemos denunciar a invisibilidade de suas vidas e mortes a partir da inexistência de uma polÃtica pública pensada com e para eles, além das péssimas condições de trabalho e do sucateamento dos serviços públicos. E, claro, apontarmos novas alternativas e propostas eficazes.
CHOREMOS POR ESSAS MORTES! LUTEMOS POR ESSAS VIDAS! Essa carta é um convite a todos e todas que se mobilizam com as causas dos direitos humanos e da defesa das crianças e dos adolescentes, para participarem desse processo.
Participantes: -Projeto Quixote -Seas Santa CecÃlia -Caps i Sé -Associação Compassiva -UBS República -É de lei – CEDECA Sé -Pivale- Piluz -Exú-Arte -Seas Sé -Creas Sé -Projeto Oficinas -CEDECA Interlagos -Fundação Projeto Travessia -Consultório na Rua -SAE Campos ElÃsios -Fórum Regional de Direitos da criança e do adolescente Sé – Conselho Regional de Psicologia SP – CRP 06 – Defensoria Pública do Estado de São Paulo