• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Junho 13, 2016

Drogas psicodélicas podem ser terapêuticas?

O Estado de S. Paulo

Paula Sacchetta e Maurício Diament

Entre os dias 3 e 5 de junho, aconteceu em Amsterdam, Holanda, a Conferência Interdisciplinar sobre Pesquisas Psicodélicas (ICPR, na sigla em inglês), organizada pela OPEN Foundation. Nos três dias de evento, neurocientistas, médicos, psicólogos, antropólogos, filósofos e outros especialistas apresentaram e debateram a ciência psicodélica em profundidade.

Mas um tema em especial merece atenção: em sua maioria proibidas no Brasil, as substâncias psicodélicas, geralmente associadas a contextos religiosos, recreativos e, às vezes, abusivos, podem ser um caminho para o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas para condições que geram intenso sofrimento e para as quais a indústria farmacêutica ainda não apresentou solução satisfatória.

Na Conferência de Amsterdam, foram apresentados trabalhos sobre o potencial terapêutico de substâncias como o LSD, do MDMA, da ayahuasca, da ibogaína e da psilocibina. Essas pesquisas, porém, não são novidade. Passados alguns anos desde que fora sintetizado pelo químico suíço Albert Hofmann em 1938, o LSD passou a ser intensamente pesquisado por laboratórios de universidades e pela indústria farmacêutica. Anos depois, em 1959, com o isolamento do princípio ativo dos “cogumelos mágicos”, a psilocibina, teve início uma nova corrida científica em direção ao universo dos estados alterados da consciência quimicamente induzidos.

Estas e outras substâncias, como o MDMA, figuravam como grandes promessas e chegaram a ser administradas em tratamentos psiquiátricos e processos psicoterapêuticos, além de servirem como importantes ferramentas para a investigação da própria mente humana e seu ainda misterioso funcionamento.

No entanto, a Guerra às Drogas, política americana instituída pelo presidente Richard Nixon a partir de 1974, interrompeu este caminho. Ao propor “um mundo livre das drogas”, os EUA, a ONU e outros países que aderiram a esta ideologia, proibiram, entre outras coisas, o uso terapêutico e qualquer tipo de estudo com aquelas substâncias.

Segundo a palestra do professor convidado de Harvard, Torsten Passie, no ICPR, entre as décadas de 1950 e 1970, 8 mil trabalhos científicos foram publicados a este respeito, número que despencou a poucas dezenas nas décadas subsequentes devido à malfadada política mundial de combate às drogas vigente até hoje.

Desde o começo dos anos 1990, porém, as pesquisas voltaram a acontecer, exatamente por conta de um estudo liderado por Roland Griffiths, professor do Departamento de Psiquiatria e Neurociências da Universidade John Hopkins, nos EUA, que não por acaso abriu a Conferência apresentando o programa do uso da psilocibina para o tratamento de pacientes com câncer que apresentam sintomas depressivos e de ansiedade, que ele lidera há mais de quinze anos.

O programa da John Hopkins, como tem sido praxe neste campo, não acontece com a administração pura e simples da droga, mas é acompanhado de sessões preparatórias e posteriores de psicoterapia. Foram apresentados relatos de seus pacientes – que mostraram melhora do sofrimento mesmo meses após o tratamento – em que eles afirmam terem “aceitado a ideia da morte” e “se entregado à vida”, abrindo a possibilidade de novas vivências e experiências mesmo atravessando as dificuldades de um câncer muitas vezes em estado terminal.

Robin Carhart-Harris, neurocientista do Imperial College de Londres, apresentou seu estudo sobre os efeitos da psilocibina no tratamento para a depressão em que utilizou imagens dinâmicas do funcionamento cerebral dos pacientes antes e depois da aplicação da substância. Após o tratamento com a psilocibina, pacientes com depressão relataram terem passado a ver a própria vida a partir de uma perspectiva diferente e que voltaram a se sentir como eram antes de sofrerem de depressão.

A ayahuasca foi o tema da apresentação de Dráulio B. de Araújo, professor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande no Norte (UFRN), que falou de seu uso em pacientes com depressão refratária, ou seja, que não responderam a outros tipos de tratamento. Outro brasileiro, o professor de Psiquiatria da UNICAMP Luís Fernando Tófoli, apresentou o projeto de pesquisa que lidera, financiado pelo Ministério da Justiça (SENAD), em que estudará o uso clínico e ritual da ayahuasca no tratamento do alcoolismo. Além de Dráulio e Tófoli, outros três brasileiros apresentaram trabalhos na conferência europeia: Beatriz Labate, Lucas Maia e Mauricio Diament.

Marcela Ot’alora, pesquisadora da Associação Multidisciplinar para Estudos de Psicodélicos (MAPS, na sigla em inglês), falou do uso do MDMA, para o tratamento do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), diagnóstico frequente entre veteranos de guerra. Nos EUA, país onde atua e onde existe um grande contingente desses veteranos, frente a ineficácia das medicações psiquiátricas de uso comum, as pesquisas com substâncias psicodélicas têm se intensificado. Ela mostrou a efetividade da substância acompanhada de sessões de psicoterapia.

O futuro dessa área é muito animador, segundo Amanda Feilding, aristocrata britânica, fundadora e diretora da Beckley Foundation. No último dia da conferência, ela afirmou que as pesquisas tendem a crescer exponencialmente, “fazendo do mundo um lugar melhor para vivermos”. Para ela, “o único jeito de combater a Guerra às Drogas é através da ciência”.

Longe de parecer um Woodstock, a conferência reuniu estudiosos do mundo todo, que, dentro de suas áreas de conhecimento e com elevado rigor ético e científico, apresentaram o que de mais importante vem sendo estudado e comprovado a respeito dessas substâncias que podem representar um novo caminho para lidarmos com a existência humana, seus percursos e seus percalços.

Resta saber se o Brasil, com seu capital intelectual e importante patrimônio etnobotânico, acompanhará o ritmo da ciência em busca de novas fronteiras ou sucumbirá a um recrudescimento da Guerra às Drogas, conforme profetizou o novo Ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra: “o Brasil nunca fez uma guerra às drogas de forma séria…”]

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos