O desemprego é de 3,3%, o terceiro menor entre as maiores metrópoles dos EUA (atrás apenas de Austin e Nashville). A rede de bonde elétrico, a versão local do veÃculo leve sobre trilhos (VLT), chega neste ano a quase 160 km (mais que o dobro do metrô de São Paulo). A venda legalizada de maconha a transformou na “Amsterdã americana”.
Com apenas 670 mil habitantes —equivalente a Santo André (SP)—, Denver, a capital do Estado do Colorado, foi eleita a melhor cidade para se viver nos EUA, no tradicional ranking da revista US News and World Report, de março.
Pela primeira vez, superou favoritas da juventude americana, como Austin e Portland, e as tradicionais San Francisco e Nova York. A pesquisa leva em conta estatÃsticas de segurança, mobilidade, empregos, salário médio e educação.
O prefeito de Denver, Michael Hancock, 47, visitará São Paulo e Rio nesta semana a convite da organização Humanitas360 para participar da “Bienal das Américas”, uma cúpula com vários prefeitos brasileiros, e falar de gestão municipal. Casado com a cantora de jazz Mary Louise Lee, ele diz que ainda vai achar tempo para ouvir música ao vivo no Brasil.
“Trabalhamos muito para virar esse lugar ‘cool’ e atrair de recém-formados que querem abrir seu primeiro negócio a gente que pensa em se aposentar em um lugar seguro e divertido”, diz à Folha.
A resposta de Denver à recessão de 2008 a coloca como um dos melhores casos de volta por cima. Depois de zerar o deficit no orçamento municipal, Hancock priorizou o ambiente de negócios.
“Hoje você cria uma empresa em Denver de forma online, sem papelada, em questão de minutos. Nem todos os empregos surgidos após a recessão são bem pagos, mas saÃmos ganhando ao focar em novas indústrias como aeroespacial, biotecnologia, saúde e serviços financeiros.”
Apesar da economia pujante da cidade, ele reconhece que hoje um recém-formado talentoso “escolhe onde quer morar”. Por isso, defende, “ter bons restaurantes, boa música, ser um bom lugar para caminhar e andar de bicicleta, ter diversos povos, religiões, etnias e uma comunidade LGBT poderosa contam muito”. “Nos últimos cinco anos, 4.000 empresas foram criadas aqui, muitas de gente que decidiu se mudar para cá”, diz.
No segundo mandato, Hancock fala da reforma de US$ 500 milhões (R$ 1,7 bi) da Union Station, a estação que reúne trens, bondes e ônibus. Fala, com orgulho, dos ônibus gratuitos que circulam pelo principal calçadão da cidade, o da rua 16, onde carros são vetados. Em abril, foi inaugurado o VLT que liga o aeroporto internacional ao centro da cidade.
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Michael Hancock, prefeito de Denver, durante entrevista em Nova York, no ano passado |
MACONHA
Para ele, a cidade não mudou tanto desde que a maconha para uso recreativofoi aprovada em plebiscito em 2012. “Não mudou a criminalidade, nem o comportamento, mas agora os cofres municipais e estaduais são beneficiados por uma atividade que não era tributada”, observa.
“A maior diferença é que agora recebemos muitos turistas que querem ver esse experimento aqui, como uma Amsterdã americana. Para nossa marca, foi ótimo.”
CAMPANHA
Democrata e negro, como Obama, o prefeito diz que a campanha presidencial de 2016 lembra muito a de 2008, quando Obama venceu, “onde se continua falando do sonho e da necessidade de renovação da polÃtica”. “Uma ameaça séria ao capitalismo é a crescente concentração de renda. Temos que discutir mais a desigualdade. Obama fala muito nisso e os prefeitos veem isso em primeira mão”, diz.
Sobre o movimento “Black lives matter” (vidas negras importam), que protesta contra a violência policial em todo o paÃs e que já cobrou ações do próprio prefeito, Hancock diz que “os ativistas têm razão e é bom que eles possam falar agora e a sociedade esteja ouvindo”.
Para ele, “temos um longo histórico de uso excessivo de força pela polÃcia e de sentenças desiguais do sistema legal. Precisamos ainda de muitas mudanças para corrigir um sistema desequilibrado e injusto”.