• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Dezembro 20, 2016

Drogas psicodélicas podem tratar Alzheimer e outras doenças mentais

O Globo

‘Terapia psicodélica’ com substâncias como ayahuasca, LSD e psilocibina é alternativa para diversos casos, como a depressão severa

por Ana Lucia Azevedo

RIO – Ao observar células-tronco humanas que originam neurônios proliferarem prodigiosamente em seu laboratório, o neurocientista carioca Stevens Rehen ficou surpreso. Menos pelas células-tronco, cujo estudo é um dos pioneiros no Brasil. E sim pela substância que fez com que elas se multiplicassem, com potencial terapêutico contra a depressão, o mal de Alzheimer e a síndrome de Down. A substância é a harmina, um dos compostos ativos da psicodélica ayahuasca. E o estudo do grupo de Rehen, publicado este mês na revista científica “PeerJ”, um dos mais recentes da nova ciência dos psicodélicos.

Ayahuasca, LSD e psilocibina (composto ativo do chá de cogumelo) são alvo de uma série de estudos médicos em Estados Unidos e Europa. No Brasil, as pesquisas se concentram na ayahuasca, cujo uso religioso é permitido e regulamentado desde 2010. Os psicodélicos acenam com a possibilidade de tratar o hoje incurável, sem causar dependência ou efeitos nocivos, segundo cientistas. Eles têm obtido sucesso no tratamento da depressão severa, do distúrbio de estresse pós-traumático e da dependência química em álcool, nicotina, cocaína e crack.

E, no início do mês, grupos das universidades americanas Johns Hopkins e de Nova York mostraram que uma única dose de psilocibina alivia uma das mais piores angústias que o ser humano pode sofrer, aquela causada pela aproximação inexorável da morte em pacientes com câncer. Oitenta pessoas foram tratadas e três quartos se livraram da depressão e da ansiedade intoleráveis por até seis meses — o tempo que o estudo durou. A pesquisa foi publicada no periódico “Journal of Psychopharmacology”.

— Uma só sessão com psilocibina devolveu a vontade de viver a pessoas muito doentes. Aliviar a angústia de pacientes terminais com a morte que se aproxima é comovente. Não há efeito colateral. Trata-se de um salto enorme na psiquiatria — afirma o neurocientista Eduardo Schenberg, estudioso de psicodélicos e um dos autores do primeiro estudo do mundo a mostrar imagens da atividade do cérebro sob efeito de LSD, como parte de suas pesquisas no Imperial College, em Londres.

Droga não causa dependência

Diretor do Instituto Plantando Consciência, em São Paulo, Schenberg está otimista com os avanços na área:

— Em cerca de cinco anos veremos uma revolução na saúde mental. Há preconceito na comunidade científica, é baseado em mitos, como o de que os psicodélicos viciam. Eles não provocam dependência. E são substâncias tão poderosas que voltaram a ser investigadas em alguns dos maiores centros mundiais de ciência.

No Brasil, os psicodélicos atraem nomes como Rehen, cujo estudo com a harmina foi realizado no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (I’Dor) e no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ. Ele, a doutoranda Vanja Dakic e colegas decidiram estudar a harmina interessados no potencial da ayahuasca contra a depressão e a ansiedade revelado em estudos anteriores de outros pesquisadores brasileiros, com pequenos grupos de voluntários.

— Queríamos entender a bioquímica por trás das alterações na consciência experimentadas por pessoas que tomam a ayahuasca. Ela é usada há séculos pelos índios e consumida pelos seguidores das religiões ayahuasqueiras, como o Santo Daime, a Barquinha e a União do Vegetal — explica Rehen.

Ele e seu grupo viram que, como antidepressivos comerciais, a harmina leva à chamada neurogênese. Mas de forma mais expressiva. Estimuladas com harmina por quatro dias, as células-tronco neuronais aumentaram em 70% o número. A harmina atua sobre uma enzima chamada DYRK1A. Essa enzima inibe a proliferação de células nervosas e está ligada ao cromossomo 21, o mesmo cuja trissomia provoca a síndrome de Down.

— A descoberta abre muitas possibilidades. Sabemos que existe, por exemplo, uma ligação entre a depressão e o mal de Alzheimer. Deprimidos graves correm maior risco de Alzheimer. E a mesma enzima é defeituosa em pessoas com Down — salienta Rehen.

A harmina sequer é a principal substância ativa da ayahuasca, uma infusão de um cipó amazônico com outras plantas. O principal princípio ativo é a dimetiltriptamina (DMT), um psicodélico conhecido e que atrai interesse crescente na comunidade acadêmica. Os psicodélicos interessam, sobretudo, porque atuam sobre o sistema de serotonina, um neurotransmissor ligado ao controle do que somos e como nos comportamos. Está relacionado às emoções, ao humor, ao desejo sexual, à saciedade, à regulação do sono. Deficiências nas vias de serotonina levam à depressão e à ansiedade. Mas não existe um só fármaco eficiente e sem efeitos colaterais capaz de corrigir falhas nesse sistema.

De sobra, existem doenças. A depressão, por exemplo, afeta cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. Destas, só 54% respondem ao primeiro tratamento e 30% não respondem a tratamento algum. Há 100 milhões de pessoas com depressão e sem chance de melhora, destaca Dráulio Barros de Araújo, professor titular do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ele lidera alguns dos principais grupos do Brasil no estudo das propriedades terapêuticas da ayahuasca.

— No caso da ayahuasca, o que fazemos é resgatar um conhecimento milenar de povos da Amazônia. No do LSD e da psilocibina, cientistas dão continuidade a linhas de pesquisa interrompidas nos anos 60 e 70, com a proibição dessas drogas na repressão à contracultura. Até 1965, cerca de 40 mil pessoas já tinham sido tratadas com psicodélicos — observa Araújo.

Ele integra um grupo que estuda o efeito da ayahuasca na depressão severa, sem resposta a tratamento. Em pacientes assim, a depressão traz risco de suicídio. Os primeiros resultados foram animadores. Os pesquisadores dividiram os pacientes em dois grupos de 15 pessoas cada. Um fez uma sessão com ayahuasca. O outro tomou placebo. Num primeiro momento, tanto o placebo quanto a ayahuasca surtiram efeito. Já após sete dias, apenas a ayahuasca mostrava resultado. O estudo prossegue com análises após 21 dias de tratamento com uma única dose.

— Nos interessamos pela ayahuasca porque é sabido que adeptos dos cultos ayahuasqueiros têm baixa incidência de depressão. Pesquisas confirmaram ação terapêutica. — diz Araújo.

Padrões semelhantes aos da meditação

A dependência química é um dos alvos principais da equipe de Dartiu Xavier da Silveira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O grupo investiga a ayahuasca e a ibogaína, um alucinógeno conhecido.

— Pesquisas mostram que a ayahuasca melhora a autoimagem em mulheres com anorexia, diminui transtornos de déficit de atenção. Estamos interessados principalmente em seu uso contra a dependência química. Ela parece ter um efeito consistente contra o alcoolismo. E queremos estudá-la para tratar dependentes de cocaína — diz Silveira, que integra o grupo de pesquisadores do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp.

Segundo ele, há indícios de que os psicodélicos atuam sobre outros neurotransmissores, como a dopamina.

— Fizemos o primeiro estudo do mundo a analisar os efeitos de uma sessão de ayahuasca com eletroencefalograma. E vimos padrões semelhantes aos da meditação profunda, um estado de consciência difícil de alcançar. Uma sessão de ayahuasca vale mais que cem de psicoterapia — diz Silveira.

O psiquiatra Luís Fernando Tófoli, professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), está interessado na ayahuasca no tratamento do alcoolismo. Ele faz parte de uma equipe multidisciplinar que estuda aspectos farmacológicos, psiquiátricos, neurológicos, botânicos, químicos, toxicológicos dentre outros da ayahuasca. A pesquisa envolve Unicamp, USP, UFRN, Unifesp e Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC, na Bahia).

— Estamos interessados em aplicações terapêuticas na depressão, na ansiedade e no abuso de substâncias. Ainda estamos na fase de aprendizado. Há muito o que descobrir, mas os testes até agora são positivos — frisa.

A dose adequada de cada substância, por exemplo, está em aberto. Tófoli acredita que dificilmente a produção de medicamentos psicodélicos interessará à indústria.

— São substâncias de composição química conhecida. E quase sempre serão usadas em poucas doses, por vezes, uma só. Logo, não interessam à grande indústria. Mas podemos ter fitoterápicos padronizados. É fascinante pensar que passamos por uma mudança de paradigma no tratamento de doenças mentais — destaca.

Os cientistas advertem que o uso terapêutico de psicodélicos precisa ter critério e não é para qualquer pessoa. E lembram que, em alguns casos, pode vir acompanhada de vômitos, enjoo e náuseas. E causar reações psicológicas.

— O psicodélico só deve ser usado com um propósito específico e num contexto apropriado — adverte Araújo.

E nem se adequa a todos os pacientes.

— Não é para todo mundo. E é preciso acompanhamento de terapeutas — salienta Silveira.

Araújo acrescenta que só 10% das pessoas que bebem ayahuasca voltam a tomá-la. Trata-se do mesmo percentual das pessoas que saltam de paraquedas e repetem a prática.

— Muitos dos que experimentam um psicodélico consideram esta a experiência mais transformadora de suas vidas. Isso não significa que seja fácil ou que desejem repeti-la — diz.

Schenberg explica que nem sempre a expansão da consciência e a viagem interior promovida pelos psicodélicos são as esperadas.

— A experiência é transformadora. Altera a personalidade e a percepção de mundo. Mas não quer dizer que seja fácil. Os psicodélicos são uma ferramenta poderosa para estados de expansão da consciência. Mas devem ser usados com cuidado e respeito. Usar recreativamente psicodélicos é o mesmo que surfar com tubarões. O inconsciente emerge e nem sempre é agradável. Medos e ansiedades podem aparecer — adverte Schenberg.

Dráulio Araújo está otimista com as possibilidades terapêuticas dos psicodélicos:

— Não será uma luta como a travada para descriminalizar o uso medicinal da maconha. Os psicodélicos têm se mostrado seguros, não viciam. Têm um espaço a conquistar na psiquiatria e podem beneficiar muita gente.

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos