Por Coletivo DAR
Olha essa bomba na cabeça dos puliça: a Craco Resiste (movimento social parceiro do DAR) fez um dossiê com várias imagens que mostram a violência bruta que as pessoas que vivenciam a Cracolândia sofrem de forma sistemática e ininterrupta.
Denominado “Não é confronto, é massacre” o site feito só para a apresentação do dossiê mostra 12 vídeos, frutos de um monitoramento feito de dezembro de 2020 até março de 2021. As cenas – protagonizadas pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo – são absurdas. Uma bomba jogada em cima de uma pessoa agachada no chão, soco no peito e escopeta apontada para quem está na fila do banheiro público, bombas, balas e todo tipo de violência sem justificativa ou motivo.
Além disso, o site-dossiê traz dados coletados através da Lei de Acesso à Informação mostrando o desperdício de recursos públicos com essas operações. Além de covardes, de não resolverem qualquer problema e de extremamente violentas, são MUITO caras. Em um só dia foram gastos mais de R$14 mil só em bala de borracha e bomba de gás lacrimogênio.
Quem tá no território já sabia de tudo isto, a Craco Resiste denuncia estas violências há muito tempo, mas a diferença agora é que conseguimos provar: não tem mais como o poder público dizer que estamos exagerando ou que é desvio de conduta de um ou outro agente. Fica mais que óbvio que essas violências, que acontecem de forma sistemática e constante, são uma política pública dos governos municipal e estadual.
Esta política de Estado além de desumana, é cara e ineficiente ” afinal, ninguém sai da rua ou para de fumar crack porque apanhou. Aliás, muito pelo contrário: as violências estruturais pelas quais essas pessoas passam a vida toda (não à toa a população que ali é majoritariamente negra), muitas vezes são o que as levam pra lá.
O que o movimento espera não é a punição de algum agente específico. Como abolicionistas penais, não acreditamos na punição, no sistema penal e nem na individualização de questões estruturais. Esperamos que, no mínimo, o massacre cesse. Se não for pela força da burocracia mobilizada desde que o dossiê se tornou público – rolou denúncia pro Ministério Público, pra ONU, pra Comissão Interamericana -, que seja pela campanha pra que omoradores da região continuem a filmar o que acontece por lá e enviar pra Craco Resiste.
Quando o Dória construiu vários prédios em torno da Cracolândia, falando que os moradores iriam ajudar a afastar o fluxo dali deu mais um tiro no pé: eles acompanham o cotidiano de violência, filmam e mandam pra gente denunciar, toma mais essa! Se cuidem vermes, que cada janela pode estar observando suas violências. Tamo de olho!