Por Maria Soloína
A autonomia, as redes de apoio e cuidado, as trocas e a difusão de conhecimentos me parecem essenciais. Seja pra plantar maconha e caminhar em direção à autonomia sobre o próprio consumo, seja pra mudar esse mundão que tá precisando. A partir de um trabalho final para o V Curso de Cannabis Medicinal da Unifesp, compartilho meu atual jeito de plantar maconha.
As formas de cultivo se transformam com o tempo e se adaptam à nossa realidade: financeira, social, de tempo, de possibilidade de dedicação, de espaço, de (acesso ao) conhecimento, conjuntura, vizinhos, etc. Atualmente tenho pouco tempo para me dedicar ao grow, mas já tenho certa prática e mais estabilidade financeira para alguns investimentos que demorei anos para fazer. Acho que cheguei em um jeito que funciona para mim (agora), mas está longe do ideal – não é totalmente orgânico e nem ecológico, por exemplo. É resultado de um processo de conhecimentos práticos, transmissão de conhecimentos orais entre jardineires, pesquisas em fóruns e alguns poucos estudos, mas como acredito que todo conhecimento tem sua potência achei válido compartilhar.
Existem muitas formas de plantar, todas com possibilidades e conhecimentos incríveis e adaptáveis de formas diferentes à muitas realidades. Não existe fórmula mágica, colher bons frutos é questão de dedicação, trocas, aprendizado e muita adaptação e gambiarras. O sonho é multiplicar jardineires, sabendo que cada ume vai fazer de um jeito diferente e isso é ótimo, se rolar troca de conhecimentos melhor ainda.
Importante: não seja exigente demais nem consigo mesmo e nem com as plantas. Faz milhares de anos que existe cultivo de maconha, ele já mudou muito, tem muitas formas, mas em todas elas algumas plantas morrem e erros acontecem. Aqui vai uma dica das boas: em coletivo é mais fácil, gostoso e transformador. Chega junto de movimentos sociais, associações de cultivo, redes de pessoas firmezas porque em coletivo os cuidados e as transformações são possíveis. Além de serem muito potentes para aprendizagem e trocas de conhecimento, esses espaços possibilitam a construção de uma rede de cuidado: seja do ponto de vista de reflexão sobre formas de usos, plantio e extração, mas também sobre cuidados jurídicos/saúde/auto-cuidado/rede/etc. E porque é preciso transformar a realidade.
SEMENTES
Qualquer semente que tiver disponível serve pra começar, inclusive as sementes de prensado são ótimas, fortes, resistentes e com boa produção. Até porque no começo é possível que não acerte tudo, então investir em sementes de cara pode não ser uma boa. Se não conhece ninguém que planta pra te doar clone ou semente, plante do prensado! Problemas da semente do prensado: não são feminilizadas, ou seja, pode virar uma planta macho*, mas é a minoria e é só prestar atenção para tirar de perto das outras caso cresça algum boy lixo por aí.
* O que fumamos, fazemos haxi e produzimos o óleo é como se fosse a flor[1] da maconha, que só as plantas fêmeas produzem, e elas a fazem exatamente para atrair o pólen da planta macho. Se nasce um macho e poliniza a fêmea, ela para de produzir os tricomas (que é o que queremos), e passa a produzir sementes. É relativamente fácil identificar: as fêmeas dão um pestilo branco (fiozinho que nasce entre o caule e o tronco) e as machos dão umas bolinhas, que é onde armazenam pólen. Viu que é macho? Joga fora, planta numa praça, faz qualquer coisa que deixe ele bem longe das outras, a não ser que queira sementes.
Particularmente, prefiro plantar de clones (mais pra frente mostro um esquema de clonadeira), porque acelera a colheita, não tem custo (como comprar sementes), além de ter maior controle de genótipo e fenótipo – que é relevante para o uso medicinal (aprendi essa na aula 16 do V Curso de Cannabis Medicinal da Unifesp).
GERMINAÇÃO
Precisa: sementes, papel toalha, pote escuro com tampa (tipo tapewear de cozinha) e água filtrada.
Tem várias técnicas diferentes, aí vai a que uso:
Coloco um papel toalha molhado (água do filtro) no fundo de um pote, outro pedaço de papel toalha seco por cima (que vai ficar molhado tbm, mas vai evitar que fique encharcado) e as sementes jogo por cima – lembrar de tentar não encostar a mão na semente pq a gordura da sua mão pode zuar ela. Deixar em lugar quente (tipo um armário)
Abrir o pote duas vezes por dia para trocar o ar e ver como está. Varia muito de semente pra semente, então não desiste antes de dez dias, mas geralmente até uns 7 dias já rolou.
Se passou uma semana e não deu nada de broto deixa a semente 24 horas num copo de água filtrada e tenta de novo.
Quando tiver cerca de 1 cm de radícula (pequena raiz branquinha) já pode colocar no vaso. Coloca com a raiz pra baixo e a semente pra cima, que ela vai buscar o sol/a luz e vai ser sucesso.
VASO/ TERRA
Têm muitos tipos de preparo, desde o “no-till” que é um solo totalmente orgânico que você vai usar um só vaso grande para recriar um ambiente mais próximo possível no natural dentro do grow, até os solos inertes ou aquaponia, onde tudo o que a planta precisa vem de nutrientes que você coloca na rega. E entre estes extremos tem um universo de possibilidades de substrato pro plantio, cada um vai descobrindo o melhor no seu caso, no seu momento… como quase tudo na arte do cultivo: não tem jeito certo e quase qualquer jeito é melhor do que pagar caro no prensado. Eu uso, no mínimo, terra, perlita e calcário (minhas atuais plantas estão só com isto porque foi o que deu no momento). Humos de minhoca, as próprias minhocas e areia também acho muito importante e tento sempre ter.
Uso Terra porque acredito que ela é sábia, ajuda a regular o PH – acho que em substratos inertes o controle do ph tem que ser muito mais preciso para as plantas não sofrerem. Mas outro motivo bem relevante pra mim é que usando terra posso reutilizar o substrato com outros tipos de planta depois que acaba o ciclo da maconha (elas adoram). Quando usamos nutrientes externos/industrializados é melhor trocar o substrato depois da colheita para não correr o risco da próxima planta sofrer com os resquícios que ficaram na terra. O solo inerte é mais difícil reaproveitar, eu acho.
Perlita porque as raízes da maconha precisam de espaço pra respirar (tem outras coisas, como chips de coco, que podem substituir). A perlita parece um isopor e também ajuda a deixar o vaso leve. É bem cara se comprar de pouca quantidade, mas se comprar saco de 100 litros em loja de pecuária ou de grower sai bem mais barato e dura por vários cultivos (para mim pelo menos). Usei chips de coco durante anos e tem resultados tão bons quanto (mas tem que ser o chips, que vem com uns quadradinhos de coco mesmo, aqui ensina como faz), mas não achei da última vez e acabei comprando um sacão de perlita e acabei gostando muito.
Calcário: ajuda a regular o ph da terra.
Areia: ajuda no escoamento.
Humos de minhoca: é nutriente bastante completo para as plantas, em especial na fase vegetativa – uso humos feito dos restos da comida aqui de casa (composteira doméstica de caixas) e por isto é bem completo. Se for humos comprado pode ser feito só de pinus ou mono-coisa que o deixa menos rico em nutrientes diferentes). Se fizer um solo com bastante nutriente pode regar só com água nas primeiras semanas de vegetativo. Só tem que tomar cuidado para não fazer um solo com muito nutriente e ainda colocar nutriente industrializado em cima, porque daí pode dar o chamado “over fert” que também pode matar suas plantas.
Minhocas: elas ajudam o solo a não ficar compactado (além de serem seres maravilhosos que reciclam tudo pra gente, sem elas a vida na terra não seria possível <3).
Argila expandida: no fundo do vaso precisa ter algo que separe as raízes do fundo do vaso, caso contrário é muito fácil elas apodrecerem e morrer sua planta toda. Pode ser pedrinha, resto de vaso ou filtro quebrado, qualquer coisa que seja em pedacinhos duros que ocupem o fundo do vaso e impeçam a raiz de ir até o fim. O único problema de fazer com pedra é que os vasos ficam mais pesados e deixa a limpeza do grow mais difícil, mas nada demais tbm.
Receita mínima: cerca de 50% de terra, 50% de perlita, um punhado de calcário (tipo uma colher de sopa rasa por vaso).
Receita boa: 40% terra, 40% perlita, 10% humos, 10% areia, um punhado de calcário, algumas minhocas.
Uso essa receita de terra (que pode ser considerado um solo pobre de nutrientes) porque faço uso de nutriente externo/industrializado.
Dica: quanto maior o vaso, menos terá que regar, pq demora mais para secar.
Uso um vaso comum para colocar a semente germinando (o que tiver em casa, menor que 7 litros, mas não muito pequeno, se não tem que regar sempre). Depois que cresceu um tanto e já tá secando o vaso muito rápido (quando ela quer tomar água quase todo dia) coloco no vaso de 7l comprido. Quando vou colocar para florir coloco no maior vaso que tiver e couber dentro do grow já faz um tempo que uso este (foto) com furos laterais (16 litros) na flora. Parece ajudar na respiração das raízes. Acho que é firula desnecessária, mas tenho usado e gosto:
REGA / NUTRIENTE / PH
Rego só quando coloco o dedo cerca de 3 cm dentro da terra e vejo que está seco – não pode ficar sempre úmido que apodrece as raízes. As plantas são diferentes (mesmo que da mesma genética) e precisam de água em tempos diferentes, repara…
Jogo uma quantidade da rega nos vasos que estão precisando, vou fazer outra coisa e volto depois de alguns minutos para ver se vazou água por baixo. O ideal é vazar bem pouquinho pra não desperdiçar nutriente, mas é bom vazar ao menos um pouco pra saber que a rega chegou até o fim do vaso.
Começo a colocar nutriente só depois que nascer o segundo par de folhas verdadeiro. Antes disso é bom regar só com água pra não dar “over fert”. Como este solo não é inerte não tem problema ficar um pouco mais de tempo regando só com água, mas começar a regar com nutriente antes da hora pode matar as plantas (é um clássico). Cerca de uma vez por mês coloco a minha menstruação diluída em água também.
(Folha falsa é esta mais redonda e sem o serrilhado, dá para ver no primeiro vaso. O primeiro vaso eu rego só com água, o segundo já dá para começar com nutriente, mas sem pressa).
Já fiz algumas experiências diferentes. Atualmente uso um nutriente que chama remo (parece que foi um doidão da Califórnia que tava de saco cheio de medir ph que criou). Eu uso ele exatamente para não ter mais que medir o ph da rega (sei que muitos avaliam que mesmo assim deveria medir, mas não meço e tá rolando).
Ph é mega importante! Dos erros mais comuns do começo da carreira de jardinagem é não medir o ph da rega: não importa quão bons sejam os nutrientes que está colocando, se o ph não estiver na faixa ideal sua planta não vai absorver. Acho particularmente chato medir ph e este foi dos principais motivos de ter migrado para este nutriente industrializado.
Essa opção, porém, faz sentido pra este momento meu, sem tempo, e talvez não seja o ideal que acredito… uso três nutrientes (da remo): um azul, outro vermelho e outro verde! Fiz anos com chorume da composteira e tudo orgânico e ainda acho estranho colocar coisas industrializadas nas plantas, mas não estava dando conta de medir o ph e ficar fazendo conta toda rega, mas sei que talvez seja melhor. Atualmente está se difundindo mais o método “no-till”, ainda conheço pouco e tenho dificuldade de pensar a minha realidade adaptada à ele, mas parece bem interessante e potente.
Dadas as ressalvas, uso remo porque foram as melhores flores que colhi com o menor trabalho e tempo investido. Talvez se fosse legalizado plantaria de outro jeito, não precisaria me preocupar tanto em dar a maior quantidade de flor possível em poucas plantas. Mas por hora… fui informada que é um bom nutriente e que não tem metais pesados – que é o maior problema para nutrientes. Nunca devemos usar metais pesados porque a maconha os absorve da terra e os consumimos. É o jeito que deu as flores mais gordas das experiências que tive, mas existem muitas outras e tenho certeza que ainda vão se transformar muito os jeitos de plantar maconha.
A remo tem uma linha com diversos nutrientes, mas eu só uso 3: o “micro” (durante toda a vida da planta), o “grow” (na fase vegetativa) e o “bloom” (na floração). De todos, uso 2ml/l em todas as regas (que é o sugerido na embalagem). Todas as vezes que medi o ph estava na faixa certa (uso água direto da caixa d’água). É um nutriente caro, principalmente se comprado em lojas físicas e em pouca quantidade. O melhor custo é dividir entre pessoas que plantam o galão grande (de 1 litro ou 5 litros) comprados pela internet (fica bem mais em conta). Lembrando que se usa 2ml por litro e não regamos elas todos os dias, então 1 litro é bastante coisa.
CICLO VEGETATIVO
A fase vegetativa é quando a maconha está exposta à pelo menos 16h de luz. Ela vai crescer e não vai dar flores. Eu deixo cerca de 17h de luz e 7 horas de escuro. Se der pra comprar um timer, evita os prejuízos dos esquecimentos comuns quando ascendemos e apagamos manualmente as luzes.
(Sugiro comprar este analógico que acho melhor, dura mais e é mais barato: rola por 36 reais na internet).
No vegetativo não precisamos de luzes tão potentes e caras, como é ideal para a floração. No meu vegetativo uso 2 lâmpadas de 100w, destas de jardim mesmo – dizem que não é a ideal, mas rola para vegetar e são das mais baratas entre os leds:
Lembrando que em qualquer fase ESCURO é TOTALMENTE ESCURO. Não pode abrir o grow, ver como elas estão ou escapar luz externa para dentro na fase de escuro porque dá ruim e é um problema clássico.
A partir do segundo par de folhas verdadeiras rego sempre com nutrientes, mas pode intercalar com rega só de água também (economiza nutriente).
Rega do vegetativo que faço: 2ml de �??micro�?� + 2ml de �??grow�?� por litro (desse nutriente remo, cada nutriente tem sua receita na embalagem, tem vários tipos de nutriente no mercado)
Minha estrutura: um banheiro, 2 lâmpadas de 100w branca de jardim, 1 timer, 1 ventilador (não tem exaustor, mas era bom se tivesse).
FLORAÇÃO
Até pouco tempo fazia o ciclo inteiro (vegetativo e floração) na barraca que hoje uso só pra flora. Há poucos meses adaptei um banheiro para o vegetativo, com dois espaços, um para cada fotoperíodo (vega e flora), o processo de colheita fica muito mais rápido. Se for possível pra sua realidade é ótimo, mas não é necessário.
A floração acontece quando a planta tem ao menos 12 horas de escuro (lembrando que é escuro total, sem abrir a barraca ou deixar luz entrar). Deixo o timer para 12hrs de escuro e 12 hrs de luz.
A floração é bem mais delicada porque o quanto se colhe depende de quanto acertou em todos os detalhes. A luz é uma treta, é geralmente a coisa mais cara de um grow e tem várias teorias sobre qual a melhor.
As luzes de sódio (HPS) são mais baratas pra comprar e mto potentes, mas acho que sai mais caro com o tempo pq aumenta mto a conta de luz. Além disso, elas são quentes e esquentam o grow, então acaba demandando todo um cuidado maior com a temperatura interna.
O led é bem mais econômico na conta de luz, tem uma durabilidade mto maior que as de sódio, mas tem de vários tipos, opiniões e preços. Tem de vários mil reais, mas tem tbm aquela que uso para o vegetativo que custa 50 conto e uma variedade gigantesca de possibilidades só entre leds. Dizem que as led mais baratas iluminam poucos centímetros, então a parte baixa da planta fica prejudicada. Um amigo, porém, faz a floração com estas lâmpadas mais baratas (igual as que uso no vegetativo, com ainda menos watts) e tem tido ótimos resultados para o baixo investimento:
Talvez cultivar plantas menores seja um caminho possível para usar estes leds menos potentes (que tem menos espectro de penetração da luz), mas só testando pra saber. A luz que uso para floração é uma led cob cree cxb3590 de 200w. Gosto muito do resultado, mas considero uma lâmpada cara. Deixo indicada qual a minha porque recomendo, mas realmente acho que é válido tentar e testar com o que seja acessível e possível.
Quanto maior o espaço de cultivo, mais dispersão da luz e melhor tem que ser a luz (e maior o investimento). Tenho uma barraca de 80cm x 80cm porque é o tamanho que considero ideal para colher flores gordas com 200w desta led cob que tenho. As barracas mudam pouco o preço conforme o tamanho, mas a luz vai multiplicando seu valor conforme sua qualidade. Como gosto de sativas que ficam altas, optei por uma de 1,80 m de altura. É possível achar barracas usadas para vender e, para quem pode investir nisso, é bom no sentido de facilitar a higiene, a circulação de ar (encaixe para exaustores) e o melhor vedamento para não sair e entrar luz. Mas como prova a linda colheita da foto acima feita em um armário de roupas, sem ventilação e com luzes que não são consideradas ideais: adaptações às diferentes realidades são possíveis e dão bons frutos.
Fato: quanto mais luz, mais produção de flores e maior o seu gasto (tanto na compra da luz, quanto na conta de luz). É importante fazer esta conta pra não exagerar no tamanho do grow. Quanto maior mais caro, tanto de investimento inicial quanto de conta de luz para sempre. E quanto maior a barraca, mais trabalho também: a maconha é uma planta que precisa de um cuidado atencioso e singular – o que é praticamente impossível se a quantidade for a tônica. E infelizmente é importante lembrar que ainda é ilegal plantar maconha e a quantidade/tamanho da plantação influencia no julgamento (é diferente rodar com 10 ou 50 pés)[2].
Outra delicadeza da floração é que nesta fase não podemos/deveríamos passar nada para conter pragas (como óleo de nem), pq vai impregnar nas flores que serão fumadas ou ingeridas. Por isso a limpeza sistemática do grow é ainda mais importante (falarei da higiene da barraca e prevenção de pragas mais pra frente).
O exaustor garante a troca de ar da barraca, o que é bem importante para a saúde das meninas: maconha não gosta de ficar vivendo em ar parado, mas aranhas e outras pragas que são péssimas para a plantação adoram. O exaustor tira o ar de dentro da barraca pela parte de cima (que é onde está o ar quente), acionando mecanicamente uma entrada de ar que fica aberta em baixo. Na entrada e saída de ar tem um duto comprido para não correr o risco de vazar luz de fora para dentro. A minha barraca chega a ficar “negativa”, com as paredes chupadas para dentro dado a pressão do exaustor – dizem que isso é bom:
Ventilador é sempre bom também. Tento manter direto ao menos dois pequenos, dizem que influencia a produção de tricomas, além de ajudar o exaustor na circulação de ar.
Rega da floração: 2ml de “micro” + 2ml de “bloom” por litro (desse nutriente remo, cada nutriente tem sua receita na embalagem, mas alguns dos nutrientes que elas precisam no vegetativo e na floração são diferentes).
Quando colocar para florir? (ou seja, quando mudar o fotoperíodo e os nutrientes?) é importante lembrar que na floração elas podem triplicar de tamanho, então cuidado pra não deixar vegetar muito pq ela tende a ficar até três vezes maior quando florir. Um bom jeito de decidir a hora que vai colocar para florir é já estar grande o suficiente para fazer clones com os galhos de baixo, mas pequena o suficiente para poder crescer na floração.
Quando vou colocar as minhas para florir mudo para o vaso maior que tiver e couber no grow. Em 80cm x 80cm geralmente uso 4 vasos de 16 litros (quanto maior o vaso, menor a constância da rega).
CLONES
Fazer plantação a partir de clones tem várias vantagens: não tem custo de comprar a semente, o genótipo e fenótipo estão estabilizados e diminui a duração de um ciclo de cultivo.
Quando for colocar suas plantas para florir, antes delas terem vivido a mudança do fotoperíodo, tire os clones. Os galhos que ficam mais em baixo (que na floração dariam poucos frutos/flores), a gente corta rente ao galho principal. Os galhos que vão virar os clones precisam ter ao menos duas bifurcações de galinhos para conseguirem virar novas mudas.
(Tiro as folhas mais de baixo e diminuímos um pouco as folhas pra deixar toda a energia para produção de raízes).
Por anos fiz técnicas de clonagem que davam muito trabalho, recentemente um casal de amigues descobriu uma clonadera maravilhosa que não dá trabalho nenhum comparada a outras técnicas que já fiz.
Furamos a tampa do pote plástico com vários buracos para colocar os galhinhos e colocamos uma bomba de aquário dentro para movimentar e oxigenar a água. Uso água comum da caixa d´água, ou filtrada no barro quando o filtro tá cheio. Se a água evaporar vai completando. É só deixar os galhinhos lá e esperar, dali alguns dias vai sair raiz. Deixo a clonadeira na cozinha onde a única luz é a do teto normal, mas fica perto da janela. Pode deixar uma luz qualquer ligada perto, ela precisa de ao menos 17h de luz por dia para não correr o risco de florir na clonadeira – clones não tem problema deixar 24 horas na luz.
Quando está com uma boa quantidade de raiz vai pro vaso de 7 litros e pro banheiro do vegetativo. As duas primeiras regas faço só com água e a partir da terceira já entra no esquema do nutriente junto com as outras.
PRAGAS / PREVENÇÃO / CUIDADOS
Na real entendo pouco sobre pragas e cada vez que aparece alguma coisa fico desesperada, mando foto pra amigues experientes perguntando e faço pesquisa na internet. É muito chato, mas infelizmente todes perdem plantações mais cedo ou mais tarde, então previna-se.
A coisa mais importante que acho é olhar as plantas ao menos um dia sim e um dia não (às vezes tá corrido e de boa, mas esse tem q ser o horizonte) com cuidado, olhando especialmente por baixo das folhas que é onde aparecem os pontinhos que dão calafrio em qualquer jardineire. Pontinho banco, marrom, preto, folhas manchadas, tristeza: vai perguntar e pesquisar que pode ser algo e quanto antes tomar providências melhor. Quando for decidir quantas plantas vai ter pense também nesse trampo…
A melhor precaução que aprendi é meio radical: uma vez por semana tirar todas as plantas do espaço de cultivo, dar uma bela limpada no espaço, passar um inseticida de ambiente (aqueles comuns de casa pra barata e insetos em geral) e deixar agir uns 20 minutos. Tudo que tinha lá dentro morreu, as plantas não porque estavam fora. Só devolve as plantas para o espaço depois de circular bem o ar pra tirar todo o veneno com ventiladores e exaustor – a gente não quer consumi-lo de jeito nenhum. Se tiver essa disciplina é bem provável não rolar pragas. Várias vezes não faço essa limpeza e me arrependo. Ah, e cuidado pra, neste processo, não colocar o vaso de maconha do lado de alguma planta do seu jardim infestada de pulgão ou outra coisa, se não a limpeza vira vetor de risco e não de cuidado (já fiz isso algumas vezes!).
A limpeza do espaço de cultivo é fundamental mesmo para quem não quer usar o método radical do inseticida – quanto mais parado o ar e quanto mais sujo maior a qualidade de vida das pragas. A limpeza do espaço e das nossas mãos para mexer nas plantas são essenciais. Quando manusear uma planta contaminada não mexa em outras antes de tomar um banho. Nos lugares profissionais de plantio é comum ter até que vestir roupas esterilizada para entrar (se der praga em um monte de plantas juntas pode ser desastroso). Manter sigilo da sua plantação e não ficar mostrando ela pra todes, além de ser um cuidado muito importante em tempos de proibição, também é uma boa precaução contra pragas.
COLHEITA / SECAGEM
Quando colher? Os pestilos nascem brancos e vão ficando alaranjados com seu amadurecimento, quando já não tiver mais pestilos brancos (ou tiver muito pouco), significa que sua planta está madura e próxima de ser colhida.
(Os fiozinhos brancos ou laranjas são os pestilos e os pontinhos brancos/brilhantes são os tricomas).
Minha opção de colheita é quando 30% dos tricomas estão na cor de âmbar. Para vê-los precisamos de uma lupa, que até recomendo se for possível para seu bolso, mas passei anos plantando e colhendo sem tê-la. Os tricomas nascem transparentes, ficam leitosos e depois âmbar: quando estão transparentes ainda estão novos para serem colhidos. Dái tem quem prefira colher com 30% leitoso e 70% âmbar e vice-e-versa, vai de gosto e intenção de usos e efeitos medicinais que se busca.
Colher tarde demais é ruim porque os tricomas (onde estão os princípios ativos) podem envelhecer ou se degradar, mas colher cedo demais também pode diminuir muito a colheita que pode engordar bastante nas últimas semanas. Se não tiver lupa tem alguns indicadores: 1) quase todos os pestilos estão laranjas/alaranjados e não brancos; 2) as flores pararam de crescer; 3) as folhas principais caem; 4) as folhas secundárias começaram a perder cor.
Decidiu que é hora de colher: corta e coloca pra secar. Esta secagem precisa ser no escuro. Se tiver espaço para secar a planta inteira, corta o mais rente possível da terra – já ouvi dizer que deixar secando inteira de ponta cabeça é o melhor, mas só é possível pra quem tem espaço, eu por exemplo tenho secado dentro do armário de roupa mesmo:
Como saber se já está seca? Tem dois sinais: 1) ao dobrar o galho eles estalam e quebram; 2) elas estão com 25% do peso de quando colhidas 3) faz um fino e ele carbura.
Se tiver uma balança vai ver que tudo isso acontecem mais ou menos ao mesmo tempo. Não são todos os galhos que estalam: os mais grossos demoram mais para secar, mas quando os mais finos já estão quebrando está bom. Se colocar no pote antes de estar suficientemente seco ela pode mofar (é triste), se colocar seco demais pode perder qualidade dos tricomas, terpenos e outras facetas terapêuticas da maconha. Nunca vi secar em menos de uma semana, mas também passar de 12 dias é raro (a não ser em épocas muito úmidas).
O próximo passo depende se vai fazer óleo, haxixe, fumar, ou todas as anteriores. Se for fumar é muito importante fazer um processo de cura bem feito, faz toda a diferença.
Por fim vou deixar um Salve pro Padre né…
Salve Padre Ticão! Agradeço pela luta, pelo curso e pelo legado. Um curso como este que, numa perspectiva antiproibicionista, antiracista, antimanicomial, em plena conjuntura bozo-pandemia, chega a mais de 15 mil inscritos, é inegavelmente incrível. Deixo registrado, porém, que entre as militâncias que fez parte o Padre Ticão, a que me deixou mais impressionada foi chegar na praça 7 jovens e ver dezenas fumando flores de auto cultivo. Aprenderam a cultivar nesta luta e difusão de conhecimento da qual, pelo que entendi, o curso da Unifesp é parte e processo. E como ninguém faz nada desta magnitude sozinhe também agradeço a cada pessoa que tá junto, fortalece, sonha, luta, transforma a realidade e, portanto, é tão essencial quanto este gigante que foi o Padre Ticão. Salve!
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[1] Atualmente começaram a reivindicar que os buds, que sempre chamamos de flor, é um frutos partenocárpicos porque flores não dão sementes e não crescem depois de florescer (murcham e morrem). Aqui vou chamar de flor mesmo porque é a referência culturalmente usada, mas fica a reflexão.
[2] Não esqueça de colocar na conta a cor da pele, a condição social e o local de residência: estes fatores influenciem muito nas consequências quando roda um cultivo. A proibição é racista e protagonista no controle e violência à pessoas pretas, pobres e periféricas.