Site do Carlos Minc
Em audiência pública promovida hoje (13/8) na Alerj, para se debater propostas de aperfeiçoamento da Lei de Drogas, foi proposta a inversão do ônus da prova no caso de detenção de alguém portando entorpecente, para que caiba à autoridade policial a obrigação de comprovar se a pessoa detida é traficante ou não.
A medida foi sugerida pelo jurista Domingos Bernardo para evitar eventual abuso de um mau policial interessado em enquadrar um usuário e/ou dependente como traficante de drogas. Bernardo integrou a mesa de debates da audiência, promovida pelo presidente da Comissão contra a Impunidade e pelo Cumprimento das Leis da Alerj, deputado estadual Carlos Minc.
Para também evitar a estigmatização dos usuários e/ou dependentes detidos com pequena quantidade de drogas, o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança, Rivaldo Barbosa, sugeriu a criação de centros de apoio aos usuários para encaminhamento da pessoa detida, integrado por policiais, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais qualificados. O detido, assim, não seria mais encaminhado para uma delegacia policial, evitando-se que passe por constrangimentos dentro de uma DP.
Barbosa disse que essa iniciativa evitaria a estigmatização do usuário e, ao mesmo tempo, não tiraria a responsabilidade de uma autoridade policial analisar o caso da pessoa detida. Segundo ele, os traficantes atualmente, para fugir do flagrante, passaram a andar com pouca quantidade de drogas – deixando o volume maior em outro local – para evitar de serem enquadrados no crime de tráfico. Por isso, é importante que a autoridade policial continue participando da avaliação se determinado detido é traficante ou não.
Audiência de alto nÃvel
Essas e outras sugestões foram dadas ao longo de duas horas e meia da audiência promovida por Minc, que preside o Fórum Estadual por uma PolÃtica Democrática de Drogas, que debate o aperfeiçoamento da Lei 11343.
“Tivemos uma audiência de alto nÃvel. A lei federal, de 2006, trouxe avanços, mas não é uma lei que despenaliza, pois não descriminaliza o usuário. Por uma série de falhas nessa lei, milhares e milhares de usuário e/ou dependentes continuam sendo presos em todo o Brasilâ€, afirmou Minc.
A mesa de debates foi composta por Minc, pelo jurista Domingos Bernardo, que coordena o grupo de trabalho que discute a revisão da Lei de Drogas, no âmbito do Conad (Conselho Nacional de PolÃticas sobre Drogas), e por Madalena Libério, consultora técnica da Coordenadoria de Saúde Mental, Ãlcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde.
ContribuÃram com sugestões para modernizar a Lei 11343, entre outros, representantes das secretarias estaduais de Segurança, de Saúde e de Assistência Social, da Prefeitura do Rio, de universidades (UFRJ e Uerj) e de entidades civis que lidam com a questão.
O médico Luiz Tenório, ex-secretário de Saúde do MunicÃpio de Niterói, defendeu que o dependente que necessite de tratamento não deve mais ser encaminhado para hospitais psiquiátricos, mas sim para hospitais gerais. Segundo ele, nas unidades psiquiátricas são ministrados remédios que acabam atacando o fÃgado, sendo prejudicial para viciados, como os alcoólatras, pois pioram seu estado clÃnico.
Alguns dos presentes lembraram que nem todos os usuários precisam de tratamento médico. “A questão de educação e conscientização é fundamentalâ€, defendeu Tenório. Segundo ele, quando esteve à frente da secretaria, de um grupo de 700 pessoas atendidas por uso de drogas, cerca de 70% eram de população de rua. Após o atendimento, foram encaminhados para suas famÃlias, algumas delas morando em outros estados, como no Nordeste.
O subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança, Rivaldo Barbosa, enfatizou que a secretaria está aberta para receber sugestões e trabalhar em conjunto por uma polÃtica democrática de drogas que não estigmatize o usuário e/ou dependente.
Minc assinalou a importância de diversos setores governamentais e da sociedade civil estarem na audiência “num diálogo aberto e democrático†para propor a revisão da Lei de Drogas. As sugestões apresentadas serão encaminhadas para o grupo de trabalho que estuda a revisão da lei, formado por representantes governamentais e da sociedade civil.
O jurista Domingos Bernardo disse que a questão da legalização das drogas precisa ser enfrentada de frente. “A legalização é uma coisa que não pode continuar a ser vista como objeto de exorcismoâ€, disse, ao opinar que enquanto as drogas não forem legalizadas, não será possÃvel descriminalizar totalmente o usuário. “Enquanto não houver legalização, não haverá descriminalização.â€