O medicamento causa dependência e ainda pode provocar sonolência, dificuldade de concentração e falhas na memória. Para o Conselho Regional de Medicina, o remédio está sendo receitado em demasia.
Remédios, só com receita. E os remédios de uso controlado precisam de uma atenção ainda maior. Tem médico e paciente abusando. O próprio Conselho Regional de Medicina reconhece isso. Um dos remédios tarja preta, indicado para depressão e insônia, já está entre os mais vendidos do paÃs.
Um remédio da moda. A denúncia é dos próprios médicos.
“Determinadas medicações vão caindo no gosto das pessoas e até dos médicos, por um certo assédio à s vezes do próprio laboratório. Então nós, como médicos, devemos ter cuidado para não entrar nesse tipo de seduçãoâ€, alerta o diretor-secretário do CREMESP Mauro Aranha.
É um remédio de tarja preta, que só pode ser consumido com receita que fica presa na farmácia. Mas que, ainda assim, é mais vendido do que comprimidos para dor de cabeça e para cólicas. É mais vendido até do que pomadas para assaduras.
O remédio contém o princÃpio ativo clonazepam, usado para tratar epilepsia, ansiedade, sÃndrome do pânico, depressão e insônia.
“Existe um uso indiscriminado. Então as pessoas vão a médicos procurando a prescrição dessa medicação de vários tipos como alÃvio dos sintomas de ansiedade, mas sem o tratamento corretoâ€, diz o psiquiatra Marcelo Niel.
A funcionária pública Roberta Mattos de Petta tomou o remédio durante um ano para combater a ansiedade. Acabou misturando o clonazepam com álcool, o que potencializou o efeito do medicamento. Ela desmaiou na rua.
“Meu desmaio, o apagão que eu tive na esquina da minha casa, os pontos que eu tive que levar porque eu quase morriâ€, lembra a funcionária pública Roberta Mattos de Petta.
O medicamento causa dependência e ainda pode provocar sonolência, dificuldade de concentração e falhas na memória. Para o Conselho Regional de Medicina, o remédio está sendo receitado em demasia.
“Há um exagero sim, mas as prescrições em geral não pontuais, ou não propÃcias são por médicos não-especialistasâ€, diz o diretor-secretário do CREMESP Mauro Aranha.
Uma gerente de marketing de uma grande empresa toma o remédio há sete anos. Apenas a primeira caixa foi comprada com receita: “Eu passei a usar o remédio sem receita porque me ajudava a controlar a ansiedade. Em algumas situações profissionais eu precisei usar para controlar a ansiedade, falar em público. Não queria mais fazer terapia, ir até um psiquiatra para pegar receita, enfim, e como eu tinha essa minha amiga que conseguia com certa facilidade, eu passei a consumir dessa formaâ€.
Um empresário de São Paulo começou a tomar o remédio para tratar uma sÃndrome do pânico. Dez anos se passaram e ele diz que até hoje só dorme bem sob efeito do medicamento: “Se eu, por exemplo, tiver que ir em um final de semana para o Guarujá, cheguei lá, me dei conta que eu esqueci o remédio, é bem provável que eu volte para buscá-lo. Como eu durmo bem, eu prefiro voltar e pegarâ€.