João Fellet
Um relatório da agência da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC) divulgado na quinta-feira indica que o número de carregamentos de cocaÃna vindos do Brasil que foram apreendidos na Europa aumentou mais de dez vezes entre 2005 e 2009.
Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas, o número de carregamentos saltou de 25 (ou 339 kg), em 2005, para 260 (1,5t), em 2009, o que o tornou o Brasil “o paÃs de trânsito mais proeminente das Américas – em termos de número de apreensões – de remessas de cocaÃna apreendidas na Europa.â€
Em termos da quantidade de cocaÃna apreendida na Europa advinda de paÃses intermediários, no entanto, o Brasil está atrás da Venezuela e do Equador – já que a droga que parte destes paÃses é geralmente transportada em cargas maiores, segundo o relatório.
De acordo com a Organização Mundial das Aduanas, o Brasil foi o único paÃs sul-americano de onde partiram carregamentos de cocaÃna interceptados na Ãfrica em 2009.
O maior uso do Brasil como rota de passagem de cocaÃna para a Europa também se traduz no crescimento das apreensões da droga no território brasileiro, que passaram de 8t em 2004 para 24t em 2009, das quais 1,6t foi apreendida em cinco interceptações de aviões.
O relatório aponta ainda que o Brasil foi o paÃs que relatou maior apreensão de crack nas Américas. Em 2009, foram interceptados 374kg da droga no Brasil, número bastante superior aos do Panamá (194kg), Estados Unidos (163kg) e Venezuela (80kg).
No inÃcio deste mês, o governo lançou o Plano Estratégico de Fronteira. O objetivo é desenvolver uma ação coordenada entre as Forças Armadas, PolÃcia Federal, Força Nacional e PolÃcia Rodoviária Federal nas divisas do Brasil com os paÃses vizinhos, para combater o tráfico de drogas e os crimes de fronteira.
Plantio em queda
Apesar do aumento nas apreensões e cocaÃna no Brasil, o relatório indica que o plantio de coca (matéria-prima da droga) na região andina caiu 32% nos últimos dez anos, e 16% entre 2007 e 2010.
Em 2010, a coca foi cultivada em 149.100 hectares, ante 221.300 hectares em 2000. O documento atribui o declÃnio principalmente à queda na produção na Colômbia, que, ao lado de Peru e BolÃvia, concentra quase todas as áreas de plantio da folha no mundo.
A redução das áreas cultivadas de coca foi acompanhada pelo declÃnio nas apreensões de cocaÃna na América do Norte, principal mercado da droga. Houve queda de 43% nas interceptações entre 2005 e 2009, o que, segundo a UNODC, reflete “a redução generalizada do mercado de cocaÃna na regiãoâ€.
Por outro lado, no mesmo perÃodo, houve na América do Norte aumento das apreensões de anfetaminas (87%), ecstasy (71%), maconha (32%) e heroÃna (19%).
Anfetaminas e ecstasy
O relatório aponta ainda diminuição nos fluxos de anfetaminas e de ecstasy da Europa para a América do Sul, já que a produção local dessas drogas estaria crescendo.
A UNODC afirma que frequentes carregamentos de metanfetamina de paÃses da Ãfrica Ocidental (especialmente a Nigéria) para vários destinos no leste e sudeste asiático vêm se tornando uma preocupação internacional.
Também segundo o órgão, a Ãsia tem se transformado numa das principais conexões para a produção e o tráfico de ATS (estimulantes sintéticos do grupo das anfetaminas), tendo registrado 64% de todas as apreensões mundiais em 2009.
João Fellet
O Relatório Mundial sobre Drogas, lançado nesta quinta-feira pela agência da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), revela que, embora tenha havido uma estabilização no consumo mundial de drogas tradicionais como heroÃna e cocaÃna, há uma tendência de aumento no uso não-medicinal de drogas prescritas, inclusive no Brasil.
“O uso não-medicinal de drogas de prescrição, como tipos de opioides sintéticos, tranquilizantes e sedativos, ou de estimulantes prescritos, é um crescente problema de saúde em vários paÃsesâ€, afirma o relatório.
Na América do Sul, o documento aponta alto uso de opioides prescritos no Brasil e no Chile. Ambos os paÃses, além da Argentina, também registraram altos Ãndices de consumo de ATS (estimulantes sintéticos do grupo das anfetaminas), em sua maior parte prescritos legalmente como anorexÃgenos ou para o tratamento de transtorno de deficit de atenção, mas desviados para o uso não-medicinal.
O relatório diz que drogas prescritas substituem outras drogas ilÃcitas por serem consideradas menos nocivas, já que são indicadas por médicos, por serem mais baratas que drogas proibidas e por serem mais aceitas socialmente.
Outro fator para a crescente popularidade dessas drogas, segundo a UNODC, é que pacientes as compartilham ou as vendem para parentes e amigos. O órgão diz que seu uso é especialmente comum entre jovens adultos, mulheres, idosos e profissionais da saúde.
Internações
O documento aponta que os efeitos nocivos do maior consumo dessas drogas já é notado: nos Estados Unidos, onde há dados mais detalhados sobre o tema, o número de internações relacionadas a opioides prescritos cresceu 460% entre 1998 e 2008 e já supera o de casos ligados a drogas ilÃcitas.
Entre as pessoas que começaram a usar drogas nos EUA em 2009, 2,2 milhões iniciaram o consumo com analgésicos, número próximo dos que iniciaram o uso com maconha.
O relatório revela ainda um aumento acentuado nas overdoses causadas por opioides prescritos no paÃs: de 4 mil em 2001 para 11 mil em 2006. Segundo o documento, tendências similares são verificadas em outros paÃses.
Outra preocupação apontada pelo documento é a crescente combinação entre drogas lÃcitas e ilÃcitas, para acentuar o efeito da droga principal.
HeroÃna
Além do aumento no uso de drogas prescritas, o Relatório Mundial sobre Drogas aponta estabilização no consumo de heroÃna na Europa e declÃnio no uso de cocaÃna na América do Norte – os principais mercados para essas drogas.
No entanto, houve aumento no uso de cocaÃna na Europa e na América do Sul na última década e expansão do uso de heroÃna na Ãfrica.
O relatório aponta ainda que o plantio de ópio (matéria-prima da heroÃna) e coca hoje está limitado a poucos paÃses, mas que os Ãndices de produção de heroÃna e cocaÃna continuam altos.
Embora 2010 tenha registrado uma queda substancial na produção de ópio, o documento atribui a queda a uma praga que atingiu áreas rurais do Afeganistão, um dos maiores produtores da droga.