Todo brasileiro que se preze, seja ele do sul, do norte ou do Distrito Federal, que esteja em dia com os acontecimento do paÃs e debates polÃticos em pauta, sabe que a luta a favor da legalização da maconha não é novidade. O que difere o ano de 2011 do passado é a liberação da Marcha da Maconha pelo Supremo Tribunal Federal. A Marcha, que acontece desde o ano de 2002, foi sempre reprimida, e o governo, que alegava o evento ser de apologia à s drogas, agora afirma que proibi-la é uma ameaça à liberdade de expressão.
Para algumas pessoas, talvez essa mudança na lei não faça a menor diferença. Mas, para muitos outros brasileiros que participam das atuais mobilizações (Churrascão da Gente Diferenciada, Marcha das “Vadiasâ€, Marcha da Liberdade, Beirutaço da Resistência e Parada LGBT) esse acontecimento é um marco. Um grito, melhor dizendo. Até o o ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, está envolvido nessa questão e é a favor da descriminalização das drogas.
Pedro Nogueira, jornalista, faz parte da organização da Marcha da Maconha. Envolvido também no Coletivo DAR (Desentorpecendo A Razão), grupo que luta pela legalização das drogas, contra a violência urbana e acompanha o processo de regulamentação de armas não letais, cita a importância dos movimentos crescentes ao redor do Brasil, e como a participação da sociedade é capaz de influenciar nas decisões do Estado.
Qual a proposta do Coletivo DAR?
O coletivo existe há dois anos, e tem um aspecto anti-proibicionista. Surgiu através da necessidade de debater a questão das drogas de maneira geral, não só da maconha. Atualmente é possÃvel encontrar diferentes pessoas debatendo a questão das drogas, que antes não se manifestavam.
Como você encara a liberação da Marcha da Maconha pelo Supremo Tribunal Federal?
A marcha ter sido liberada pelo Supremo Tribunal é fruto de um trabalho que acontece há mais de três anos, de conscientização e articulação, através da ação de muitas pessoas, e divulgação na internet e nas mÃdias sociais como twitter e facebook.
Marcha da Maconha 21/05                                Créditos:Flickr/Camila Pistoresi
Você acredita que a febre das marchas contribuiu para a decisão do STF?
Não tenho dúvidas. Alguns fatores contribuÃram para que a Marcha fosse liberada. O primeiro é a onda das marchas que vem acontecendo na cidade, pois elas mostram uma grande parcela de brasileiros quebrando a casca do ovo, retomando o espaço público como espaço de debate. O segundo foi a decisão de mudar o local da Marcha, do Parque do Ibirapuera para Avenida Paulista. E o terceiro, a atitude violenta e repressora da PolÃcia Militar aos participantes da Marcha da Maconha, do dia 21/05. Tudo isso contribuiu para a liberação do STF.
Qual a verdadeira luta por trás da Marcha da Maconha?
A Marcha da Maconha luta pela legalização e regulamentação. Estão nos planos aumentar a abrangência da marcha, para assim surgirem as pautas, e fazer os brasileiros enxergam para onde estamos seguindo. A Marcha em si é uma negativa do proibicionismo. Eu acredito que a proibição não é a maneira correta de tratar as drogas, mas por enquanto, em função do meio conservador em que vivemos, certas coisas não vão mudar. Não faz o menor sentido a maconha causar tanto controle, repressão e escândalo.
O que vocês esperam para Marcha do sábado dia 02/07?
Esperamos um evento pacÃfico, e que as pessoas, que até agora estavam no armário, saiam para marchar, porque depois de muita luta e discussão, conseguimos o direito de falar abertamente sobre a maconha. É muito importante o movimento ser finalmente levado a sério, pois muitas pessoas ainda pensam que estamos lá pela farra. Nosso trabalho não é só pelos nossos interesses, e sim pensar como enfraquecer o tráfico, em formas alternativas de cuidados aos dependentes e como abandonar os paradigmas repressivos nos tratamentos dos usuários. Vivendo em um paÃs de terceiro mundo, o brasileiro precisa aproveitar essas oportunidades para mostrar que podemos fazer diferente. É possÃvel funcionar, afinal, são nos campos de batalha das periferias do Brasil que começam a guerra à s drogas, onde aqueles que lidam ou não com esse comércio multimilionário morrem todos os dias.
Marcha da Maconha 21/05                               Créditos:Flickr/Camila Pistoresi