Escritor prega Justiça restaurativa, na qual Estado se compromete a sanar deficiências
RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO
Desnaturalizar a prisão como punição natural para qualquer tipo de crime e corresponsabilizar governos por delitos de alguma maneira estimulados pelo próprio Estado – como homicÃdios cometidos por policiais no exercÃcio de sua atividade.
São essas algumas das ideias defendidas pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares em “Justiça – Pensando Alto sobre Violência, Crime e Castigo”, livro que está lançando pela editora Nova Fronteira. Ex-secretário de Segurança Pública nacional e do Rio, Soares, 57, falou à Folha.
O sr. acha que a punição apenas por prisão é um modelo ultrapassado?
No passado havia torturas públicas, penas de morte. As punições corporais cederam espaço à privação de liberdade. Mas não devemos nos satisfazer com esse avanço como se tivéssemos chegado ao fim da história. Não é uma solução inteligente, civilizada nem produtiva.
Como explica dados como os de SP, onde o número de prisões cresceu ao mesmo tempo em que caÃram Ãndices de criminalidade?
O fato de nós termos ao mesmo tempo dois fenômenos não os torna mutuamente relacionados. A correlação que se verifica é com uma polÃtica de repressão à s armas e aperfeiçoamento da gestão policial. A prisão pode ser eficiente quando ela tira de circulação criminosos violentos. Mas no Brasil nós temos 8% de esclarecimento dos homicÃdios dolosos e só 2% de condenados. Quem está preso? Aqueles que se envolvem com o comércio de drogas sem recursos à violência.
O sr. dedica o livro à juÃza Patricia Acioli. Como evitar que esse crime se torne rotina?
A juÃza era dos poucos magistrados do Rio de Janeiro dedicados a enfrentar o crime no Estado. A resposta ao crime vai apontar as possibilidades do desafio do crime organizado.
Se não passarmos a limpo a polÃcia, todas as boas iniciativas, como as UPPs, têm pouco futuro.
O GLOBO | RIO JUDICIÃRIO | JUDICIÃRIOPara entender e repensar a Justiça brasileira Luiz Eduardo Soares analisa sistema judiciário em livro que lança hoje no Riocentro, em debate com Zuenir Ventura ENTREVISTA Depois de chamar a atenção do paÃs para a segurança pública em livros como “Elite da tropa†(Objetiva) e “Meu casaco de general†(Companhia das Letras), o antropólogo Luiz Eduardo Soares lança hoje, na Bienal, “Justiça†(Nova Fronteira), obra em que “pensa alto sobre violência, crime e castigoâ€. Em entrevista ao GLOBO, Soares discute o livro e antecipa um pouco do debate “O Brasil pode ser mais legal?â€, à s 20h de hoje no Café Literário com Zuenir Ventura e mediação de MarÃlia Martins. â— Foi difÃcil fugir de expressões e jargões tradicionais da justiça? â— Em “Justiçaâ€, você conversa com um leitor curiosamente super ético, justo e correto que, se realmente existisse, deixaria seu livro sem sentido. Já pensou sobre isso? â— E quais são eles? ◠É possÃvel um Estado sem polÃcia, como defendem algumas pessoas? â— Em “Justiça†você defende que, ao contrário do que parece, o mundo vai em direção à s mudanças e que nós nos esforçam os para manter tudo igual. É isso mesmo? â— E você enxerga mudanças no horizonte do sistema judicial brasileiro? â— Você dedica “Justiça†a três pessoas: o professor Gildo Marçal Brandão, morto em 2010, à juÃza PatrÃcia Acioli, assassinada há poucas semanas, à polÃtica Marina Silva e aos defensores públicos do paÃs. O que eles têm em comum? |