Convocado pelo Facebook, protesto na cracolândia reuniu 1.500 pessoas, segundo os organizadores
Usuários da droga faziam filas em frente às churrasqueiras; uma quadra acima, 200 fumavam suas pedras
LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO
Convocado pelo Facebook, o “Churrascão da Gente Diferenciada, Versão Cracolândia”, levou 100 kg de carne, linguiça, pães e vinagrete para uma confraternização com os dependentes quÃmicos e moradores dos cortiços da região central de São Paulo.
O objetivo: protestar contra a violência policial na cracolândia.
A manifestação seguiu o modelo “churrascão”, usado no ano passado, quando um grupo reuniu-se em Higienópolis, para defender a construção de uma estação do Metrô no bairro. Poucos dias antes, uma moradora havia dado uma entrevista opondo-se à estação do metrô na vizinhança, por temer que uma “gente diferenciada”, nas palavras dela, viesse a frequentar o bairro, um dos mais caros da cidade.
Cerca de 1.500 pessoas, segundo os organizadores, atenderam ao chamado. A PM, que filmou todo o protesto, e manteve soldados nas principais esquinas da cracolândia não fez uma estimativa de comparecimento.
“Para nós, a única forma de enfrentar o problema do crack é com moradia, emprego, saúde, educação, enfim, com condições dignas. Tratar os dependentes como lixo social só piora a situação deles”, disse Anderson Lopes Miranda, 36, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua.
Os usuários de crack fizeram fila na frente das três churrasqueiras que assavam a carne, enquanto estudantes universitários, militantes virtuais do movimento “Transparência Hacker”, médicos e psicólogos arriscavam-se no samba.
Quando a chuva despencou, “estrangeiros” e nativos da cracolândia buscaram abrigo em um casarão abandonado, na rua Dino Bueno, antigo “mocó” de usuários de droga. O estudante da USP Pedro Gabriel, 24, era um deles. Ficou impressionado com a degradação do lugar, ainda coberto de lixo apesar do trabalho da limpeza pública.
Uma jovem dependente tentou puxar o cachimbo para fumar uma pedra -bem no meio dos manifestantes. Imediatamente, foi repreendida por um colega. Mais de 40 moradores da própria cracolândia atuaram como “seguranças” informais no protesto. “Uma questão de respeito com quem só veio aqui para tentar nos ajudar.”
Mas como a fissura não pode esperar, bastava subir uma quadra -na esquina da rua Helvétia com a Barão de Piracicaba. Lá, cerca de 200 usuários enlouqueciam sob efeito das pedras, vendidas a R$ 2. A polÃcia assistia a tudo a 50 metros do fumacê.