Eduardo Febbro
Mais dois decapitados na porta de uma loja, uma média de 48 executados por dia ao longo de 2011 e um total de 12.903 mortos na chamada “narcoguerra†nos últimos nove meses. As cifras da violência que assola o México desde que o presidente Felipe Calderón lançou em 2006 a ofensiva contra os cartéis da droga revelam a amplitude permanente da narcoviolência.
A Procuradoria Geral da República (PGR) divulgou esta semana os Ãndices oficiais dos “narcomortosâ€. As estatÃsticas globais podem ser assim traduzidas: 27 pessoas mortas por dia, 819 por mês e 9.830 por ano, em um total de 47.515 homicÃdios contabilizados até o dia 30 de setembro de 2011. As ONGs e os analistas estimam que os cálculos forem ampliados até dezembro de 2011 e se forem incorporadas à s estatÃsticas a violência que impera em estados como o de Sinaloa e Morelos, onde os assassinatos aumentaram em 84 e 44%, respectivamente, o ano terminará com 17 mil vÃtimas da guerra cruzada entre os cartéis da droga e do Estado contra estes.
Segunda dados da mesma Procuradoria Geral da República, o narcotráfico está controlado por dois poderosos grupos: o de Joaquim Guzmán, El Chapo, chefe do Cartel de Sinaloa, e o de Osiel Cárdenas, chefe do Cartel do Golfo, para quem trabalha outra rede de assassinos chamados de “Zetas†que se converteram em um protagonista da narcoviolência. Mas essas são apenas as duas principais organizações criminosas. A PGR contabiliza sete cartéis operando no paÃs: o Cartel do Golfo, o de Tijuana, o de Ciudad Juárez, o de Sinalou, o de Colima, o de Milenio e o de Oaxaca. A DEA norteamericana estima que existem 30 organizações criminosas de peso e a Subprocuradoria de Investigação Especializada contra o Crime Organizado do México (SIEDO) calcula que há mais 130 células de delinquentes estruturadas em território mexicano.
A DEA, obviamente, incorre nas hipocrisias de sempre. As estatÃsticas norte-americanas quase sempre excluem a enorme responsabilidade dos Estados Unidos no drama mexicano. Washington não só é o principal consumidor da droga que sai do México, como também é o paÃs onde os “narcos†adquirem todas as armas que usam na guerra. As supostas “ajudas†dos EUA são ridÃculas comparadas com os números dos negócios do narcotráfico. A chamada Iniciativa Mérida, ativada pelo ex-presidente George W. Bush em 2008 para combater o narcotráfico e o crime organizado no México e América Central chega a 1,5 bilhões de dólares. É uma lágrima lançada em um incêndio perto dos 20 bilhões de dólares anuais que representa o narconegócio.
A grande maioria das vÃtimas está ligada ao conflito envolvendo o tráfico de drogas. Os dados do Secretariado Executivo do Sistema Nacional de Segurança Pública (SESNSP), acrescidos aos da PRG permitem estabelecer que cerca de 75% dos homicÃdios estão relacionados com os narcos. Outro dado oficial desenha a geografia do crime: grande parte das execuções se concentra em 8 Estados dos 32 que compõem o México: Chihuahua, Coahuila, Durango, Nuevo León, Veracruz, Sinaloa, Tamaulipas e Estado do México. A PRG estima que nestes 8 Estados estão espalhados e enfrentando-se entre si os cartéis de Sinaloa, Juárez, Beltrán Levya, do Golgo, Zetas, La Familia e Los Caballeros Templarios (Cavaleiros Templários). O organismo oficial assegura em seu resumo que 2011 foi o ano no qual o percentual de homicÃdios resultou menos importante. No entanto, cabe observar que se trata somente de dados preliminares, faltando os números do último trimestre. Comparativamente, em 2010 ocorreram 15.273 homicÃdios.
A publicação desses números ocorre no contexto de uma dura polêmica entre os meios de comunicação e o Executivo. O jornal Milênio e o portal animipolitico.com sustentaram que o governo federal estava encobrindo os homicÃdios relacionados com o narcotráfico. O informe da Procuradoria é mais leve que os cálculos extraoficiais: estes falavam de 55 mil mortos nos seis anos de mandato de Felipe Calderón. Os dois partidos de oposição ao governista PAN, PRI e PRD, estimaram que o grande volume de vÃtimas expõe o fracasso da polÃtica de segurança implementada pelo chefe do Estado. O senador do PRI, Francisco Labastida Ochoa declarou que quando terminar “o mandato de Felipe Calderón, o paÃs vai contar com um número de pessoas mortas na estratégia adotada contra o crime organizado superior à s baixas que os Estados Unidos tiveram na Guerra do Vietnãâ€.
Trata-se, além disso, de mortos sem justiça. A justiça mexicana é praticamente incapaz de investigar e prender os responsáveis. Em novembro passado, a ONG Human Rights Watch denunciou o fato de que o aumento da violência não significou um incremento da quantidade de julgamentos. Muito pelo contrário, apenas “em uma fração desses casos foram iniciadas investigaçõesâ€. 2011 terminou com um morto a cada meia hora e uma justiça que, embora tenha prendido milhares de pessoas, pronunciou muito poucas sentenças. Ciudad Juárez foi o municÃpio onde se registrou o maior número de vÃtimas em 2011. Não é um acaso geográfico. Ciudad Juárez é a plataforma estratégica de onde parte a droga para os Estados Unidos e, por conseguinte, uma zona de disputa central pelo controle desse território entre os cartéis da droga.
Tradução: Katarina Peixoto