Coletivos agendam protesto para o mês de maio, quando pretendem discutir alternativas sobre o uso de drogas para evitar ações como a da Cracolândia
Por Sâmia Gabriela Teixeira
O Coletivo Marcha da Maconha de São Paulo, com a articulação de outros coletivos autônomos, planeja um novo ato para discutir o proibicionismo da maconha e propor possibilidades alternativas sobre o uso de drogas. A data e o local da atividade serão definidas em fevereiro, em reunião com todos os coletivos.
Júlio Delmanto, militante que atua no Coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão), que também organiza a marcha, conta que o número de coletivos antiproibicionistas tem crescido nos últimos anos, e que a junção de diferentes movimentos é importante para enriquecer o debate com a sociedade. “Houve a chegada de coletivos como o Acorda-ABC e o Revolução Verde para a construção da Marcha. É uma confluência heterogênea de visões, já que há desde os que defendem a regulamentação de todas as drogas e a união da luta antiproibicionista ao debate de uma outra sociedade, como é o caso do DAR, a visões focadas apenas na maconha ou mesmo apenas em seu uso medicinalâ€, explica.
Neste ano, a proposta do coletivo segue o atual contexto de discussão na sociedade sobre as drogas, as ações do governo e das forças policias, como a Operação Sufoco na Cracolândia. A expectativa é que na próxima edição da marcha o debate sobre as drogas possa ser feito por um viés mais aprofundado, diferente das edições anteriores que exigiam apenas a livre expressão sobre o assunto. “Desta vez, poderemos partir para a proposição livre de alternativas ao proibicionismo. Creio que chegamos a esta edição já credenciados como um ato polÃtico nacional de relevância. Ninguém mais pode ignorar a Marcha da Maconha e o antiproibicionismo como elementos fundamentais no atual debate sobre drogas no Brasil.â€
Sobre outras ações para coibir o tráfico de drogas, os coletivos também têm agido de maneira mais socialmente articulada em contraposição à repressão dos agentes públicos. “A Cracolândia é mais um exemplo de como a droga é utilizada como pretexto para a implementação de interesses polÃticos e econômicos que nada têm a ver com saúde pública. Vimos no último sábado que o churrascão na Cracolândia foi um ótimo exemplo de como o diálogo entre antiproibicionismo e outros movimentos de resistência é frutÃfero para todos os lados. Membros do DAR e da Marcha estiveram na linha de frente da organização do ato, que foi muito bem-sucedido, e ajudaram a influir numa visão da questão das drogas pautada pelo respeito e pela redução de danos dentro daquele grupo. A ideia é seguir esse trabalhoâ€, explica.
Histórico
Em maio do ano passado, a Marcha da Maconha chegava a sua 4ª edição e foi fortemente reprimida com violência pela PolÃcia Militar. A manifestação foi considerada o estopim para outros diversos atos públicos que repudiaram a violência policial utilizada contra os manifestantes. Para Delmanto, a ação do governo e da polÃcia na marcha do ano passado fortaleceu o movimento e ampliou o debate entre a opinião pública. “Mantivemos a marcha mesmo com a absurda repressão, e ela não só foi até o final como voltou para delegacia para buscar os que estavam lá detidos. Foi praticamente uma surra na repressão e no obscurantismo, e isso certamente trouxe lições para governo e polÃcia. Eles sabem que somos bem articulados, dispostos a resistir pela causa e que a repressão não nos cala.†Para 2012, o ativista espera outra postura por parte da PM. “O que queremos é dialogar com a sociedade, não com a polÃciaâ€, conclui.