“Me contem, me contem aonde eles se escondem?
atrás de leis que não favorecem vocês
então por que não resolvem de uma vez:
ponham as cartas na mesa e discutam essas leis†Planet Hemp
A seção Cartas na mesa é composta por opiniões de leitores e membros do DAR acerca das drogas, de seus efeitos polÃtico-sociais e de sua proibição, e também de suas experiências pessoais e relatos sobre a forma com que se relacionam com elas. Vale tudo, em qualquer formato e tamanho, desde que você não esteja aqui para reforçar o proibicionismo! Caso queira ter seu desabafo desentorpecido publicado, envie seu texto para coletivodar@gmail.com e ponha as cartas na mesa para falar sobre drogas com o enfoque que quiser.
No texto de hoje trazemos uma contribuição do leitor Vitor Hugo Noroefé, que relata o caso de um jovem de 19 anos preso pela Patamo (Patrulha Tático Móvel) da Brigada Militar em São Gabriel (RS). O autor toma a detenção como base para traçar um paralelo entre a Patamo e a ROTA (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), criticando a atuação de ambas.
Confiram texto abaixo, e fiquem à vontade para comentar e sobretudo mandarem suas próprias contribuições.
A Brigada Militar tem espÃrito de porco?
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“…rendeu dinheiro aos jornais
cartaz a polÃcia…†Racionais MC’s (“Homem na Estradaâ€)
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*Vitor Hugo Noroefé
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Durante boa parte de minha vida, passada em Cacequà (RS), os integrantes da Brigada Militar – a policia militar do Rio Grande do Sul – eram conhecidos como pé-de-porco. Até hoje não descobri se o apelido veio de uma referência a suas botas pretas ou da atitude de certos membros da corporação. E assistindo o vÃdeo postado no sitio virtual do jornal “Cenário de NotÃciasâ€( http://cenariodenoticias.blogspot.com) da cidade gaúcha de São Gabriel (RS), em 14 de fevereiro, a dúvida permanece.
O vÃdeo da manchete “Preso com drogas agora à tardeâ€, mostra um soldado da tal Patamo (Patrulha Tático Móvel) da BM humilhando um preso por porte de drogas. Ao chegar na Delegacia de PolÃcia de São Gabriel(RS), o militar conduzindo o preso, em tom arbitrário e ao mesmo tempo sarcástico, dá ordens ao jovem:
– Olha pras câmeras, olha pras câmera ali…
O preso tenta se esconder das câmeras, mas o policial obriga o detento a permanecer virado para ajudar no desfecho do cinegrafista Toni Jardim. Como resposta ao ato arbitrário do policial o jovem faz o conhecido gesto “fuck youâ€. Toda a ação acompanhada de risos, continua na hora da autuação pelo policial civil, já dentro da delegacia, quando o brigadiano faz gozação, interrogando se o preso quer o boné virado para trás ou não. Outro policial tenta escrever Patamo com a droga apreendida e alguém comenta “só faltava ter mais para terminar de escrever Patamoâ€.
Em matéria posterior, o jornal “Cenário de NotÃcias†informa que o jovem preso é Bruno Marcondes de Souza, de 19 anos, conhecido como Leko,detido com 50 gramas de maconha. De acordo com a matéria o “rapaz tinha 22 tijolinhos de maconha escondidos na cuecaâ€.  O que surpreende é que na foto que ilustra a matéria, o brigadiano aparece rindo em direção ao preso. E quem olha, fica sem entender o motivo do riso.
A pergunta que fica no ar é: tudo isso para comemorar a prisão de um vapor baratÃssimo, com 50 gramas de maconha? Logo maconha, uma das drogas que cientificamente é tida por muitos cientistas como menos prejudicial  que o álcool? Tanto carnaval, com um menino de 19 anos, só para mostrar prepotência e arrogância.
Cópia canhestra da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), de São Paulo, a Patamo poderia se orgulhar de outras coisas, mas não de uma prisão dessas. Afinal, isso é chutar cachorro morto.
Mas, parece que o efeito circense tem feito a cabeça de policiais – militares e civis – de todos os quadrantes do Brasil. Assim, quando a polÃcia militar de São Paulo apresenta como sua grande colaboração ao combate do tráfico de drogas, desalojar e bater em viciados na Estação da Luz(região conhecida como Cracolândia, devido ao uso do crack),, na capital paulista, não resta nenhuma dúvida de que, essas entidades, sempre estiveram ao lado dos grupos e corporações poderosas. No caso da região da Estação da Luz, qualquer um pode conferir as ações do setor imobiliário por trás das ações policiais.
Já no Rio Grande do Sul, a Brigada Militar, tem se mostrado eficiente quando é para demonstrar seu apoio ao que há de mais arcaico no solo gaúcho. Foi assim, que há pouco tempo atrás, matou um sem-terra na mesma cidade de São Gabriel, que ostenta o orgulho de ser a “terra dos marechaisâ€. Como se o mundo fosse feito de marechais sem soldados.
Com essas heranças do tempo arbitrário, pelo qual o Brasil sucumbiu por mais de vinte anos, as polÃcias enredam-se em metáforas como combate ao crime e ao tráfico. Como se fossem paladinos e guardiãs de uma certa moral. Sabem – mas fingem que ignoram – que são apenas joguetes, verdadeiros cães amestrados para servir ao Grande Patrão, o conhecido Mercado. Por isso, essas entidades armadas, se voltam contra seus verdadeiros e únicos patrões: os pobres que, compulsoriamente, pagam seus soldos.
à par disso, a Brigada Militar deveria ensinar um pouco de respeito aos seus componentes. A corporação poderia também educar os seus  militares para que entendam que não possuem poder de julgamento e muito menos direito de tripudiar sobre as pessoas. As polÃcias deveriam aceitar o seu lugar na sociedade, sem ultrapassar seus limites. O contrário disso, é  interferir de maneira inócua e perversa em uma situação que pouco ou quase nada lhe diz respeito. Ou alguém pensa que, em sendo militar, pode solucionar a pobreza projetada e organizada pelas empresas e grandes corporações financeiras que faturam seus lucros a partir dessa mesma miséria?
Voltando ao princÃpio desse texto, não custa questionar se a policia militar gaúcha continuará fazendo jus a denominação popular ou pretende retirar de sua vida, presente e futura o seu espÃrito de porco. Sim, do presente e do futuro. Porque no passado, já foi.
*Vitor Hugo Noroefé é produtor de textos e detetive social