Sinalizando o que pode vir a representar uma guinada na polÃtica de combate ao tráfico de entorpecentes no continente americano, diplomatas de paÃses onde a controvertida guerra à s drogas é dada como fracassada garantiram que será instalado um grupo de trabalho durante a Cúpula das Américas para motivar ações internacionais e coordenadas.
Durante a reunião de Estado, que ocorrerá na cidade colombiana de Cartagena, ao longo do próximo final de semana, o maior empenho deve vir dos próprios anfitriões e do México, ambas nações tradicionalmente alinhadas às diretrizes proibitivas defendidas há mais de 40 anos pelos EUA.
Agência Efe
O anfitrião do evento, Juan Manuel Santos, flexibilizou seu discurso sobre o combate às drogas
Não há muito tempo, veÃculos da imprensa como a revista britânica The Economist argumentavam que apenas ex-presidentes da linha de Fernando Henrique Cardoso, César Gaviria e Ernesto Zedillo conseguiam margem polÃtica para advogar uma flexibilização das leis que regem o comércio de drogas. Contudo, a repressão armada a esse tipo de prática parece ter se frustrado de tal forma que até mesmo lÃderes latino-americanos em exercÃcio criam margens para a discussão de medidas como a descriminalização ou a legalização.
Em novembro de 2011, Juan Manuel Santos disse que adotaria os procedimentos que se mostrassem mais eficientes e consensuais para a comunidade internacional. Na ocasião, disse que “falaria sobre a legalização da maconha se o mundo pensa que essa é a atitude mais correta†e que “consideraria legalizar a cocaÃna se existir um consensoâ€.
Poucos dias após essas declarações, sete paÃses anunciaram o interesse em discutir novos marcos regulatórios para o comércio de drogas. Otto Pérez Molina, presidente da Guatemala, defenderia a necessidade de “regulações alternativas de mercado, que possam combater de forma mais eficiente o narcotráficoâ€. Até mesmo um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA revelou que seu paÃs estaria “disposto a discutir o temaâ€, ainda que permanecesse contrário à legalização.
Desde 2006, quando Felipe Calderón inaugurou um combate armado contra as gangues de traficantes do paÃs, cerca de 50 mil mexicanos foram mortos. O presidente então, iniciou uma série de crÃticas e acusações aos EUA pelo fato de a gestão Obama não ter renovado a proibição do comércio de armas de assalto, suposta razão pela qual teria ocorrido um aumento no número de homicÃdios do México.
Agência Efe
O presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina, também propôe abordar soluções “mais alternativas e eficazes” para a questão das drogas
O jornal Valor Econômico teve acesso a um diplomata latino-americano, que alegou que a ideia para a cúpula do próximo fim de semana “é mapear vários cenários, de maneira não confrontadora, de forma a basear a futura polÃtica de drogas em abordagens que sejam as mais realistas possÃveis, melhores do que as atuaisâ€. As conclusões devem ser apresentadas à ONU.
Joe Biden, vice-presidente dos EUA, visitou o México no mês passado e considerou legÃtimos os debates em torno da legalização das drogas. Contudo, fez questão de frisar que “não há possibilidade de seu governo mudar sua polÃtica†a respeito do tema.
O Opera Mundi conversou sobre os possÃveis desdobramentos polÃticos desse encontro de chefes de Estado com Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de PolÃticas sobre Drogas. Para ele, a próxima Cúpula das Américas será um “momento único, com o cenário mais favorável jamais visto†para encerrar definitivamente a Guerra à s Drogas.
Isso porque, “pela primeira vez, metade da população norte-americana revela-se favorável à legalização da maconha†e, ao mesmo tempo, porque Juan Manuel Santos, um dos maiores aliados dos EUA na América do Sul, assumiu uma posição “central†na defesa da legalização das drogas: “quase um Yitzhak Rabin negociando a pazâ€.
Na opinião de Abramovay o “grande mistério†permanece sendo o posicionamento brasileiro nessa discussão. “O Brasil nunca se manifestou internacionalmente sobre o tema. O que é certo é que o silêncio não pode ser mais uma opçãoâ€.