Há oito anos, licenças de funcionamento são negadas  pela prefeitura
Por Igor Carvalho
Quem esteve na última segunda-feira (28) no Bar do Binho pode ter assistido à última edição do tradicional Sarau do Binho. Isso porque a Prefeitura de São Paulo fechou o bar, por conta de multas acumuladas pelo estabelecimento, que chegam a R$ 8 mil.
Faz oito anos que o poeta Binho reúne amigos, escritores e moradores do Campo Limpo em seu sarau, no mesmo bar que, agora, seguirá de portas fechadas e deve ser entregue a outra função comercial. O bar, reconhecido, por frequentadores, como um ponto de cultura na região, por conta das atividades promovidas no local, nunca teve uma autorização para funcionar. Robson Padial, o Binho, explica: “Eu sempre pedi, mas faz oito anos que me dão inúmeras desculpas para fornecer a licença, é incrÃvel, quando eu arrumo algo, eles alegam outra coisaâ€.
O poeta acredita que pode ser vÃtima de perseguição. “Estão procurando pêlo em ovo, agora alegaram [a Prefeitura de São Paulo] que o zoneamento da área não permite esse tipo de estabelecimento, mas na mesma rua do nosso bar existe outro, com autorização.†A ideia é que o sarau se torne um evento itinerante, porém não há, ainda, um local definido para a próxima edição. Binho vai recorrer das multas e continuará em busca da autorização.
Com a carência de pontos culturais nas periferias, os saraus se tornaram uma alternativa aos moradores dessas regiões. Normalmente os eventos ocorrem em bares, pois não há aparelhos públicos que deem conta da demanda de poetas e público, segundo os organizadores.
Histórico de contestação
Nesses oito anos de sarau, Binho já provocou algumas reflexões e polêmicas no bairro. Recentemente, durante o perÃodo eleitoral, ele decidiu pegar as placas de publicidade dos candidatos, amarradas nos postes, pintar e escrever poesias por cima, depois ele as pendurava novamente. “A arte tem que ter uma transgressão, senão não é arteâ€, explica o poeta. Binho também tenta manter, com dinheiro próprio e apoio da comunidade, uma biblioteca no Campo Limpo, para estimular a leitura entre os jovens.
MANIFESFO
No dia 28 de maio de 2012 o nosso amigo Binho, brilhante batalhador pela cultura e pelas causas sociais pode ter realizado seu último Sarau. Ao menos foi isso que nos foi dito no bar, que encerra suas atividades por conta de uma multa de R$ 8.000,00 imposta pela prefeitura, que embargou o bar por este não possuir alvará. Binho tentava conseguir um alvará junto à Prefeitura há muitos anos e não conseguia receber. O barato é pessoal e premeditado.
É direito do povo manifestar-se e apresentar suas criações artÃsticas, discutir questões de suma importância para toda a sociedade como foi feito várias vezes no Sarau, e que não precise do crivo das instituições governamentais, que seja espontâneo, feito onde o desejo coletivo criar. Devemos respeitar os direitos de outrém, mas não podemos aleijar todo um grupo de trabalhadores que fazem do espaço seu ponto de encontro para comungar a arte, em forma de cinema, teatro, poesia, dança, pintura e tantas outras que por lá passaram.
No espaço muitas pessoas até então invisÃveis no meio da multidão dessa megalópole, se descobriram, seja para suas realizações artÃsticas, seja para o exercÃcio de sua cidadania, portanto entendemos que não pode assim, simplesmente acabar um projeto tão importante para o desenvolvimento da nossa cultura.
O Sarau do Binho já não nos pertence mais, é de toda a nação, uma vez que muitos projetos culturais tomaram-no como inspiração, em lugares remotos da cidade; do Estado, haja visto a participação no Circuito Sesc, onde percorreu várias cidades do interior de São Paulo e foi visto por milhares de pessoas; e do paÃs, onde compatriotas de diversos estados enviam mensagens de agradecimento ao ter passado por nossa cidade e podido participar deste encontro tradicional de segunda feira.
É preciso muito mais que talento para continuar fazendo arte em um paÃs onde apenas o produto cultural interessa aos patrocinadores da cultura, onde a grande mÃdia vira as costas para as tradições que não se enquadrem nos seus modelos, vide o Carnaval que surgiu de uma necessidade tão legÃtima e se tornou um grande negócio para as grandes marcas, os grandes meio de comunicação e para os dirigentes das escolas, que vendem a paixão de tantas comunidades. Mas, valente que sempre fomos, não só no discurso como na prática, afinal quantas ações já partiram desse coletivo visando buscar o direito à cidadania, como no apoio à diversas organizações que lutam pelo seu direito, à moradia, à educação, à alimentação e à cultura, não podemos nos render e vamos assoprar esta brasa até que a chama volte a aquecer nossos anseios de um paÃs mais justos e sem classes.
Não podemos deixar morrer o Sarau do Binho. É hora de mostrar a força dos coletivos culturais e sociais de São Paulo e do Brasil. Contamos com o apoio de todos.
Serginho Poeta