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Julho 06, 2012

Massacre na periferia

Em apenas quatro dias 25 pessoas foram mortas na região leste da grande São Paulo

BRASIL DE FATO, 03/07/201

José Francisco Neto, da Redação

 

Entre os dias 17 e 28 de junho deste ano, 127 pessoas foram assassinadas na capital paulista, representando 73% dos 174 assassinatos no Estado de São Paulo, uma média de quase 12 mortos por dia. Os números são do Sistema de Informações Criminais (Infocrim) da Secretaria da Segurança Pública. Ao total, o número de homicídios foi 53% maior em comparação a junho de 2011.

PM, na zona Leste de São Paulo, recolhem
os cadáveres de seis mortos no final de maio.
Ocorrência foi estopim para onda de violência.
– Foto: Eduardo Anizielli/ Folha Press

O aumento da violência começou no dia 28 de maio, quando policiais da Ronda Ostensiva Tobias Aguiar (Rota), após troca de tiros, na zona leste de São Paulo, mataram cinco homens e executaram um rapaz após o confronto. Há indícios de que os suspeitos mortos sejam da facção criminosa do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Segundo testemunhas, o rapaz detido, ainda vivo, teria sido levado para a região do Parque Ecológico do Tietê, onde o teriam torturado e assassinado a tiros. Os policiais foram presos em flagrante pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil.

Imediatamente após o ocorrido, o policiamento se intensificou na zona leste da cidade. Segundo o morador da Cidade Tiradentes Wellington Lopes Goes, a polícia militar aumentou o cerceamento na região. “Desde aquele episódio, a polícia militar está em peso rodando aqui no bairro”, conta. Por outro lado, ele afirma que por ordem de pessoas ligadas ao crime, a escola em que leciona fechou de terça a sexta-feira. “A ordem era fechar a escola, a Unidade Básica de Saúde (UBS) e os comércios. A partir do meio dia não podia ficar mais nada aberto”, revela Wellington.

A partir desses episódios, uma onda de violência desencadeou-se em São Paulo no mês de junho: seis policiais militares foram mortos, 13 ônibus foram incendiados, bases da Polícia Militar foram baleadas, toques de recolher nos bairros foram anunciados pela própria polícia e grupos de extermínio agiram nas periferias, matando jovens durante a noite e madrugada.

No Parque Bristol, bairro da zona sul, a própria polícia militar entrou nos estabelecimentos e mandou fechar as portas dos comércios, segundo relata o morador da região, Paulo Rams. Segundo ele, na terça-feira, 26 de junho, os policiais foram até o bairro e falaram para ninguém ficar na rua a partir das 22h, pois quem não obedecesse seria averiguado e levado para a delegacia. “Aqui na região também incendiaram três ônibus. Tanto de um lado como do outro estão deixando a população acuada. Algumas pessoas estão dizendo que quem está colocando fogo nos ônibus são os próprios policiais.” Paulo afirmou ainda que na última semana de junho três jovens foram assassinados no Parque Bristol.

“Drogados”

Em apenas quatro dias, de 24 a 27 de junho, 25 pessoas foram mortas na parte leste da região metropolitana. Os crimes ocorreram em Ferraz de Vasconcelos, Poá, Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes.

A informação é do capitão Joel Chen, comandante da PM em Ferraz, concedida ao jornal Folha de São Paulo. Chen justifica as mortes dizendo que “muitos desses mortos são usuários de drogas” e que “os crimes ocorreram em áreas que são pontos de venda de entorpecentes”.

Para o assessor jurídico da Pastoral Carcerária, Rodolfo Valente, o comentário do comandante é um absurdo. “As vítimas não são as mesmas pessoas que vêm confrontando policiais e, ainda que fossem, não é dessa forma que se combate a suposta criminalidade”, salienta, referindo-se ao assassinato dos seis policiais desde o início do mês de junho.

“A polícia não tem prerrogativa de matar ninguém, ainda que seja perseguição ou situação de flagrante. Pelo menos o que dizem é que vivemos num estado democrático de direito, mas a gente sabe que não é assim. Eles [policiais] não estão de maneira nenhuma legitimados a executar as pessoas”, comenta Valente.

 

Quatro horas, nove mortos

Somente na noite de segunda-feira, em 25 de junho, nove jovens, entre 16 e 20 anos, foram assassinados. Os crimes ocorreram nos bairros paulistanos Jardim Robru, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis, além do município de Poá, na região metropolitana da capital paulista.

Dessas nove mortes, quatro ocorreram no Jardim Picosse, em Poá. Os jovens Dênis Silva Aparecido e Estevam Marine de Campos, ambos de 19 anos, estavam na rua Pará, na altura do número 178, com Raimonde Anunciação Batista, de 20 anos, e Hederton José Cunha, de apenas 16.

Uma das moradoras do bairro que não quis se identificar por medidas de segurança, relatou ao Brasil de Fato que os jovens estavam indo a uma pizzaria que fica na mesma rua em que moravam. De repente, começou um tiroteio. “Teve um que foi assassinado nos pés da mãe, enquanto outro morreu agachado porque estava tentando se esquivar dos tiros”, conta.

A polícia militar foi acionada, e ao chegar ao local encontrou as quatro vítimas no meio da via pública. Os jovens foram levados ao pronto-socorro central da cidade, mas não resistiram e morreram.

Um dia após a chacina, a própria polícia militar mandou fechar todos os comércios do bairro, deixando os moradores acuados e com medo de saírem de suas residências.“No dia seguinte, os comércios estavam todos fechados. A dona de um bar disse que os policiais passaram avisando que era pra fechar tudo às 14h. Depois que isso aconteceu, ninguém sai mais na rua, pois o clima aqui está muito tenso”, conta a moradora.

A chacina foi registrada no Distrito Policial do município e está sendo investigada pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

Débora Maria, do Movimento Mães de Maio, ressalta que essas chacinas são semelhantes às que ocorreram em maio de 2006, quando grupos de extermínio ligados à polícia militar assassinaram mais de 500 pessoas em apenas oito dias. “Os policias pegam os ‘supostos autores’ dos crimes e assassinam. Antes deles acharem, deveriam procurar saber se são realmente criminosos e puni-los exemplarmente, mas acontece que primeiro eles matam pra depois saber quem é a vítima. A gente vê uma higienização da pobreza por parte da polícia do estado de São Paulo”, argumenta.

 

“Crimes de maio” se repetem

Toques de recolher, ônibus queimados e jovens assassinados, assim como em 2006

 

José Francisco Neto,

da Redação


A possibilidade de ocorrerem novos atentados foi previsto no relatório São Paulo sob achaque: corrupção, crime organizado e violência institucional em maio de 2006. O estudo compreendeu o período de 12 a 20 de maio de 2006, marcado por chacinas e execuções em que mais de 500 civis foram assassinados na capital, litoral, interior e região metropolitana de São Paulo.

O relatório foi apresentado no dia 9 de maio de 2011, realizado pela ONG de defesa de direitos humanos Justiça Glo bal e pela Clínica Internacional de Direitos Humanos da Faculdade de Direito de Harvard. Dentre outros dados, o relatório indica que a corrupção policial foi o estopim para os ataques e que o governo paulista sabia dos planos do Primeiro Comando da Capital (PCC). Além disso, segundo a pesquisa, dos mais de 500 homicídios, 122 execuções apresentaram participação de policiais militares. A maioria dos crimes não foram sequer investigados. Muitas das vítimas atendiam ao estereótipo do que os policiais costumam chamar de “bandido”: jovens, negros, tatuados, alguns com passagem pela polícia.

Para Débora Maria, do movimento Mães de Maio, do mesmo modo que está acontecendo agora, com ônibus sendo queimados, jovens sendo mortos e toques de recolher nas periferias, aconteceu em 2006 antes de haver o massacre. “A história de maio se repete. Não teve nenhuma punição naquela época, pois o Estado se omitiu.”

Débora, que teve seu filho assassinado em 2006 por grupos de extermínio da polícia militar, conta ainda que na época em que foi lançado o relatório, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse à mídia que ele era “inverídico”. “Agora seria muito eficaz por parte da mídia perguntar pra ele se o relatório continua inverídico”, questiona.

Carta branca

A declaração que o governador Geraldo Alckmin deu à imprensa no dia 27 de junho, reforçando que “o governo não retrocederá um milímetro” e que “os criminosos que enfrentarem a polícia vão levar a pior” é a mesma que concedeu em 2006, como lembra o assessor jurídico da pastoral carcerária Rodolfo Valente, que alega que o posicionamento do governador serve como carta branca para a polícia matar.

Valente ressalta que a situação é de emergência e que as medidas já deveriam ter sido tomadas. Ele cita, como mais um exemplo de desrespeito aos direitos humanos, o sistema carcerário, que está cada vez mais lotado, permitindo todo tipo de degradação e violação dos direitos fundamentais.

“Mesmo na questão da segurança pública, São Paulo tem uma estrutura extremamente excludente que joga as pessoas com menos oportunidade para a periferia, onde todos os tipos de violações acontecem”, e complementa, “São Paulo vive em estado de guerra, mas uma guerra bem direcionada contra a periferia. Essa guerra da polícia contra o crime organizado é mais um pretexto para atacar a periferia.”

Para Débora Maria, a história de 2006 se repete, e quem fica no meio do fogo cruzado é a população. “O governo está sendo omisso mais uma vez. Nós, mães, somos a verdadeira vítima do Estado, porque eles não matam só os nossos filhos, mas sim uma família inteira. Eles deveriam arrumar outro método pra fazer o trabalho em cima dessa violência, e não tratar a violência com violência, que é sempre produzida por eles mesmos”, critica.

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