“É impossÃvel pensar o sistema capitalista internacional sem pensar no dinheiro do narcotráfico”, denunciou o jornalista José Arbex Jr. em Simpósio sobre Esquerda na América Latina. O tráfico de drogas movimenta cerca de 500 bilhões de dólares por ano, segundo dados indiretos. Algumas cifras chegam a 1 trilhão. “O dinheiro não está nas favelas nem nos morros, faz parte do sistema financeiro e sustenta grandes bancos”, disse Arbex.
Isabel Harari, Carta Maior
São Paulo – “É impossÃvel pensar o sistema capitalista internacional sem pensar no dinheiro do narcotráfico”, denunciou o jornalista José Arbex Jr. em Simpósio sobre Esquerda na América Latina, realizado na USP. A mesa também contou com a presença do historiador Henrique Carneiro, a especialista em História da Cultura Rosana Schwartz e Julio Delmanto, mestrando em História Social e membro do coletivo DAR (Desentorpecendo a Razão). O fio condutor do debate foi a relação de simbiose entre o proibicionismo e o sistema financeiro capitalista.
O tráfico de drogas movimenta cerca de U$500 bilhões de dólares por ano, segundo dados indiretos, algumas cifras chegam a quantia de U$ 1 trilhão. “O dinheiro não está nas favelas nem nos morros, faz parte do sistema financeiro e sustenta os grandes bancos”, continuou Arbex. Para ele, o discurso da guerra ao narcotráfico é vazio, pois os paÃses que se colocam como combatentes à s drogas fazem parte da corrente altamente rentável do tráfico, logo, resistem tanto à legalização.
O jornalista explicitou a relação do tráfico de drogas com o de armas. Jogou luz ao fato de que as cifras acerca do comércio de armas no Brasil são desconhecidas, e mantidas em segredo “por questões de segurança”, segundo a Taurus, uma das maiores fabricantes de armas no Brasil.”Ninguém controla o dinheiro que movimenta o narcotráfico, assim como ninguém controla o dinheiro que cintrola o tráfico de armas. Isso serve aos interesses do capitalismo”, continuou.
Carneiro explicou que o critério utilizado para determinar se uma determinada droga é ilÃcita ou não, é ligada a constituição da Ordem Internacional. Ou seja, um grupo de paÃses determina, por unanimidade, quais drogas devem ou não serem aniquiladas. “Não existe fundamento cientÃfico”, disse. Segundo ele, “a esquerda é cúmplice e agente da Ordem, cenário que aparentemenrente está de modificando”, completou.
Julio Delmanto trouxe à tona as consequências da polÃtica proibicionista implantada na denominada “guerra as drogas”. A proibição não só não resolve a questão, como promove o desenvolvimento das indústrias farmacêuticas e das clÃnicas particulares, a criminalização da pobreza, o encarceiramento em massa e as internações compulsórias. Para ele, a “delinquência útil”, forma taxativa pela qual os usuários são denominados, é um instrumento para gerar a ilegalidade, altamente lucrativa e instrumento de controle da população.
O mote da fala de Rosana Schwartz foi a presença das mulheres frente ao tráfico de drogas, “não se fala tanto, não existem trabalhos sobre o assunto”, disse. Segundo ela, há uma visão de que a mulher “é um ser que deveria ficar dentro de casa, mais propenso a ser degenerado”. Sua pesquisa consiste, entre outras vertentes, em ouvir as mulheres que se envolveram no tráfico e entender suas posições como sujeitos sociais em uma realidade proibicionista e higienista. “O amor e o medo de perder o marido, na maioria das vezes, é apresentado como o principal motivo da entrada para o tráfico, e a função subalterna na mulher no meio disso tudo é evidenciado”, completou.
O Brasil é um dos maiores exportadores de tabaco, de álcool e com uma indústria farmacêutica altamente lucrativa (alimentada pela indútria dos agrotóxicos e trangênicos), também é um dos paÃses com a polÃtica de drogas mais ferrenha. “As razões do proibicionismo embasam-se no puritanismo e no controle social da força produtiva. O mercado clandestino é essencial para a sobrevivência do capitalismo, a proibição agrega valor à droga e é um prêmio para os traficantes”, explicou Carneiro.