SÃO PAULO – O governo decidiu mudar o comando das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) no mesmo dia em que anunciou a realização da maior operação policial de combate e prevenção à criminalidade feita no Estado durante o governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Ao todo, mais 25 mil policiais, além do efetivo normal, estarão nas ruas do Estado – 8 mil somente na capital.
Para assumir o comando da Rota, o governo escolheu o tenente-coronel Nivaldo César Restivo. Trata-se de homem de confiança do secretário Antonio Ferreira Pinto, titular da pasta da Segurança Pública. Nivaldo, como é conhecido, substituirá o tenente-coronel Salvador Modesto Madia.
Madia foi a mais polêmica nomeação de Ferreira Pinto desde que assumiu a pasta, em 2009 – mais até do que Paulo Adriano Telhada, que tem 35 mortes em sua ficha. Isso porque pela primeira vez um réu no processo do massacre de 111 presos do pavilhão 9 da Casa de Detenção, ocorrido em 1992, assumia o comando da Rota. E Madia não era um réu qualquer: fazia parte do pequeno grupo acusado por 73 das 111 mortes ocorridas no presÃdio. Sob seu comando, a Rota prosseguiu como um dos principais instrumentos de combate ao crime organizado no Estado, como já ocorria desde 2009. Mas foi também nesse perÃodo que, pela primeira vez na história, uma equipe da Rota foi presa em flagrante sob acusação de executar um preso durante uma ocorrência policial. “Sempre atuei dentro da legalidade”, afirmou Madia no dia da prisão.
O governo decidiu transferi-lo para o 4.º Batalhão de Choque – responsável por outras unidades de elite da PM, como o Comando de Operações Especiais (COE) e o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) – no mesmo dia em que mudou de função outros 76 tenentes-coronéis. Alguns oficiais disseram, contudo, que a mudança já pode fazer parte de um plano do atual Comando-Geral de valorizar os cargos operacionais, que administram as tropas nas ruas.
Três vezes por ano, por promoções, a PM sofre grandes alterações no comando. Coronéis ouvidos pelo Estado disseram que grande parte dessa movimentação é normal. “O que pode não ser normal é a mudança na Rota”, disse um deles.
O secretário Ferreira Pinto afirmou que a saÃda de Madia da Rota é “um ato de rotina”. “Ele vai comandar uma tropa prestigiada.” E negou que a mudança tenha relação com recentes ocorrências, como a morte de nove acusados de pertencer ao Primeiro Comando da Capital (PCC) em Várzea Paulista, no dia 11, ou com problemas internos.
Na rua. Ferreira Pinto anunciou, no começo da noite de ontem, a decisão do governo de pôr toda a tropa na rua. “Até o pessoal que trabalha comigo no gabinete vai participar da operação”, disse. O mesmo deve acontecer com os homens da Casa Militar e das assessorias militares de tribunais e da Assembleia, além do pessoal que trabalha nas diretorias administrativas. Quatro helicópteros estarão no ar. “A partir de agora, vamos fazer essas operações sempre que possÃvel”, disse o secretário.
Criminalidade. Ferreira Pinto ressaltou que a operação estava sendo planejada havia 15 dias e negou qualquer relação com a divulgação de dados sobre a violência no Estado, ocorrida anteontem – com crescimento de 15,2% dos homicÃdios na capital e de 6% no Estado nos oito primeiros meses do ano, em relação ao mesmo perÃodo de 2011. A ação da PM deve ir das 14 horas à meia-noite.
SÃO PAULO – O novo comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Nivaldo Cesar Restivo, também estava presente no Massacre da Casa de Detenção, onde morreram 111 pessoas. Ele era 1º tenente do 2º Batalhão de Choque.
Durante a invasão, ele usava um revólver da marca Taurus, calibre 38, e uma metralhadora Beretta. O novo comandante da Rota não foi acusado de ter praticado homicÃdio, mas foi acusado de lesão corporal grave. Restivo é homem de confiança do secretário de segurança do Estado, Antonio Ferreira Pinto.
Restino substituiu o tenente-coronel Salvador Madia, que também foi denunciado na ação penal do massacre do Carandiru, que completa 20 anos no dia 2 de outubro. Madia deixou a função após o número de mortos pela Rota ter crescido 45% nos primeiros cinco meses deste ano em relação a igual perÃodo de 2011. No último dia 12, suposto confronto entre policiais da Rota e suspeitos de integrarem a facção criminosa PCC resultou em nove mortes numa ação em Várzea Paulista.
A reportagem procurou um advogado que defendeu Restivo no processo em 2007, mas não obteve retorno.
Até julho deste ano, as equipes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) se envolveram em ações violentas com intensidade não vista desde 2006, ano dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Conforme levantamento do Estado, publicado no dia 13, entre janeiro e julho, os confrontos com a Rota terminaram com 60 mortos – sete a menos do que em 2006.
Naquele ano, no entanto, os homicÃdios se concentraram em maio, mês dos ataques da facção criminosa, quando 47 pessoas foram mortas. Em maio deste ano, o Batalhão de Choque deixou um rastro de 17 mortos, em casos classificados pela Corregedoria da PM como resistências. É o número mais elevado em um único mês desde agosto de 2006, quando foram registrados 18 homicÃdios dessa natureza – ainda reflexo dos ataques do PCC.
Foi ainda em maio deste ano que a Rota, na tentativa de frustrar uma reunião sobre o resgate de um preso, trocou tiros com integrantes do PCC, na Penha, zona leste. Ao todo, seis suspeitos foram mortos. O caso veio à tona porque foi presenciado por uma testemunha.
Vale também destacar julho, perÃodo em que policiais militares em serviço (incluindo a Rota) mais mataram na capital nos últimos três anos.