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Outubro 01, 2012

Cordão da Mentira comove manifestantes no centro de São Paulo

SpressoSP

Bloco protesta contra as mortes nas periferias e os incêndios em favelas

Por Igor Carvalho

Débora Maria perdeu o filho em 2006, assassinado por policiais, segundo ela. (Foto: Igor Carvalho)

São Paulo – Os moradores de rua, no Largo General Osório, se levantaram de seu leito e deram passagem. As prostitutas na Luz, que não é a nova, cantaram junto. Bolivianos, no Largo São Bento, recolheram suas clandestinas mercadorias, do chão, para não atrapalhar. Os meninos descalços, no Largo São Francisco, pararam o futebol improvisado, queriam acompanhar. Todos, se sentiram representados.

Durou toda a tarde do último sábado (29), o 2° desfile do Cordão da Mentira, com o tema “Quando vai acabar o genocídio popular?”, e comoveu aproximadamente 300 pessoas que acompanharam o bloco, entre familiares de vítimas do Estado, artistas, estudantes, militantes de movimentos sociais de diversas regiões de São Paulo, além dos próprios músicos do bloco. O ato faz parte da semana de eventos que vai lembrar os 20 anos do “Massacre do Carandiru”, ocorrido em 02 de outubro de 1992.

O trajeto foi todo costurado como uma espécie de “manta do mal”, em que cada ponto em que se passava, era um nó, que se desatado, explicava uma prática adotada nas periferias contra a população pobre da cidade. O carnaval de luto começou na frente do Memorial da Resistência, antiga sede do DOPS. Selito, um dos coordenadores do Cordão da Mentira, explicou o enredo e o motivo de iniciar o ato naquele ponto: “Estamos diante de uma continuidade das práticas adotadas pela ditadura militar, ela não acabou. Nossos sambas, de hoje, vieram para a rua questionar essas práticas, há um genocídio na periferia, estão matando os pobres, os negros e os índios.”

O povo satiriza o Estado

Na sede do projeto Nova Luz, uma encenação apresentou um político que “preocupado” com “essa gente que chegou não se sabe de onde” e que causou “essa desordem e essa sujeira”. O político cenográfico resolve expulsar todos para “construir um país do futuro” e cria o projeto “Nova Luz”, a teatralização termina com vaias e gritos de “fascista” para o “político”.

Com pouco mais de dez minutos, os estandartes de desaparecidos da ditadura militar e as cruzes de assassinados nos crimes de maio de 2006 foram apresentados aos moradores da Ocupação Mauá, prédio ocupado há mais de cinco anos no bairro da Luz. Lá, em frente ao imóvel, o bloco parou. Montou-se um barraco de papelão e, em silêncio, todos acompanharam enquanto ele pegava fogo. A intervenção é uma clara crítica aos incêndios nas favelas de São Paulo, só no ano de 2012 foram 68. Em seguida, Selito, no carro de som, canta “Mil faces de um homem leal”, dos Racionais MC’s, acompanhado pelos gritos de “Marighella”. Nelson da Cruz Souza, o Nelsão, coordenador da ocupação Mauá, se disse emocionado e agradeceu a iniciativa: “Que bom, saber que eles estão aqui, o pobre tem sofrido muito nessa cidade, o Estado quer nos empurrar para as periferias e, lá, nos matar, como tem feito.”

Na sede da Secretaria da Segurança Pública, na rua Libero Badaró, mais silêncio. O grupo Mães de Maio deita suas cruzes e chora seus filhos. Um grupo de jovens, com os rostos maquiados a simular marcas de agressões, se espalha pela escada do prédio. Policiais se apressam em fechar o portão e passam a vigiar, de dentro, o ato. Manifestantes apontam o dedo e gritam “fascistas”, os policiais riem e debocham. Um ativista pergunta ao policial: “Quando a ditadura militar vai acabar?”, ele ri e responde: “Acabou faz tempo”. Do carro de som, alguém grita: “Quem não reagiu, está vivo”, em alusão a frase proferida pelo governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quando a Rota assassinou nove suspeitos em um sítio, em Várzea Paulista, interior do Estado.

No Fórum Hely Lopes Meirelles, as Mães de Maio lembraram os crimes que vitimaram seus filhos. “Ninguém nunca pagou pelas nossas lágrimas”, gritava Débora Maria, idealizadora do grupo. No ano de 2006, 493 pessoas morreram nas periferias do Estado, em ataques da Polícia Militar, após o Primeiro Comando da Capital (PCC) ter assassinado policiais.

O ato terminou na Praça da Sé. “Mas daqui para frente, é a insatisfação de cada um, é o desejo de mudança e que a luta continue”, disse Selito.

 

Mães protestam contra a violência policial

Brasil de Fato

Helena Fonseca, 50, e Vera Lúcia Andrade, 60, tiveram seus filhos mortos por grupos de extermínio da Polícia Militar; ambas participaram do 2º desfile do Cordão da Mentira, cujo tema foi “Quando vai acabar o genocídio popular?”

Helena Fonseca, 50, perdeu seu filho na véspera do dia das mães, em 5 de maio de 2011. Assassinado com 18 tiros na avenida Presidente Wilson, na Baixada Santista, Fábio Fonseca estava no carro com sua filha de 4 anos e sua esposa, Aline dos Santos, 30, grávida de 5 meses. Apenas sua filha sobreviveu.

No dia 17 de maio de 2006, Vera Lúcia Andrade, 60, passou pela mesma dor. Seu filho, Mateus Andrade, de apenas 21 anos, foi assassinado por grupos de extermínio próximo à sua residência, em Santos. Naquela época, os ataques deixaram mais de 500 pessoas mortas em apenas oito dias. Segundo as mães, os grupos de extermínio são ligados à Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ambos os processos ainda estão arquivados.

As mães, que são integrantes do Movimento Mães de Maio, coletivo formado por familiares de pessoas que foram vítimas da violência do Estado, participaram no sábado (29) do 2° desfile do Cordão da Mentira, com o tema “Quando vai acabar o genocídio popular?”.

Aproximadamente 300 pessoas acompanharam o bloco, entre familiares de vítimas do Estado, artistas, estudantes, militantes de movimentos sociais de diversas regiões. A marcha teve início na frente do Memorial da Resistência, antiga sede do DOPS – onde muitos presos políticos foram torturados durante a ditadura – , na região da Luz, centro da capital. Encerrou na Praça da Sé, entre lágrimas e gritos de indignação das mães.

O ato fez parte da semana de eventos que vai lembrar os 20 anos do “Massacre do Carandiru”, ocorrido em 02 de outubro de 1992.

Relato das mães

Por conta própria, Helena Fonseca começou a investigar a morte de seu filho. No carro, mesmo após ser periciado, a mãe diz que encontrou três balas que atravessaram o corpo de Fábio. “Levei as balas ao delegado e ele disse que os homens que mataram o meu filho eram profissionais. Logo depois disso, comecei a ser ameaçada pelos policiais”, aponta.

Segundo Helena, sua neta de 4 anos só não morreu porque se escondeu embaixo do banco traseiro. Fábio faleceu na hora e Aline minutos depois de ter sido levada ao hospital. “Nada foi feito até hoje”, diz Helena, indignada.

Vera Lúcia Andrade conta que seu filho, Mateus Andrade, foi à escola, mas retornou logo em seguida, pois não haveria aula devido aos ataques que estavam ocorrendo em Santos. Era o 5º dia de terror que a cidade vivenciava.

Mateus foi então a uma pizzaria, próxima de sua casa, junto com seu amigo Ricardo Porto Noronha, 17. De repente, começa um tiroteio. “Meu marido foi até a pizzaria para ver se encontrava meu filho. Ao chegar no local, encontrou Ricardo no chão, agonizando”, relata. Depois, seu marido ainda persistiu na procura de Mateus, e não demorou muito para encontrá-lo: ensanguentado no meio da rua. Ambos morreram, com tiros na cabeça e no pescoço.

Para ela, tudo leva a crer que foram grupos de extermínio da Polícia Militar, pois quando a viatura chegou, não foi atrás de ninguém. “Também viram os homens que estavam em duas motos se trocando no posto de gasolina. No dia seguinte, as mesmas motos se encontravam na 4ª Companhia da Polícia Militar”, diz a mãe.

A importância do ato, segundo as mães, é para que não caia no esquecimento da sociedade o que ocorreu e ainda ocorre nas periferias de São Paulo. “Tem gente que nem lembra o que aconteceu. Mas para nós não, está muito vivo na lembrança. É como se os nossos filhos tivessem morrido ontem. Não conseguimos digerir isso.”

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