FamÃlias com parente dependente de crack vão receber uma bolsa do governo do Estado de São Paulo para custear a internação do usuário em clÃnicas particulares especializadas. Chamado “Cartão Recomeçoâ€, o programa deve ser lançado na quinta-feira, com previsão de repasses de R$ 1.350 por mês para cada famÃlia de usuário da droga.
Segundo o secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, a proposta é manter em tratamento pessoas que já passaram por internação em instituições públicas. “São casos de internações em clinicas terapêuticas, pelo perÃodo médio de seis mesesâ€, afirma.
Os dez municÃpios que receberão o programa piloto devem ser definidos nesta quarta-feira. Ainda não há data para o benefÃcio valer em todo o Estado. As clÃnicas aptas a receber os pacientes ainda vão ser credenciadas, mas ficará a cargo das prefeituras identificar as famÃlias que receberão a bolsa. “Saúde pública é sempre para baixa renda. Os Caps (Centros de Atendimento Psicossocial das prefeituras) já têm conhecimento das famÃlias e fará a seleçãoâ€, diz Garcia, sem detalhar quais serão esses critérios.
Como antecipou o site da revista Época, o pagamento da bolsa será feito com cartão bancário. A ideia do Cartão Recomeço é ampliar a rede de tratamento para dependentes e, principalmente, a oferta de vagas para internar usuários. O trabalho desenvolvido pelo governo sofre crÃticas por causa da falta de vagas, especialmente após a instalação de um plantão judiciário no Centro de Referência de Tabaco, Ãlcool e Outras Drogas (Cratod), no Bom Retiro, centro da capital, ao lado da cracolândia – entre janeiro e abril, segundo o governo, cerca de 650 pessoas foram internadas após o atendimento no Cratod.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Ãlcool e Drogas na Faculdade de Medicina da Unifesp, que participou da criação do Cartão Recomeço, a vantagem do modelo é descentralizar o financiamento do tratamento. “Muitas famÃlias, mesmo de classe média, estouram o orçamento tentando pagar tratamento para o familiar dependente.â€
Com o cartão, diz Laranjeira, as famÃlias terão uma “proteção†para o caso de o parente ficar viciado. “A famÃlia poderá ter dinheiro para oferecer ajuda caso o dependente aceite uma internação.â€
Inspiração
O programa que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) vai lançar é semelhante ao desenvolvido em Minas. Apelidado de “bolsa crackâ€, o cartão de lá é chamado Aliança Pela Vida e dá ajuda de R$ 900.
A assessoria do Palácio dos Bandeirantes rejeitou o termo “bolsa crack†– segundo o secretário Garcia, o apelido é “maldosoâ€. O governo também ressalta que o recurso é carimbado e só pode ser sacado para pagamento em clÃnicas credenciadas. O plano envolve técnicos das Secretarias de Desenvolvimento Social, da Saúde e da Justiça. O pagamento sairá do orçamento da Secretaria de Desenvolvimento.
Estado dará R$ 1.350 por mês para cada paciente tratado em entidade credenciada
Objetivo é evitar que dependentes quÃmicos que passaram por hospitais públicos tenham recaÃdas
AFONSO BENITES DE SÃO PAULO
O governo de São Paulo vai pagar um tipo de “bolsa anticrack”, no valor mensal de R$ 1.350 por paciente, para tentar evitar que viciados que passaram por desintoxicação em hospitais e clÃnicas públicas tenham recaÃdas.
Cada beneficiado ganhará esse crédito para receber tratamento em entidades sem vÃnculo governamental que serão credenciadas pelo Estado a partir deste mês.
O paciente não receberá a quantia diretamente, mas ganhará um cartão magnético correspondente ao benefÃcio.
O cartão será usado para comprovar que os viciados passaram pelo atendimento nas comunidades terapêuticas (centros privados ou de ONGs que acolhem dependentes quÃmicos) que serão pagas pelo governo estadual.
O tempo máximo de internação será de seis meses.
O anúncio do programa deve ser feito amanhã pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). O Estado adotou outras ações nos últimos meses com a justificativa de combater a difusão do crack, mas que receberam crÃticas.
Por exemplo, a ocupação da cracolândia pela polÃcia e a possibilidade de internação compulsória de viciados.
A “bolsa anticrack” será chamada de Cartão Recomeço e foi baseada em um programa similar de Minas, também governado pelo PSDB.
Na primeira etapa devem ser distribuÃdos cerca de 3.000 cartões. Nos próximos dias, será lançado um edital para credenciar as primeiras 300 entidades. Os pacientes devem começar a receber tratamento a partir de julho.
Atualmente, cerca de 30 entidades, a maioria com caráter religioso, têm convênios no Estado (sem que haja cartão aos beneficiados).
Nas comunidades, os pacientes tratarão da abstinência, receberão qualificação profissional e vão se reaproximar de familiares e amigos.
“A ideia é preparar o ambiente para que ele possa viver longe das drogas, sem recaÃdas e perto da famÃlia”, disse Rodrigo Garcia, secretário de Desenvolvimento Social.
Em princÃpio, dez cidades de médio e grande porte terão comunidades credenciadas, como Campinas, São José dos Campos e Santos.
A pesquisadora Clarice Sandi Madruga, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), se diz preocupada com a escolha das instituições que receberão os usuários. Para ela, o tratamento não pode se basear no isolamento de pacientes em entidades religiosas. “Para não recair, o paciente precisa de um tratamento que pense em recolocá-lo na sociedade.”
Entre os estudos sobre a reincidência dos usuários de crack, um deles aponta que o Ãndice beira 40% em um ano.