COLETIVO DAR – Especial Congresso Internacional sobre Drogas
De acordo com a Anistia Internacional, durante o ano de 2011 foram executadas 276 pessoas em 20 paÃses que possuem pena de morte. No Brasil, onde a legislação não permite tal pena, durante o mesmo perÃodo foram mortas 961 pessoas em ações policiais. Com esse dado Orlando Zaccone, delegado da PolÃcia Civil do Rio de Janeiro, iniciou sua exposição na mesa “Guerra à s drogas no Brasil: impactos na sociedadeâ€, que dividiu com a professora de Direito da UFRJ Luciana Boiteux, no Congresso Internacional sobre Drogas, em BrasÃlia.
“Não temos só que mudar o nome ‘autos de resistência’, mas a sua própria essência jurÃdicaâ€, defendeu, questionando o procedimento padrão que junta os antecedentes criminais de quem é morto em suposto confronto com a polÃcia. “Isso é feito para que ele seja identificável como eliminávelâ€, critica: “Não é qualquer criminoso que perde a cidadania. Hoje no Brasil temos uma polÃtica para matar traficantes. Não é um discurso para resolver, é um discurso para matarâ€.
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E o que faz com que essas vidas sejam matáveis? Por que o impacto letal dessa guerra não sensibiliza a todos? Para Zaccone, autor do livro “Acionistas do nadaâ€, a explicação passa pelo discurso civilizatório e demonizador por trás da guerra à s drogas e pelo fato disso tudo acontecer dentro da burocracia estatal. “É o direito que mata essas pessoas!â€, afirma.
Para ele, a descriminalização do usuário não resolve o problema da letalidade da guerra à s drogas, e por isso ressalta: “Sou a favor da legalização da produção, do comércio e do consumo de todas as drogasâ€.
Luciana Boiteux afirmou que em relação à descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal, tem “confiança que o Supremo Tribunal Federal (STF) aprove isso, porque a criminalização é absolutamente inconstitucionalâ€. “Se não, a gente vai para a Corte Interamericana de Direitos Humanosâ€.
O recurso a que a Boiteux se refere, que está esperando para ser julgado no STF e possivelmente entrará em pauta ainda esse ano, foi impetrado pela Defensoria Pública de São Paulo, contestando a constitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas. O argumento é de que a conduta de um usuário de drogas não gera lesão ou risco a uma terceira pessoa, de modo que não faz sentido penalizar alguém ser penalizado por um “crime†cuja única vÃtima – se houver – é ela mesma.
 “Estamos beirando a volta de uma sociedade totalitáriaâ€, alertou a advogada e pesquisadora do NEIP, ao lembrar do retrocesso que o PL do deputado Osmar Terra (PMDB) representará caso seja aprovado. “A pena mÃnima de oito anos para tráfico que o PL sugere supera a pena para homicidaâ€, observou, destacando os presÃdios como “o local de depósito de pessoas da guerra à s drogasâ€.  Quase 30% das 550 mil pessoas atrás das grades no Brasil hoje estão presas sob acusação de tráfico de drogas.
 “A polÃtica proibicionista de drogas hoje é instrumento para encarcerar e internar cada vez mais genteâ€, constatou: “Não se iludam, o que está por trás disso é dinheiroâ€. E chamou a atenção de todos, ao encerrar sua fala, para “o movimento – ainda silencioso – da privatização dos presÃdios brasileirosâ€, que evidentemente tem tudo a ver com esse assunto.
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