Carta aberta do DAR ao MPL:
Temos orgulho de dividir as ruas com vocês!
O ano de 2011 foi importantÃssimo para a Marcha da Maconha. Proibida em São Paulo desde 2008, a manifestação foi agredida pela PolÃcia Militar no dia 21 de maio, em cenas que chocaram o paÃs pelo arbÃtrio e desumanidade. Estas cenas de agressão e violência institucional foram fundamentais para que conquistássemos nosso direito de livre expressão, salvaguardado pelo STF em junho daquele ano e, nesse processo e durante a consequente Marcha da Liberdade, que chegou a ocorrer em mais de 40 cidades em repúdio à violência policial, muitos ativistas do Movimento Passe Livre (MPL) nos ajudaram a manter o prumo nas ruas, auxiliando-nos de diversas e inestimáveis formas.
O que muita gente talvez não se lembre é que esse mesmo ano de 2011 iniciou-se com o MPL nas ruas numa longa jornada contra o aumento da passagem, que passara de R$ 2,70 para os atuais três reais – que voltaram a vigorar por conta da luta e da revolta deste ano. A violência da PM como sempre foi enorme, mas não suficiente para tirar a força e a dignidade desse movimento que, mesmo perdendo a batalha naquele momento, soube se reorganizar e se voltar para a formação e para o trabalho de base, retornando com toda força neste primaveril 2013.
Ainda em 2011, poucos dias antes da Marcha da Maconha, novamente o MPL teria papel fundamental ao articular o “Churrascão da gente diferenciadaâ€, que povocou as ruas de Higienópolis para questionar o racismo elitista de parte de nossa sociedade que não consegue conviver com o mÃnimo de direitos para os de baixo. Essa forma lúdica de mobilização foi bastante inovadora e influente naquele momento, e ajudou a dar força à articulação entre os movimentos autônomos da cidade, que aumentaria durante a Marcha da Liberdade e as movimentações que desaguaram no Acampa (e depois Ocupa) Sampa do fim daquele ano. Na virada para o ano seguinte, lá estavam de novo os movimentos em outro “churrascãoâ€, desta vez na “cracolândia†em protesto contra a “Operação Dor e Sofrimento†de Alckmin.
Frente aos acontecimentos deste mês de junho, com a população brasileira fazendo bandeira de sua digna raiva em todo o paÃs, o Coletivo DAR não poderia deixar de se pronunciar enviando um humilde salve ao MPL, quem sabe em retribuição a tantos sentimentos que a explosão das ruas impulsionada por eles nos trouxe. Muito nos honra poder compartilhar não só as ruas mas também uma série de princÃpios com o MPL e tantos outros movimentos, grupos e coletivos autônomos que se fortalecem cada vez mais em nossa cidade, sinalizando para a construção de um mundo onde finalmente caibam muitos mundos.
Não é por acaso que as principais mobilizações urbanas dos últimos anos tenham partido de movimentos com esse caráter anticapitalista, horizontal e apartidário. Tampouco é por acaso que a principal delas, ocorrida nesse ano e catapultada pela violência acéfala de nossa PM, tenha surgido por conta do MPL. Há tempos temos acompanhado e tentado aprender com as estratégias, com os acertos polÃticos e, sobretudo, com a extrema dedicação e coragem dos ativistas do MPL, e é evidente que as últimas vitórias não caÃram do céu, sendo fruto de muito planejamento, consciência, articulação e trabalho duro.
Dialogando sempre com movimentos e partidos diversos mas sem jamais perder a independência e uma saudável desconfiança, o MPL provou que não é através de eleições ou da canalização da revolta para as instituições estatais que se mudam as coisas nesses paÃs. Trabalhando horizontal e cotidianamente em periferias e escolas da cidade, o MPL mostra que quem planta vento pode sim colher tempestade, e que é de ação e ousadia que precisamos, não de lÃderes. Incendiando barricadas e a arrogância estatal, o MPL nos inspira a, cada vez mais, seguir lutando por um mundo sem opressões e catracas!
Juntos na luta, para o que der e vier,
Coletivo DAR
25 de junho de 2013