RIO – Amarildo de Souza foi submetido a choques elétricos e asfixiado com saco plástico. Segundo investigação da Divisão de HomÃcidios, que levou ao indiciamento de dez policiais militares pela morte do ajudante de pedreiro, Amarildo era epilético e não resistiu à sessão de tortura que ocorreu num dos contêineres da UPP. Ainda segundo o inquérito, o major Edson Santos e seus comandados pretendiam arrancar dele informações sobre a localização de armas e traficantes da parte baixa da favela, onde ele vivia com a famÃlia. Pelo menos, outros três moradores da comunidade denunciaram que foram torturados dentro da mesma unidade por policiais.
Dez policiais militares, da UPP da Rocinha, entre eles o major Edson dos Santos, foram indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Oficial formado pelo Bope, Santos era o comandante da unidade quando ocorreu o sumiço, em 14 de julho. E foi ele quem disse à famÃlia de Amarildo que o pedreiro teria deixado a sede da UPP, pouco depois de ter a identidade checada.
A partir do sumiço de Amarildo, foram instaurados quatro inquéritos na PolÃcia Civil. Enquanto a Divisão de HomicÃdios conclui a investigação sobre sua morte, a 15ª D (Gávea) apura outros casos de tortura que teriam acontecido durante as investigações da Operação “Paz Armadaâ€, e a Corregedoria de PolÃcia Civ investiga desvio de conduta durante os primeiros dias de investigações sobre desaparecimento do pedreiro, que levaram ao conflito entre o delegado titulada da 15ª DP, Orlando Zaccone e o seu ex-adjunto Ruschester Marreiros que chegou a pedir, em relatório, a prisão da mulher de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva.
A corregedoria da PM também apura paralelamente, inclusive, o desvio de recursos da UPP, que veio à tona em depoimentos colhidos na DH. A parte relacionada ao crime de apropriação indébita vai ficar com a PM.
O promotor do Ministério Público do Rio (MPRJ) Homero Freitas recebeu o inquérito da Divisão de HomicÃdios na noite desta terça-feira. Ele deve oferecer a denúncia à Justiça nos próximos dias.
Os policiais negam envolvimento no sumiço e dizem que liberaram Amarildo, no dia 14 de julho, depois de constatar que não havia qualquer mandado de prisão contra ele.
Para a sobrinha de Amarildo, Michelle Lacerda, que participou ativamente de campanhas para denunciar o desaparecimento do pedreiro, o caso servirá para que a polÃcia aprenda a respeitar moradores que vivem em comunidades pobres da cidade:
— A prisão desses policiais servirá para que entendam que na comunidade moram seres humanos, que também têm direitos e que sabem correr atrás para garantir o respeito a esses direitos — afirmou Michelle.
RIO -Dez policiais militares da UPP da Rocinha foram indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Entre eles está o major Edson dos Santos, que comandava a unidade no dia do desaparecimento, 14 de julho. Ele foi substituÃdo no inÃcio de setembro pela major Pricilla de Oliveira Azevedo. A informação foi dada com exclusividade ontem à noite pelo “Jornal Nacionalâ€, da TV Globo. O promotor do Ministério Público do Rio (MP) Homero Freitas recebeu o inquérito da Divisão de HomicÃdios na noite de terça-feira e deve oferecer a denúncia à Justiça nos próximos dias.
RIO — Um dia após o indiciamento de dez policiais militares da UPP da Rocinha no caso Amarildo, a famÃlia do ajudante de pedreiro desaperecido desde 14 de julho comemorou a decisão da polÃcia. Em entrevista ao G1, a mulher de Amarildo, Elisabete Gomes, relatou que a verdade ia aparecer.
– Eu poderia ter me calado, mas não fiz isso. Gritei para o mundo querendo uma resposta. Todos os amigos, familiares e moradores da nossa comunidade tinham fé que tudo iria ser resolvido. Eu sabia que a verdade iria aparecer. Estou me sentindo aliviada. Enfim, a Justiça começou a ser feita – desabafou Elisabete na manhã desta quarta-feira (2).
Segundo ela, os policiais agiram por “pura maldade”.
– Meu marido morava há 43 anos na comunidade e nunca teve problema com ninguém. Sempre se relacionou bem com todas as pessoas, nunca passou um dia fora de casa e não tinha inimigos. Quando ele sumiu, eu sabia que tinha sido pura maldade dos policiais – completou.
O advogado que representa a famÃlia de Amarildo de Souza, João Tancredo, comemorou a decisão da polÃcia.
– Achei o indiciamento bastante lógico, todo mundo sabia que a polÃcia sequestrou e matou o Amarildo – exaltou.
O advogado também afirmou estar aliviado pela polÃcia ter abandonado a linha de investigação que chegou a ser cogitada no inÃcio do processo, de que o pedreiro havia sido morto a mando de traficantes da comunidade.
– Chegou-se a conclusão de que a famÃlia sempre disse a verdade, ele foi morto na zona de tortura da polÃcia. O que é mais duro é que os moradores continuam em poder do tráfico e agora com a polÃcia violenta, que sequestra e mata – comentou o advogado.
Indiciamento
O inquérito que indicia os dez PMs, entre eles o major Edson Santos, foi entregue na noite desta terça-feira pela Divisão de HomicÃdios. Todos foram indiciados pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Os policiais negam qualquer envolvimento no sumiço.
O major Edson Santos é suspeito de desviar recursos para subornar testemunhas. Ele ofereceria uma mesada de até R$ 2 mil, para que duas pessoas atribuÃssem ao tráfico o sumiço de Amarildo. O dinheiro sairia de uma empresa que patrocina benfeitorias na comunidade e deveria ser utilizado para a padronização do serviço de mototáxi.
Os dois ex-moradores da favela teriam um apartamento alugado fora da Rocinha pelo major. Os dois chegaram a prestar depoimento na delegacia, acusando o tráfico do desaparecimento. Eles voltaram atrás e foram incluÃdos no Programa de Proteção à Testemunha, afirmando terem recebido o dinheiro do oficial da PM.
RIO – O major da PolÃcia Militar Edson Santos, ex-comandante da UPP da Rocinha, é suspeito de ter desviado recursos destinados à padronização do serviço de mototáxi na comunidade para subornar testemunhas, que, em troca de uma mesada de até R$ 2 mil, deveriam atribuir ao tráfico o sumiço do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. A informação foi levantada em meio à s investigações da Divisão de HomicÃdios (DH). O dinheiro é proveniente de uma empresa que patrocina benfeitorias na localidade.
Parte da verba de patrocÃnio, de cerca de R$ 30 mil mensais, teria sido empregada para corromper dois ex-moradores da Rocinha, para os quais o major teria alugado um apartamento fora da favela. Mãe e filho, que chegaram a prestar depoimento na DH acusando remanescentes do tráfico pelo desaparecimento de Amarildo, voltaram atrás e foram incluÃdos no Programa de Proteção à Testemunha. Em novos depoimentos, eles disseram ter recebido R$ 2 mil do oficial da PM, que, por sua vez, nega essa versão.
Apartamento fora da favela
A quantia, segundo as testemunhas, seria paga pelo major mensalmente para custear o aluguel e as despesas de mãe e filho. Para sustentar o esquema, o oficial teria deixado de repassar o valor do patrocÃnio aos mototaxistas. Esses recursos deveriam ser aplicados na padronização dos pontos, compra de uniformes e manutenção do serviço, que é o principal meio de transporte na comunidade.
A suspeita de que o major vinha desviando os recursos foi reforçada a partir do monitoramento da movimentação financeira do PM, que não tem rendimento compatÃvel para arcar com o pagamento dessas mesadas. Mãe e filho não foram os únicos corrompidos pelo esquema montado pelo major Edson Santos, que deverá ser indiciado também por corrupção ativa, improbidade, falsificação de provas e coação de testemunhas no curso da investigação. Após as testemunhas terem mudado seus depoimentos na DH, o oficial teria passado a ameaçá-las de morte.
Diante das ameaças, confirmadas nos depoimentos, a DH e o Ministério Público estão inclinados a pedir a prisão preventiva do major e dos soldados Douglas Roberto Vital Machado, conhecido como Cara de Macaco, Jorge Luiz Gonçalves Coelho, Marlon Campos Reis e Victor VinÃcius Pereira da Silva. Foram eles que levaram Amarildo, na noite de 14 de julho, à sede da UPP. Desde então, o pedreiro não foi mais visto. Conforme antecipado pelo GLOBO no último sábado, pelo menos os cinco PMs serão indiciados por sequestro seguido de morte, prática de tortura e ocultação de cadáver.
Para promotores que acompanham a investigação, a liberdade dos PMs pode gerar insegurança nas testemunhas durante o andamento do processo na Justiça. Embora pelo menos três pessoas já estejam sob proteção do governo federal, elas serão obrigadas a prestar novos esclarecimentos no decorrer da ação. Nesse cenário, o temor de represálias pode provocar mudança nas declarações das testemunhas.