Jéssica Santos de Souza,
de São Paulo (SP)
Familiares de vÃtimas da violência do Estado e ativistas de direitos humanos se reuniram no sábado (5), no Parque da Juventude, lugar que abrigava o complexo do Carandiru, na zona norte de São Paulo. O objetivo era discutir a desmilitarização da polÃcia e relembrar a morte dos 111 presos no episódio conhecido como Massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992. O ato encerrou a Semana contra a Democracia dos Massacres.
Michelle Lacerda, sobrinha do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, agradeceu a grande mobilização das pessoas em torno do caso de seu tio. “Se não fosse a solidariedade das pessoas que expandiram nossos gritos não terÃamos segurança para permanecer na Rocinha. Se nós (familiares do Amarildo) não fôssemos vistos, talvez serÃamos os próximos Amarildosâ€, afirmou.
Amarildo desapareceu no dia 14 de julho depois de acompanhar policiais até a sede da UPP da Rocinha para averiguação. Dez policiais tiveram a prisão preventiva decretada, incluindo o major Edson Santos – ex-comandante da UPP da Rocinha – e são sendo acusados de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.
O ajudante de pedreiro era conhecido como Boi pelos amigos e familiares, apelido que se refere a pé de boi, um trabalhador incansável e que encara qualquer tipo de serviço. Michelle contou que seu tio sempre mandava um beijo para ela toda vez que passava na frente de sua porta e reafirmou que Amarildo não tinha nenhum envolvimento com o tráfico, além de criticar a postura da PolÃcia Militar.
“Meu tio não era traficante, ainda sim, mesmo que ele fosse, a PM teria que prendê-lo e não matá-lo. Mesmo os traficantes, eles são cidadãos. Suas mães sentiram dor quando os pariram, não foram simplesmente cuspidos. Há um vÃnculo afetivo, tem uma famÃlia por trás dessas pessoasâ€, defendeu Michelle.
A bandeira comum entre os movimentos e os familiares das vÃtimas é a desmilitarização do Estado penal-militar. Para Danilo Dara, do movimento Mães de Maio, essa lógica penal-militar se volta somente contra a própria população e a desmilitarização tem que ser seguida por uma mudança que deve visar a justiça social e a afirmação de direitos. “Temos que por fim a essa lógica dos massacres. Temos quase 600 mil encarcerados. Destes, 25 a 30 mil são crianças e adolescentes, é fantasiosa a afirmação de que estes não cumprem penasâ€, completou.
Sidney Sales, sobrevivente do Massacre do Carandiru, também compareceu ao ato. Hoje ele preside cinco centros de reabilitação para dependentes quÃmicos. Ao final do encontro, participantes foram ao microfone e chamaram o nome de cada uma das 111 vÃtimas do massacre enquanto os demais respondiam com o grito de “presenteâ€.