Paciente da Associação Padre João Ceconello, considerada inadequada pela Justiça, morreu no domingo vÃtima de pneumonia
Morreu mais um paciente da Associação Padre João CeÂÂconello (APJC), em Campina Grande do Sul, na Região MeÂÂtropolitana de Curitiba. Maicon Arruda, 29 anos, já havia sido internado por estar com queimaduras geradas por exposição excessiva ao sol e veio a falecer vÃtima de pneumonia. No local, são acolhidas pessoas com graves comprometimentos de suas capacidades motoras, mentais e intelectuais. Arruda é o quinto paciente a morrer na associação, que já foi considerada pelo Ministério Público e pela própria Justiça como inadequada para atender os cerca de 80 internos transferidos de outro lar, de São José dos Pinhais, entre janeiro e fevereiro deste ano.
No dia 11 de setembro, no entanto, a desembargadora Dulce Maria Cecconi, que presidia interinamente o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), suspendeu a decisão liminar em primeiro grau que obrigava a Secretaria de Estado da FamÃlia e Desenvolvimento Social (Seds) a recolocá-los em um estabelecimento adequado, sob pena de alta multa diária em caso de descumprimento. Questionada pela Gazeta do Povo, na época, a própria Seds afirmou que não esperaria o final do processo judicial para resolver a situação.
Naquele despacho, a desembargadora argumentava que o estado já buscava soluções para o problema, fato que não se concretizou até agora e tem elevado o desespero das famÃlias que têm seus filhos lá abrigados.
Em setembro, a mãe de Maicon, Delourdes RoÂdrigues, dizia temer que a saúde dele piorasse. Segundo Delourdes, Maicon foi internado em um hospital da região na sexta-feira e morreu no domingo. “Me falaram que os últimos exames dele estavam todos bons e me ligaram domingo dizendo que ele morreu. Não me avisaram que ele estava internado. O Maicon tinha bronquite e deixavam ele pegando friagemâ€, afirmou a mãe.
Mãos atadas
A morte de Maicon não muda o foco do Ministério Público na ação civil pública que tenta transferir os pacientes há meses. Desde que a desembargadora deferiu o recurso da Seds, não há como recorrer à tribunais superiores. De acordo com o MP, o recurso usado pelo estado não permite alternativas em tribunais superiores. Então, se o TJ e o estado não forem sensibilizados e o julgamento do caso não for rápido, os pacientes podem permanecer na associação. É possÃvel que a ação vá ao pleno do TJ novamente, em um recurso local do MP. O assunto pode entrar na pauta do órgão especial do TJ na próxima segunda-feira. A decisão da desembargadora pode ser reavaliada neste caso.
A advogada da Associação, Cristiane Emmendoerfer, afirmou à reportagem que a transferência dos pacientes já está encaminhada. “Amanhã [hoje] vamos estabelecer o cronograma de retirada delasâ€, disse. Segundo a advogada, a Seds credenciou uma série de instituições que poderão recebê-las. Ela ressalta que até dezembro todas as 80 pessoas serão transferidas.
Veja o histórico de mortes na entidade:
12 março – Robson Kreutzer, 26 anos, morreu de enfarte em consequência de efeitos adversos de medicamentos;
17 março – Odair Padilha, 35 anos, morreu após se engasgar com um pedaço de cachorro-quente;
13 maio – Ana Cristina Alves, 36 anos, morreu em consequência do vÃrus HIV;
1.º junho – Thiago Moura, 25 anos, morreu afogado em um dos lagos da instituição;
3 novembro – Maicon Arruda, 29 anos, morreu de pneumonia.