Quase dois anos após iniciar uma operação policial no centro de São Paulo para tentar acabar com a Cracolândia, o governo do Estado decidiu mudar de estratégia mais uma vez e agora vai investir na ampliação dos leitos de comunidades terapêuticas para dependentes quÃmicos. Segundo Ronaldo Laranjeira, coordenador do Programa Recomeço, pelo menos 600 vagas serão abertas até o fim do ano. Hoje são cerca de 300.
“A ideia é iniciar um modelo social de recuperação. As comunidades terapêuticas são unidades mais abertas que os hospitais, nas quais o dependente vai reconstruir a vida dentro de uma estrutura social nova. É como se fosse uma famÃlia substituta”, explica Laranjeira.
Para ele, a operação de janeiro de 2012, na qual a PolÃcia Militar tomou a Cracolândia, não teve êxito porque não houve integração com as polÃticas de saúde. “A operação até conseguiu desorganizar o tráfico, mas não houve continuidade.”
Os leitos novos estarão em entidades privadas ou filantrópicas que farão convênio com o Estado. “Já temos entre 600 e 700 leitos pré-credenciados. Ainda não temos a confirmação do número final porque temos de checar as condições de infraestrutura e de documentação antes de finalizar o credenciamento. O pagamento é feito diretamente à comunidade, R$ 1.450 por mês por paciente.”
ClÃnica. O governo estadual também inaugura hoje, em Botucatu, no interior, a primeira clÃnica própria do Estado exclusiva para o tratamento de dependência quÃmica. Hoje, os leitos existentes são em alas psiquiátricas de hospitais gerais ou em unidades privadas. Vinculado ao Hospital das ClÃnicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, o Serviço Hospitalar e Ambulatorial de Referência em Ãlcool e Drogas vai atender adolescentes entre 12 e 18 anos.
A aparência da clÃnica é de uma pousada, cercada por bosques e gramados. Há uma área de lazer, com piscina, quadra de esportes e churrasqueira.
São 76 leitos, dos quais dez ficam na ala de desintoxicação, que recebe pacientes em crise ou situação de risco. O perÃodo de desintoxicação vai de três a cinco dias. Depois, o paciente segue para reabilitação.
O prédio tem um auditório com 60 poltronas e uma oficina de estética. “Vamos oferecer cursos de tudo o que for possÃvel: cabeleireiro, manicure, maquiador, cozinheiro, confeiteiro, garçom, jardineiro, horticultor. Eles vão ter a oportunidade de se ocupar e aprender”, diz Marly Thieghi de Mello, diretora do Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais), que engloba a nova unidade.
A unidade vai atender pessoas de Botucatu e de 67 municÃpios do entorno. O encaminhamento será feito pelas unidades de saúde, mas familiares de dependentes também podem procurar o serviço. “O perÃodo de internação pode chegar a 15 dias, mas o tratamento mesmo não tem prazo para terminar. A ideia é que, mesmo após deixar a unidade, o paciente volte sempre que quiser ou sentir que precisa de ajuda”, conta Marly.