• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Dezembro 13, 2013

Atrás do Uruguai, mais países questionam a guerra às drogas

IPS

Nações Unidas, 12/12/2013 – Enquanto o Uruguai se converte no primeiro país do mundo a legalizar a produção, venda e cultivo pessoal de maconha, na Organização das Nações Unidas (ONU) se fala cada vez mais em mudar a estratégia contra as drogas. Um rascunho interno do fórum mundial, que vazou no começo deste mês, revela intensos desacordos entre os países membros sobre a política da ONU em matéria de drogas.

O documento, divulgado pelo jornal britânico The Guardian e obtido pela IPS, contém mais de cem recomendações específicas para os países, muitas delas contrárias ao statu quo sobre proibição e erradicação de drogas. O texto afirma que cresce o descontentamento entre os governos e nos corredores das sedes da ONU em Nova York e Viena, onde o documento vazou do Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime (UNODC).

A Noruega, por exemplo, exorta os Estados a fazerem “perguntas relacionadas com a despenalização” e a realizarem “uma avaliação crítica do enfoque representado pela guerra contra as drogas”. O que “não é algo particularmente novo”, disse Kasia Malinowska-Sempruch, diretora do Programa Global de Política de Drogas da Open Society. “O novo é que estamos falando sobre isso. Creio que há uma espécie de fachada na ONU que diz: ‘somos uma grande família feliz’, mas essa não tem sido a realidade por anos”, apontou à IPS.

Em 1993, o México afirmou em uma carta à Assembleia Geral da ONU que, devido ao fato de “o consumo ser a força motriz da produção e do tráfico de drogas, a redução da demanda se converte na solução radical – ainda que de longo prazo – do problema”. Apesar de iniciativas políticas de redução de danos na América Latina e na Europa, as reformas dentro da ONU se veem freadas por dogmas de meados do século 20 e por serem regateadas constantemente entre seus membros.

Os preços das drogas caem e elas ficam mais puras a cada ano, enquanto os governos continuam gastando US$ 100 bilhões anuais em medidas de prevenção e castigo. A ONU estima que o tráfico de drogas cresceu para mais de US$ 350 bilhões por ano, e que até 2050 o número de consumidores aumentará 25%. No documento, a Suíça nota “com preocupação que a aplicação de leis repressivas pode obrigar os consumidores a se afastarem dos serviços de saúde pública em busca de ambientes ocultos”. Ali, “os riscos de overdose, infecções com hepatite C, HIV (vírus causador da aids) e outras doenças de transmissão sanguínea são muito altos”, alerta a Suíça.

Esse país apoiou no ano passado a proposta da Organização dos Estados Americanos (OEA) de realizar fóruns alternativos para discutir as políticas internacionais de drogas. A OEA denuncia abertamente o dano que os narcotraficantes – atraídos pelo voraz consumo na América do Norte e pelos elevados ganhos – causam em grande parte da América Latina. Em setembro, o presidente da Guatemala, Otto Pérez Molina, disse, na Assembleia Geral da ONU, que “a guerra contra as drogas não gerou os resultados esperados, e não podemos continuar fazendo o mesmo e esperar resultados diferentes”.

Entre as recomendações do rascunho que vazou, o Equador pede “esforços especiais para conseguir uma significativa redução da demanda”, e que as medidas de prevenção e castigo incluam “pleno respeito à soberania e integridade territorial dos Estados, ao princípio de não interferência nos assuntos internos dos países e nos direitos humanos”. “Os países estão sofrendo”, disse à IPS o representante da Guatemala nas Nações Unidas, Gert Rosenthal, “mas a eles se diz que devem fortalecer a proibição”.

Esse tipo de documento é reelaborado a portas fechadas, para ser convertido em recomendações unificadas de políticas. Nesse caso se procura apresentar uma declaração de consenso na Revisão de Alto Nível que a Comissão de Narcóticos realizará em março de 2014 em Viena, na Áustria. Esse encontro vai preparar o cenário para a Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU de 2016, quando se espera que os Estados Unidos tracem uma nova política a respeito de drogas para a próxima década.

O processo para obter consenso, que poderia dar um enorme controle aos já poderosos países favoráveis à proibição, como Rússia e Estados Unidos, sofre duras críticas, explicou Tom Blickiman, pesquisador do Transnational Institute, em Amsterdã, na Holanda. “Se um país bloqueia as reformas, podem ter êxito. Os países estão cansados, não deveria ser dessa maneira”, pontuou à IPS.

Nas negociações, a União Europeia fala em nome de todos seus membros, homogeneizando opiniões, disse Malinowska-Sempruch. “A voz de Portugal e de outros países mais progressistas é sufocada porque fazem parte de um bloco maior”, acrescentou. Um porta-voz da UNODC disse à IPS que não faria comentários sobre rascunhos de documentos nem sobre o processo de consenso.

Desde que a Convenção Única de 1961 sobre Narcóticos, fortemente influenciada pelos Estados Unidos, preparou o caminho para a moderna guerra contra as drogas, os países se esforçam para cumprir suas obrigações legais. Até hoje, a maioria ainda enfrenta o narcotráfico com os parâmetros desse pacto e da Convenção de 1971 sobre Substâncias Psicotrópicas. Os acordos exigiram dos países total proibição dos estupefacientes.

Segundo a convenção de 1961, certas plantas e seus derivados são considerados ilegais prima facie (à primeira vista). Mas, segundo a de 1971, que se aplica a drogas psicoativas e farmacêuticas produzidas em sua maioria no Ocidente, a proibição só cabe quando se demonstra o perigo da droga. Essa disparidade significa que, aos olhos do direito internacional, quem consome folha de coca nos Andes é tão digno de castigo quanto os consumidores de Oxycontin e metanfetaminas nos Estados Unidos.

“Algumas drogas foram endemoniadas e é difícil fazer o relógio retroceder”, argumentou Blickman. Nos Estados Unidos, a Lei Contra o Abuso de Drogas, de 1986, introduziu penas mínimas para os consumidores que garantiram à nascente indústria de prisões privadas um fluxo constante de detentos. E uma convenção da ONU de 1988, exigindo que os países signatários penalizem a posse de drogas, converteu os viciados em uma nova classe de criminosos internacionais.

Para países como o Uruguai, que no dia 10 aprovou um revolucionário regime de produção, venda e autocultivo legal de maconha, driblar os acordos internacionais pode ser um delicado jogo geopolítico. A nova lei uruguaia coloca todo o sistema sob controle do Estado e autoriza a  venda de até 40 gramas por mês a cada usuário, que será inscrito em um registro. Contudo, a Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (Jife), encarregada de supervisionar o cumprimento das convenções, alertou que a lei uruguaia “violaria a Convenção Única de 1961 sobre Estupefacientes”.

“Basta olhar para Suíça ou Alemanha, que têm locais onde se pode aplicar heroína, ou a Holanda com seus cafés, ou Portugal ou Uruguai, para notar que há países que pensam que deve haver políticas diferentes”, disse Malinowska-Sempruch. No entanto, enquanto esses países se destacam nas notícias (Portugal eliminou as penas para consumidores em 2001), nações pequenas temem desagradar Estados Unidos e Rússia, eternos doadores e membros com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.

Segundo a lei norte-americana, o Departamento de Estado deve publicar anualmente um relatório avaliando se os beneficiários da ajuda cumpriram as “metas e os objetivos” do acordo de 1988. “Nem todos os países se interessam por esse problema a ponto de se tornarem inimigos, porque sabem que necessitarão desses votos para o que realmente lhes interessa”, afirmou Malinowska-Sempruch. A maioria dos recursos da UNODC vem de Estados membros, que podem condicionar suas contribuições para “fundos com propósitos especiais”.

O governo suíço, que começou a oferecer tratamento com heroína para viciados em 2008, se retratou em uma entrevista coletiva dizendo que o documento que vazou é parte de uma sessão de “intercâmbio de ideias” e que “de forma alguma significa apoio ou tentativa de mudar as três convenções da ONU sobre drogas”. Embora a sessão de 2016 possa marcar um ponto de inflexão, para muitos a reforma ocorrerá nos fatos. Como os tratados internacionais existem simplesmente porque os países os cumprem, ignorá-los pode ser mais efetivo do que qualquer outra medida.

“Há margem na Convenção”, apontou Blickman. Se os países deslizam nele, a “Jife não poderá fazer muito além de proibir a entrada de certas drogas (farmacêuticas) para o país”, acrescentou. E se essa tendência continuar, a ignorada Jife pode acabar convertida em uma raridade de biblioteca. Em seu informe anual de 2010, a empresa de prisões privadas Corrections Corporation of America alertou seus investidores que qualquer mudança nas leis “sobre drogas e substâncias controladas ou sobre imigração ilegal pode afetar o número de pessoas presas, condenadas e sentenciadas, e, portanto, reduzir a demanda por instalações correcionais”. Envolverde/IPS

(IPS)

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos