• Home
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
  • Podcast
  • Quem somos
  • A razão entorpecida
  • Podcast
  • Chame o DAR pra sua quebrada ou escola
  • Fale com a gente
Julho 22, 2014

Fábio Hideki segue preso: porta aberta ao Estado de Exceção

Fábio Hideki x Raymond Whelan: o verdadeiro jogo da Copa

O Brasil já é campeão: “derrotou os pessimistas” e organizou a “Copa das Copas”. Mas a que preço?

Carta Maior

 

No dia 23 de junho, Fábio Hideki Harano, um cidadão brasileiro que tem emprego fixo – ele é empregado público na Universidade de São Paulo, onde também segue o curso de ciências sociais – foi preso sob a acusação de porte de explosivos e “associação criminosa”, tendo sido acusado, também, de ser um “black bloc”.

Apesar de todas as evidências negarem as acusações (estava sozinho em escadaria de estação do metrô quando foi preso; no ato da prisão não foi apresentado qualquer artefato explosivo que estivesse em sua mochila), Fábio foi preso “em flagrante delito” e depois, mediante decisão judicial que autorizou a prisão preventiva até o julgamento, que não tem data para ocorrer, foi transferido para o presídio de Tremembé, onde se encontram criminosos considerados de grande periculosidade.

A prisão de Fábio se deu no contexto da repressão às manifestações que propunham aproveitar a visibilidade da Copa para questionar os problemas ligados à preparação para o evento, tendo sido utilizada como forma de impedir que tais manifestações ocorressem, valendo lembrar que a atuação da Polícia em São Paulo, no dia 12 de junho, dia da abertura do mundial, se deu de forma violenta, chegando mesmo a proibir que uma manifestação fosse iniciada.

O fato concreto é que Fábio ainda está preso por uma opção política de sufocar o direito de manifestação, tendo como pretexto a viabilização da realização sem transtornos da Copa do Mundo da Fifa 2014.

A grande mídia não dá destaque ao fato. A sociedade em geral dele não tem conhecimento e se tem é levada a considerar que os manifestantes são inimigos a serem derrotados e que, portanto, a prisão se justifica. Aliás, muito já se tem dito sobre as vitórias sobre os pessimistas e que o Brasil já pode se considerar campeão, pois deu conta de organizar a “Copa das Copas”.

Mas, a que preço? Fábio está arbitrariamente preso. O Estado Democrático de Direito está suspenso em diversos aspectos, tendo se chegado ao cúmulo de que no dia 1º. de julho de 2014, na Praça Roosevelt, em São Paulo, um debate sobre a situação vivenciada por Fábio foi sufocado pela ação da tropa de choque da Polícia Militar, a qual, com contingente que chegava a três vezes o número de manifestantes, literalmente sitiou a praça e manteve ouvintes e debatedores sob a condição de criminosos.

As vitórias da seleção brasileira em campo, as belezas das partidas, a boa organização nos estádios, nada disso pode nos impedir de ver a completude dos fatos e de nos posicionarmos contra os absurdos cometidos para realizar e manter sob controle o evento, pois como muito bem pontuado por Pedro Abramovay, “Uma prisão como a de Fábio nos diminui enquanto democracia. O silêncio perante esta prisão nos diminui enquanto sociedade.”[1]

Deixando qualquer perspectiva eleitoral de lado, é de suma importância perceber o preço que a sociedade brasileira está pagando para realizar a Copa. Como venho advertindo há algum tempo, o que está em jogo é a vigência das instituições do Estado Democrático de Direito, sendo que a porta aberta ao Estado de Exceção não encontra limites e tende a possibilitar a utilização seletiva das estruturas de poder para a satisfação de interesses determinados, nem sempre revelados.

Vale reparar que o mesmo rigor jurídico não foi adotado com relação a Raymond Whelan, cidadão britânico, diretor da empresa Match, empresa associada à Fifa, que, segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, seria o chefe de uma quadrilha orquestrada para a venda ilegal de ingressos.

Whelan foi preso na segunda-feira em um quarto de hotel, tendo sido apreendidos consigo 82 ingressos dos jogos semifinais e final da Copa, além de outros aparelhos que seriam utilizados para a comercialização dos ingressos.

Num suspiro de euforia, como se o Estado de Exceção estivesse sido posto em questão, o jornalista Juca Kfouri, sempre atento às questões sociais ligadas ao esporte, chegou mesmo a dizer que a prisão de Whelan, que serviria para desmascarar a Fifa, exibindo mundialmente o seu esquema de câmbio negro, seria o maior legado da Copa no Brasil[2].

Mas a alegria durou muito pouco. Na madrugada de terça-feira, mediante decisão judicial que autorizou o pagamento de fiança, Whelan já estava solto.

Segundo o Delegado responsável pela operação, Fábio Barucke, a soltura de Whelan “faz parte do processo democrático”, mas ressaltou: “as provas não foram analisadas pela Justiça”[3].

O resultado é que Fábio, um jovem que tem como característica principal a solidariedade, que se dispõe a lutar pela efetividade de direitos alheios e que vislumbra o seu papel na construção de uma sociedade melhor para todos, está preso há 16 (dezesseis) dias, enquanto Whelan, contra quem se diz existirem provas contundentes de participação em um esquema de venda ilegal de ingressos, que chegaram a ser comercializados por R$35.000,00 (trinta e cinco mil reais), não ficou preso mais que poucas horas.

Os fatos acima narrados não ocorreram por acaso. Estão interligados e revelam que no verdadeiro jogo da Copa, Whelan, Fifa e Estado de Exceção estão derrotando de goleada Fábio, sociedade brasileira e Estado Democrático de Direito.

Nesse contexto, o jogo do Brasil contra a Alemanha é apenas um detalhe sem maior relevância…

___________

Jorge Luiz Souto Maior é professor livre-docente da Faculdade de Direito da USP e Juiz do Trabalho.

[1]. http://www.brasilpost.com.br/pedro-abramovay/fabio-hideki-harano-um-preso-politico_b_5549277.html?utm_hp_ref=brazil

[2]. http://www.viomundo.com.br/denuncias/juca-kfouri-desmascarar-fifa-o-maior-legado-da-copa-brasil.html

[3]. http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2014/07/08/solto-pela-policia-diretor-da-match-continuara-a-trabalhar-na-copa.htm

Comments

comments

Nos ajude a melhorar o sítio! Caso repare um erro, notifique para nós!

Recent Posts

  • NOV 26 NÓS SOMOS OS 43 – Ação de solidariedade a Ayotzinapa
  • Quem foi a primeira mulher a usar LSD
  • Cloroquina, crack e tratamentos de morte
  • Polícia abre inquérito em perseguição política contra A Craco Resiste
  • Um jeito de plantar maconha (dentro de casa)

Recent Comments

  1. DAR – Desentorpecendo A Razão em Guerras às drogas: a consolidação de um Estado racista
  2. No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime em No Grajaú, polícia ainda não entendeu que falar de maconha não é crime
  3. DAR – Desentorpecendo A Razão – Um canceriano sem lar. em “Espetáculo de liberdade”: Marcha da Maconha SP deixou saudade!
  4. 10 motivos para legalizar a maconha – Verão da Lata em Visitei um clube canábico no Uruguai e devia ter ficado por lá
  5. Argyreia Nervosa e Redução de Danos – RD com Logan em Anvisa anuncia proibição da Sálvia Divinorum e do LSA

Archives

  • Março 2022
  • Dezembro 2021
  • Setembro 2021
  • Agosto 2021
  • Julho 2021
  • Maio 2021
  • Abril 2021
  • Março 2021
  • Fevereiro 2021
  • Janeiro 2021
  • Dezembro 2020
  • Novembro 2020
  • Outubro 2020
  • Setembro 2020
  • Agosto 2020
  • Julho 2020
  • Junho 2020
  • Março 2019
  • Setembro 2018
  • Junho 2018
  • Maio 2018
  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012
  • Novembro 2012
  • Outubro 2012
  • Setembro 2012
  • Agosto 2012
  • Julho 2012
  • Junho 2012
  • Maio 2012
  • Abril 2012
  • Março 2012
  • Fevereiro 2012
  • Janeiro 2012
  • Dezembro 2011
  • Novembro 2011
  • Outubro 2011
  • Setembro 2011
  • Agosto 2011
  • Julho 2011
  • Junho 2011
  • Maio 2011
  • Abril 2011
  • Março 2011
  • Fevereiro 2011
  • Janeiro 2011
  • Dezembro 2010
  • Novembro 2010
  • Outubro 2010
  • Setembro 2010
  • Agosto 2010
  • Julho 2010
  • Junho 2010
  • Maio 2010
  • Abril 2010
  • Março 2010
  • Fevereiro 2010
  • Janeiro 2010
  • Dezembro 2009
  • Novembro 2009
  • Outubro 2009
  • Setembro 2009
  • Agosto 2009
  • Julho 2009

Categories

  • Abre a roda
  • Abusos da polí­cia
  • Antiproibicionismo
  • Cartas na mesa
  • Criminalização da pobreza
  • Cultura
  • Cultura pra DAR
  • DAR – Conteúdo próprio
  • Destaque 01
  • Destaque 02
  • Dica Do DAR
  • Direitos Humanos
  • Entrevistas
  • Eventos
  • Galerias de fotos
  • História
  • Internacional
  • Justiça
  • Marcha da Maconha
  • Medicina
  • Mídia/Notí­cias
  • Mí­dia
  • Podcast
  • Polí­tica
  • Redução de Danos
  • Saúde
  • Saúde Mental
  • Segurança
  • Sem tema
  • Sistema Carcerário
  • Traduções
  • Uncategorized
  • Vídeos